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O mercado do Brasil e o mundo

Reuters - 25.fev.00
Angela Lindvall no desfile Versace

ELIANA TRANCHESI
ESPECIAL PARA A FOLHA

A oferta está do tamanho da demanda: já se encontra aqui praticamente tudo o que se encontra lá fora. Começamos com importados em 91, logo que eles foram liberados. Tentamos trazer todas as marcas para as quais acreditávamos haver mercado aqui e, aos poucos, fomos conseguindo.

A Chanel foi um namoro longo. O diretor Alan Kovalick veio várias vezes ao Brasil. Com 30 propostas de lojas na mesma rua, decidiu-se pela Daslu. Na época de abertura, o presidente da Chanel esteve aqui e disse que a maison costumava acreditar em pessoas e não em locais bons.
Havia acreditado na equipe Daslu. Hoje, todos estão felizes porque o mercado cresceu muito e somos a maison que mais fatura por metro quadrado no mundo!

As crises econômicas nos atingem, é lógico, mas temos nos adaptado a elas e o crescimento não está sendo comprometido. Sentimos muito a crise da desvalorização do Real, em janeiro de 99, porque nossas compras são feitas com oito meses de antecedência e não havia como ajustá-las à realidade de um dia para outro.

Ficamos com um estoque mais alto, mas como havíamos aumentado o espaço físico da loja, conseguimos superar as dificuldades. Fomos obrigados a elevar o número de computadores e funcionários e dispor melhor as roupas.

Estamos no mercado há 43 anos e, desde que comecei, escuto do meu pai que devo ter cuidado, porque “este ano será um ano de crise”. Temos tido sucesso e crescimento nesses anos todos, talvez porque nunca tenhamos nos acomodado. Acho que o mercado já está mais estável e hoje podemos pensar com mais exatidão nos próximos meses.

A imagem do Brasil, que andava muito bem, machucou-se um pouco com a crise de 99, mas as pessoas já voltaram a confiar em nossa economia _embora eu não esteja acreditando num crescimento exagerado do mercado.

Comercializamos aproximadamente 80 marcas, para homens, mulheres e crianças. A venda dessas coleções acontece em épocas diferentes. Para as compras do setor feminino, há quatro grandes temporadas de desfiles em Paris (duas de alta-costura e duas de prêt-à-porter). Na primeira semana de moda em Nova York acontecem os desfiles americanos. Logo depois, começam as campanhas de vendas nos show-rooms, onde compradores do mundo todo encontram-se em calendário apertadíssimo.

Compramos aquilo que acreditamos ter de melhor em cada coleção e que melhor adapte-se ao nosso país. Assim, temos conquistado cada vez mais público, pois a brasileira tem se identificado com nossos produtos. As compras em Milão são feitas na semana seguinte. Na seqüência, vamos a Paris, onde, por mais de uma semana, assistimos a desfiles e fazemos os pedidos nos show-rooms.

As coleções ficam prontas cerca de cinco meses depois, quando são embarcadas para o mundo todo. O que acontece é que sempre estamos seis meses à frente de cada estação do Brasil. Agora estamos vendendo o verão europeu enquanto vivemos o inverno.

Além dessas duas estações de compras, temos as pré-coleções (junho para verão e fevereiro para inverno). Somos obrigadas a viajar oito vezes por ano para conseguir assistir a todas as apresentações e fazermos os pedidos exatos. A vantagem é que acabamos conhecendo todos os compradores do mundo e trocamos muita informação sobre o que é novo, o que virá, o que não funciona...

Com a chegada dos criadores internacionais, nossa moda ficou mais autêntica _menos inspirada nas de fora. Temos talentos verdadeiros fazendo verdadeiras criações e não cópias.

ELIANA TRANCHESI é uma das sócias da butique Daslu, na Vila Nova Conceição (zona sul de São Paulo)


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