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A editora inglesa Isabella Blow explica sua influência no mercado e fala de seus novos protegidos brasileiros


Fada madrinha fashion

Carlos Emílio - fev.2000
Isabella Blow olha uma bolsa do estilista Fause Haten, no último MorumbiFashion Brasil

CAROLINA DELBONI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Ela veio ao Brasil pela primeira vez em fevereiro e causou o maior falatório no mundo fashion. Passeia com chapéus do estilista Phillip Treacy, em modelos exuberantes, e é capaz de chamar a atenção aonde quer que vá. Isabella Blow, diretora de moda do jornal inglês “The Sunday Times” e stylist habitual de revistas como “Vogue” e “The Face”, vem ao Brasil neste mês pela terceira vez. “O Brasil está pronto e a hora é agora”, disse Isabella Blow à Folha por telefone, de Londres, na semana passada.

*

Folha - Como você teve o primeiro contato com o Brasil ?
Isabella Blow - Vi o trabalho de um fotógrafo brasileiro, chamado Daniel Klajmic, e fiquei impressionada. Achei fantástico ver como os brasileiros expressam a moda. Era uma aliança entre a criação do estilista e a forma como foi mostrada pelo fotógrafo. Ele é novo e vê o novo. Isso me fez querer ir ao Brasil para ver a moda de perto.
Folha - E o que você achou do que viu?
Blow - Fascinante! Fiquei muito impressionada, não esperava. Já estive em vários lugares do mundo assistindo a desfiles, mas nunca tinha visto algo tão expressivo.
Folha - O que mais chamou sua atenção?
Blow - Acho que essa mistura de lugar bonito, pessoas simpáticas e atenciosas, o ar... E a estrutura do evento (o MorumbiFashion Brasil). Mas o que mais me chamou a atenção foram alguns estilistas em especial. Achei muito divertidas as perucas que Alexandre Herchcovitch usou em seu desfile, os vestidos pretos do Walter Rodrigues, o luxo, os sapatos e o tratamento dado aos tecidos por Fause Haten, mesclado a um contorno físico muito bonito e sensual, e os vestidos de organza do Reinaldo Lourenço. Agora, só visto estilistas brasileiros.
Folha - O que você mais tem no seu armário e do que mais gosta?
Blow - É difícil, tenho um pouco de cada um deles. Acho o trabalho do Alexandre Herchcovitch intrigante. A ida dele à temporada em Paris é fruto dessa emoção e personalidade forte que transmite em suas roupas. Ele busca uma mudança em direção ao novo e quebra as regras. Isso é Londres! Isso fascina as pessoas. Elas olham e querem ter. Suas roupas são um mix de alegria e de bom gosto.
Folha - E sobre a crítica do “The New York Times” que dizia que a coleção de Fause Haten era “como se a mulher tivesse sido soterrada por uma caixa de bombons Godiva”?
Blow - Acho um equívoco aquele artigo. Quem escreveu não gosta de dourado. Você vê nas grandes passarelas de moda do mundo: dourado é a cor que todos os estilistas estão usando. É uma nova forma de mostrar a cor. Depende de como você a usa para que fique bem. O Fause fez peças em dourado belíssimas e elegantes.
Folha - Essa será a primeira edição do MorumbiFashion que terá um dia de moda praia. O que você espera ver?
Blow - Eu nunca fui a um desfile de moda praia. Quero ver a maneira como os estilistas cobrem e descobrem a pele, o corpo. Aqui (em Londres) ficamos horrorosas em biquínis. No Brasil, basta ver as mulheres para entender como ficam bonitas em roupas de banho. É como uma segunda pele, que deixa a mulher sensual.
Mas o que eu gostaria de ver mesmo seriam nomes como Fause e Alexandre fazendo biquínis. Esses grandes estilistas deveriam desenhar, como faz a alta-costura no mundo. A roupa de praia deve deixar o corpo bonito e bem desenhado. Você tem de poder sair para jantar com uma peça!
Folha - Nessa sua terceira visita ao Brasil, o que espera ver?
Blow - Ir ao Brasil é muito importante agora. A moda está passando por um momento muito bom. Eu quero ver os desfiles, quero ver show. Algo que seja incrível e que tome a passarela. Espero ver a beleza brasileira, o que há de novo, conversar com pessoas interessantes, ver a nova maneira de olhar e trabalhar com o sensual... Enfim, ver o Brasil que eu vi, crescido.
Folha - Você foi apontada por várias pessoas como uma “madrinha da moda brasileira”. Por que acha que isso aconteceu?
Blow - Às vezes, quando você vê alguma coisa que ama, tem de fazer algo por ela. Foi o que aconteceu. Eu dei amor e recebi em troca. É um desgaste de energia e horas de trabalho que tenho, porém é o que me faz feliz e o que me dá prazer. Mas as pessoas não deveriam achar isso de mim.
Folha - Como você vê a moda brasileira neste momento de visibilidade internacional?
Blow - Ela está pronta e estabelecida. Agora precisa sair e mostrar o trabalho fora do país. Tem de pôr as roupas em todos os lugares e brigar por um espaço. Este é o momento ideal. Está havendo uma euforia brasileira na Europa e nos Estados Unidos. Nunca se ouviu falar tanto da moda e das modelos brasileiras. Tudo vira capa, reportagem, editorial. É preciso apoio, patrocínio. Como há a Rhodia, que patrocina o MorumbiFashion, deve haver patrocinadores para cada estilista. Isso é um fator muito importante na moda.


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