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Fashionista
Verão 2001
Modas de mulher
Entrevista
Chapeleiro
Cultura fashion
nas ruas
Alexandre
Herchcovitch
Moeda do luxo
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Moda cria conceitos, glamour e espírito à
distância
calculada da economia
Moeda
do luxo
Reuters
- 25.fev.2000
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Colette
no desfile da Prada
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VINICIUS
TORRES FREIRE
EDITOR DE DINHEIRO
A moda rediviva do luxo extremado e a hiperostentação seriam
um reflexo dos tempos? De um desejo disseminado de possuir, do novorriquismo
global? Ou do bom senso mercantil de inventar um consumidor, de criar
um desejo de luxo entre uma clientela potencial cada vez mais rica e em
expansão, na era da grande riqueza americana?
Óbvio, a moda é luxo, depende da riqueza. Mas, até
nesta era de individualismo obsessiva e ineditamente monetária,
mesmo uma disposição de consumir, ou as idéias e
conceitos que a embalam, não são diretamente determinadas
pelo que passa na economia.
De resto, o que era alta moda mudou muito nos últimos 20 anos:
tornou-se tanto mais comercial quanto menos comercial ela parece ou pode
ser. A moda não é mesmo para ser vendida _por ser uma idéia
apenas. Ou não pode ser vendida _pois é cara demais.
A moda dos desfiles é um caro anúncio comercial de grandes
conglomerados, os quais carregam uma enorme linha de produtos, de cosméticos
a acessórios. O que aparece no mostruário dos desfiles não
é produzido em escala, não dá dinheiro. O dono do
argumento é Bernard Arnault, da Louis Vuitton Moët Henessy,
conglomerado que arrebanhou empresas familiares de luxo, acabando com
a fantasia do artesanato total nessa área.
Considere-se a Gucci, moribunda há apenas cinco anos, então
relegada aos inexpertos em consumo de elite, e atual estrela do superluxo,
triplicou sua verba de propaganda a fim de sair da falência, do
descrédito, de refazer sua imagem.
De resto, além de não ser vendida, moda não é
feita, em si, para vender. Nos últimos 20, 30 anos, o que era alta-costura
passou por um processo de autonomização e de ruptura com
o público, como ocorreu com as artes há 100 anos, mas em
versão caricata e degradada.
Isto é, por meio do próprio vestuário o estilista
passou a discutir o vestuário. O importante não era mais
vestir, mas falar, por meio das roupas, sobre vestir, entre outras coisas.
Tornou-se a moda uma caricatura de arte conceitual. Palavras como desconstrução
aparecem na crítica de moda. Estilistas como Hussein Chalayam fazem
desfiles de antimoda, por assim dizer: com pessoas nuas. Em parte, a moda
mais do que nunca passa a se reinventar sozinha, algo à margem
de imposições da realidade.
Se os conceitos de moda vivessem só de ciclos econômicos,
uma versão revista e melhorada da moda para atender ao yuppismo
reaganiano, dos anos 80, teria sido posta em circulação
assim que acabou o ciclo recessivo do início dos 90, para ficar
num exemplo banal. Enfim, o boom de Bill Clinton foi também uma
retomada explícita da festa da finança global iniciada nos
80. Mas o conceito, a propaganda do luxo não aparece só
após uma década de extrema bonança norte-americana?
Há hoje de fato enorme criação e significativa concentração
de riqueza, que se espalha entre grupos sociais algo diversos daqueles
que tradicionalmente sustentaram o luxo, da aristocracia à burguesia.
Técnicos e administradores globais, em especial na finança
e na alta tecnologia, são os novos-ricos. Não são
bem proprietários tradicionais, não são novos-ricos
tradicionais _mas são extraordinariamente ricos e numerosos.
O boom do luxo poderia ser talvez um chamariz momentâneo, um sinal
de que a grande indústria da moda se reorganizou, se fundiu e reestréia
com um gigantesco anúncio para captar a grande clientela global
que vai chegando ao mercado global.
Mas, mesmo conectados nas redes de comunicação ou habitantes
de cidades mundiais, eles têm necessidades à maneira do consumidor
de world music, todas muito iguais, mas com variações de
layout. Uma tendência unívoca de gosto não os satisfaria,
nem todos buscam afirmação social por meio da ostentação.
Os conglomerados globais do luxo têm cada vez mais precisas estratégias
de marketing para estratificar seus produtos, garantir exclusividade a
linhas destinadas aos privilegiados, agregar glamour ao resto das suas
marcas e vender, na maior escala possível, o que puder. Mesmo que
para isso, para manter sua marca e seu prestígio, tenha de deixar
correr soltas tendências que parecem por vezes ignorar o próprio
caráter da clientela. Agora, incitam o desejo do luxo com luxo.
Mas o que vão fazer no ano que vem?
Leia mais: O mercado do Brasil e o mundo
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