São Paulo, domingo, 30 de Maio de 1999

Jovem vai demorar mais para entrar no mercado...

ADOLESCENTES TÊM DE ESTUDAR CADA VEZ MAIS PARA CONSEGUIR EMPREGO

MAURICIO ESPOSITO
da Reportagem Local
Analistas, economistas e consultores especializados em trabalho são unânimes em apontar como tendência para o futuro a entrada tardia do jovem no mercado, independentemente da origem e do grau de desenvolvimento do país.
Na União Européia, por exemplo, 44,3% da população entre 15 e 24 anos tinha emprego em 1985. Em 1997, esse percentual caiu para 35,9%. Nos Estados Unidos, mesmo com o crescimento contínuo da economia, a tendência é a mesma. Em 1985, 53,4% da população norte-americana entre 15 e 24 anos exercia alguma ocupação remunerada. Há dois anos, registrava-se um pequeno declínio nessa proporção: 52% das pessoas nessa faixa etária tinham emprego.
Esse processo fica ainda mais evidente se a comparação recuar no tempo. No começo da industrialização, há mais de 200 anos nos países centrais ou neste século nas economias emergentes, era comum a existência de jovens de 12 anos dando expediente nas linhas de produção das fábricas.
A massificação e a valorização da educação nesse século e a crescente demanda por profissionais cada vez mais qualificados são dois fatores que contribuem para a manutenção dessa tendência.
Desde o início deste ano, a legislação brasileira proíbe os menores de 16 anos de trabalhar. Antes, a Constituição permitia o trabalho a partir de 14 anos.
De maneira geral, esse movimento é tido como positivo, pois ajuda a elevar ou manter elevados os níveis de escolaridade, o que pode ter reflexos positivos sobre o nível de emprego no futuro. Ele passa a ser um problema para as camadas menos favorecidas da população, onde começar a trabalhar precocemente, mais do que uma opção, é uma questão de sobrevivência.
Para atender a essa necessidade e permitir também uma entrada gradual no mercado (se possível conciliando estudo e trabalho), alguns países europeus procuram viabilizar a inserção dos jovens no mercado de trabalho.
Alemanha e Áustria, por exemplo, têm estruturas de aprendizado profissional por meio de escolas técnicas que desenvolvem parcerias com empresas privadas. O governo da França, por sua vez, concede bolsas para jovens desempenharem atividades comunitárias ou na administração pública.
Relatório da Comunidade Européia feito no ano passado ressalta que a criação de empregos para os jovens está diretamente relacionada ao crescimento da área de serviços e da jornada parcial de trabalho, que permite mantê-los estudando enquanto ensaiam os primeiros passos no mercado.
Além disso, manter o jovem na inatividade por mais tempo tem custos para a sociedade _mais vagas nas escolas precisam ser criadas, por exemplo. E seria inviável estender para a maioria da população a escolaridade regular até o nível de pós-graduação, avalia o professor do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), Álvaro Comin.

 

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