São Paulo, Terça-feira, 23 de Fevereiro de 1999
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Cálculos de data errados podem comprometer sistemas de emissão de notas fiscais, bloquear compras na boca do caixa, alterar datas de validade de produtos e até provocar sérios problemas na produção e no abastecimento
Falha custa milhões às grandes empresas

da Reportagem Local

Milhões de dólares estão sendo gastos pelas empresas há pelo menos dois anos para fazer os computadores reconhecerem o ano 2000.
Parte do dinheiro vai para o trabalho de procurar e corrigir os campos de data em cada linha de cada sistema, parte para a atualização de máquinas e parte para a troca do que não compensa ajustar.
Não foi diferente no Grupo Pão de Açúcar, que está gastando R$ 5,3 milhões para impedir que os clientes tenham problemas em alguma de suas 324 lojas no país.
Uma compra de supermercado pode empacar na boca do caixa se os computadores confundirem as datas de cheques pré-datados e de validade de cartões de banco e de crédito, diz Jair Fernandes, diretor de informática do grupo.
Assim, 12 milhões de linhas de código de programação foram revistas -ainda falta 10%- e máquinas tiveram de ser substituídas -dos cerca de 6.000 PCs e terminais de ponto-de-venda, apenas 150 são velhos atualizados.
Até o final de março, Fernandes espera ter concluído o processo, incluindo a revisão de balanças e as conexões com fornecedores.
Um desses fornecedores, a Antarctica, que produz e fatura cerca de 8,5 milhões de litros de cervejas e refrigerantes por dia em 23 fábricas, revisou 1,2 milhão de linhas de código e 3.000 computadores.
Na conta do bug, US$ 150 mil foram para a alteração do sistema de três máquinas de grande porte, encerrada em 1998, diz Marco Antonio Marques de Souza, diretor.
O mais crítico para a Antarctica é o sistema de emissão de nota fiscal -sem ela, o caminhão não pode entregar a cerveja do réveillon. Mas o grande teste será em julho, quando o sistema de orçamento fará projeções para janeiro.
Já para a Shell a incógnita é fevereiro de 2000. Carlos Roberto Teixeira Netto, gerente de informática, diz que vai ficar tenso até lá porque 2000 é bissexto e, como 1900 não foi, algum software pode não reconhecer o dia 29.
O ajuste na Shell está 99% pronto, segundo Netto. Por conta do bug, a empresa trocou um IBM de grande porte por 20 máquinas Unix e substituiu 3.000 linhas de código de um sistema para o outro, a um custo de US$ 19 milhões.
Se a Shell não se ajustasse, as válvulas que liberam o fluxo dos combustíveis para o caminhão-tanque, por exemplo, poderiam travar e deixar o consumidor a pé.
Na Sadia, do abate do frango à validade da salsicha, passando pelo controle da câmara frigorífica, muita coisa tem data e precisa de ajuste. Mais de 11.500 programas estão sendo analisados e, dos mais de 3.100 PCs, 215 modelos antigos serão substituídos até junho.
A troca de equipamentos na mineradora Vale do Rio Doce vai consumir 75% dos US$ 5,3 milhões previstos para o ajuste, que termina em maio. O restante vai para a conversão de sistemas.


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