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EU
VI
"Na greve de 1917,
a polícia
batia em todo mundo"
LEONARDO CRUZ
da Redação
"O mundo evoluiu muito, mas, ao mesmo tempo, não evoluiu
nada."
Essa é a maneira como o ex- metalúrgico Armando Suffredini,
91, vê o final do século 20. Para ele, a evolução
tecnológica alterou radicalmente a forma das coisas, mas,
para quem é pobre, a vida continua tão difícil
quanto nas primeiras décadas do século. Filho de imigrantes
italianos, Suffredini nasceu no Brás (região central),
na rua Santa Cruz (atual Ipanema), e começou a trabalhar
aos 9 anos.
Dessa época, ele se recorda da greve promovida pelos anarquistas
em 1917, que paralisou o operariado paulistano. "Ninguém
podia sair de casa. A polícia vinha e batia em todo mundo."
Suffredini entrou para a metalurgia aos 13 anos, em 1921, e só
saiu em 1965, para se aposentar. Durante 37 anos trabalhou na linha
de montagem da Lerape, pequena indústria de armas do Brás.
Em 1932, participou da fundação do Sindicato dos Metalúrgicos
de São Paulo, integrando sua primeira diretoria. Leia a seguir
a entrevista feita na casa de uma de suas duas filhas, no Tatuapé,
em São Paulo, onde ele vive atualmente.
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EU
INVENTARIA...
...a roupa
homeotérmica
Paulo
Lins,
escritor
Uma mesma roupa que fosse capaz de manter a temperatura do nosso
corpo constante no verão e no inverno. Um tecido que nos mantivesse
aquecidos quando fizesse frio e que nos refrescasse no calor.
Sempre pensei nisso, desde pequeno, e é algo que eu sempre quis
que fosse inventado.
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Folha - O que o sr. fazia quando começou a
trabalhar?
Armando Suffredini - Meu pai mexia com comércio de vassouras.
Para ajudar, eu e meu irmão mais velho pegávamos algumas
vassouras e íamos vender nas feiras livres.
Folha - O sr. se lembra da greve dos o-perários de 1917?
Suffredini - Me lembro bem. Eu ficava na casa de meus avós,
na rua Barão de Ladário (Brás). Minhas tias trabalhavam
na Fiação e Tecelagem Juta Santana, ali perto. E elas
entraram na greve. Pararam também. Aquela greve foi dura. A
gente nem podia sair de casa. Da janela da casa da minha avó,
assisti muita cavalaria na rua batendo nas pessoas. Os trabalhadores
apanharam. A polícia vinha batendo em quem estivesse na frente.
Quem corria ainda conseguia se esconder.
Folha - Como era sua rotina de traba-lho na metalúrgica?
Suffredini - Sempre trabalhei na linha de montagem. Entrei como ajudante
e depois fui subindo de posto. Quando comecei, a gente entrava na
firma às 7h. Trabalha até 11h30. Tinha uma hora e meia
de almoço. Depois voltava e ficava até as 18h. Não
tinha muito tempo para lazer, não.
Folha - E naquela época alguma mulher trabalhava com vocês?
Suffredini - Não. Só tinha homem. Nas décadas
de 20, 30, as mulheres ficavam sempre em casa. Só tinham mulheres
trabalhando em tecelagens, ou então como costureiras. Minha
esposa era costureira. Hoje as mulheres fazem tudo, trabalham até
como metalúrgicas. Acho isso bom. E precisa, né?!
Folha - Como foi a fundação do Sindicato dos Metalúrgicos
de São Paulo?
Suffredini - Os sindicatos em São Paulo se formaram com o apoio
do governo da Revolução de 30. Foi o Ministério
do Trabalho do Getúlio (Vargas) que estimulou a fundação
do sindicato dos metalúrgicos. E havia um grupo de trabalhadores
interessados em fazer alguma coisa. Preparamos as atas e fizemos um
comunicado, que mandamos para os companheiros das fábricas
que conhecíamos, dizendo que no dia 27 de dezembro seria realizada
uma assembléia. Reunimos cerca de cem pessoas, num lugar na
Lapa, perto da fábrica dos Matarazzo.
Mas o difícil não é fundar o sindicato, mas levá-lo
para frente. Nós íamos para o serviço durante
o dia e à noite íamos para o sindicato.
Folha - O sr. participou de muitas greves de metalúrgicos?
Suffredini - Participei de algumas, organizadas pelo sindicato. Fizemos
uma greve também dentro da Lerape, pouco antes de eu me aposentar,
em 1964. A firma estava com problemas e parou de pagar os funcionários.
Então, nós ocupamos a fábrica. Ficamos lá
durante cinco dias. Tudo parado, ninguém fazia nada. Depois
de cinco dias, voltamos a trabalhar, mas abrimos um processo contra
a firma. Eles chegaram a pagar, mas depois a empresa se desfez.
Folha - Foi a mais importante?
Suffredini - Não. A greve mais importante foi a de 1953. Todo
mundo parou, nossa firma entrou, o pessoal da Matarazzo entrou. Aquela
greve foi um colosso. Queríamos aumento de salário.
Foram mais de 20 dias de paralisação. Algumas pessoas
acabaram presas.
Folha - E como acabou?
Suffredini - Acabou quando soltaram os trabalhadores presos. Fomos
todos comemorar em marcha até o hipódromo da Mooca.
Folha - Conseguiram o aumento?
Suffredini - Sabe como é, para trabalhador é sempre
aquela coisa. Vai, não vai. Sempre dificultando tudo. Até
deram um aumento depois, mas foi pouco. Aumento para trabalhador sempre
é pouco. O sr. não vê? Outro dia, aumentaram o
salário (mínimo) em R¸ 6. O que se faz com R¸
6? Nada. Enquanto o trabalhador ganha isso, o capitalista ganha dez,
20, 30 vezes mais. Quem tem pouco sempre perde. E para ganhar alguma
vez é difícil. E isso é por culpa de quem tem
muito. |
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