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pergunta: "Olá Dr. Marco. Gostaria de saber mais sobre a doença candidíase. Qual a sua forma de contágio? Qual o tratamento adequado? É transmissível? Quais são os sintomas? É verdade que é muito mais comum em mulheres do que nos homens? Como posso fazer para evitar? Desde de já, agradeço as informações!"

resposta: Olá minha cara! Sabe que essa é uma das doenças mais comuns nos consultórios de ginecologia? Sim, porque não há ginecologista que não atenda, diariamente, pelo menos uma mulher com candidíase. Se for no verão então...muito pior! Então, vamos lá saber um pouco mais a respeito dela.

Candidíase, monilíase ou sapinho é o nome dado a doenças causadas por uma série de fungos, sendo a Candida albicans seu mais comum representante. Quando ela é genital, os sinais e sintomas mais freqüentes são corrimento vaginal branco (nos casos mais intensos pode ser verde e até cinza) acompanhado de irritação e uma coceira na vulva (a parte externa dos genitais da mulher) que às vezes chega a ser de-ses-pe-ra-do-ra! Sim, porque é nessa região que a candidíase se manifesta mais intensamente.

Eu não sei se você sabe, mas temos fungos em várias partes do corpo (todo o tubo digestivo, vagina e pele), em toda e qualquer idade e, se for mantido o equilíbrio com a flora local que é composta por milhões de outros microorganismos (além das nossas células de defesa), não há qualquer manifestação física dos mesmos, entende? Portanto, a primeira coisa que podemos inferir em relação à candidíase, é que ela expressa um desequilíbrio em nosso organismo, mostra que algo não está bem conosco.

Dessa maneira, quando você pergunta sobre a forma de contágio e parte da premissa de que sempre há uma pessoa passando a candidíase para a outra, eu posso lhe assegurar que nem sempre é assim. De fato, essa forma realmente existe (não é a mais importante e tampouco a mais comum), mas deve haver algum desequilíbrio na capacidade de defesa na pessoa "que recebe" esses fungos. A partir daí, há proliferação dos mesmos e, conseqüentemente, o aparecimento dos sintomas! Em contrapartida, caso a pessoa que os recebe esteja imunologicamente bem, existe uma grande chance de não vir a sentir nada!

O que também encontramos com muita freqüência é aquela condição em que existem os sinais e sintomas sem que a pessoa tenha tido relação sexual. Isso referenda a hipótese de que existem outros fatores que contribuem para seu desenvolvimento. Assim sendo, é muito interessante olharmos os fungos na natureza para ver onde e em que condições eles aparecem, pois isso nos permite entender uma série de fenômenos que estão perto de nós, e em nós! Por exemplo, você já parou para pensar onde é que aparece mofo? Sim, porque o mofo é uma grande "população" de fungos! Em termos ecológicos podemos dizer que os locais quentinhos, úmidos e escuros são, de longe, os mais propícios a abrigá-los, certo? Se compararmos a vagina com o pênis, chegamos à conclusão de que a primeira é mais propícia a abrigar os fungos e portanto que as mulheres estão realmente mais suscetíveis à candidíase do que os homens.

Isto também se deve à presença de condições que chamamos de predisponentes, ou seja, coisas que facilitam o crescimento na população de fungos, entre as quais podemos destacar o uso de pílula anticoncepcional, diabetes e excesso de ingestão de açúcar (que aumentam a acidez vaginal), calor intenso e roupa íntima de tecido sintético (que esquenta demais a região) e, por fim, o stress. É por isso mesmo que no verão há um aumento enorme no número de mulheres com candidíase, sobretudo no litoral, pois de uma hora para outra passam a usar biquinis (tecido sintético) que freqüentemente ficam molhados durante horas, em um ambiente com temperatura muitas vezes superior em relação ao que elas normalmente vivem.

Um outro "jeito de olhar" a candidíase, que acho extremamente importante, é aquele que aprendi ao longo da vida profissional, conversando e cuidado da saúde das mulheres. São coisas que não estão nos livros de ginecologia e que têm relação com nosso dia-a-dia. Dentre eles posso citar que apresentam maior chance de ter candidíase as mulheres que são, por exemplo, tensas e contidas. Sabe aquele tipo de pessoa que guarda todos os problemas, aquela pessoa que "engole um sapo atrás do outro" e que não os coloca para fora? Pois é, esta é uma séria candidata, não só para ter candidíase, como também para apresentar recidivas, mesmo após um tratamento recente. Uma outra condição que favorece é a presença de depressão. De maneira geral as pessoas deprimidas apresentam queda na sua capacidade de defesa, o que as torna vulneráveis a agentes como vírus, bactérias e fungos. Por fim, ainda posso citar as incontáveis vezes em que pude constatar, junto com as mulheres, que a provável causa da candidíase era uma crise no relacionamento com o parceiro. Para muitas delas, a mais remota possibilidade de uma transa fazia com que se sentissem extremamente mal. É realmente complicado você transar com alguém quando a relação está ruim, certo? Pois bem, a presença da candidíase (que deixa a vulva muito inchada e com pequenos cortes que chegam a sangrar) seria uma forma de evitar uma relação sexual, entende? É como se o organismo estivesse se defendendo de algo ruim! É como se o "sacrifício do corpo" fosse uma forma de proteger o sentimento, mantendo o homem à distância. E creia, este é um processo absolutamente inconsciente!!! Ninguém tem a capacidade de determinar que "agora, como não estou bem com meu parceiro, vou ter candidíase"! Isso não existe!

Quanto ao tratamento, há literalmente uma infinidade de formas terapêuticas e de medicamentos à disposição do médico. Eles vão desde os chás que podem ser usados em lavagens com duchas ginecológicas até drogas quimioterápicas fortes, a serem ingeridas por via oral. Agora, se a gente "olha" desta maneira mais ampla (e isso deve ser feito sempre) dá para entender o motivo pelo qual muitas vezes os tratamentos aparentemente não dão resultado. Na verdade eles dão sim! O problema é que a candidíase volta porque o alvo da terapêutica não foi a causa, mas sim, somente, a conseqüência! Assim sendo, fica difícil acabar com o problema! Há que se abordar as duas coisas em conjunto, sempre!

Portanto, minha cara, você percebe como a candidíase muitas vezes pode ser muito mais do que simplesmente uma doença ginecológica? Ela pode expressar muitas coisas que estão acontecendo emocionalmente na vida da mulher e, portanto, ser uma dica importante para que o médico possa ajudá-la a entender e superar certos obstáculos.

Um beijo!

Marco Antonio Lenci
18/01/02
 
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(11/04/2002) "O exame físico do adolescente"
(04/04/2002) "Hebiatra esclarece como deve ser consulta de adolescentes"
(04/02/2002) "De quais problemas cuida o especialista em adolescentes?"
(18/01/2002) "Casos de mulheres com candidíase aumentam no verão"


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Nesta seção, os especialistas Maurício de Souza Lima, Ricardo Tapajós e Marco Antonio Lenci esclarecem dúvidas de adolescentes.

Maurício de Souza Lima é médico da Unidade de Adolescentes e Coordenador do ambulatório dos filhos de mães adolescentes do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. É membro da diretoria da Associação Paulista de Adolescência e membro do Departamento de Adolescência da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

Ricardo Tapajós é médico supervisor da divisão de clínica de moléstias infecciosas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Marco Antonio Lenci é especialista em Ginecologia e Obstetrícia, com formação em Medicina Antroposófica e Medicina Psicossomática. É especialista em vídeo-laparoscopia e vídeo-histeroscopia e pós-graduando do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo

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