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PASSEATA DOS CEM MIL
Ano: 1968

"Por seis horas, mais de 100 mil cariocas protestaram contra o Govêrno, apoiando o movimento dos estudantes que, conforme o previsto, foi sem incidentes, com dezenas discursos de universitários, operários, professôres e padres, que definiram "o compromisso histórico da Igreja com o povo".

Com perfeito dispositivo de segurança, os estudantes garantiram a realização da passeata, sem depredações, chegando a prender e soltar um policial que incitava a que fôsse apedrejado o prédio do Conselho de Segurança Nacional. A concentração começou às 10 horas, com os primeiros grupos de padres e estudantes, sem qualquer policiamento ostensivo.

Entre os primeiros oradores estava o representante da Igreja, ressaltando que "Calar os moços é violentar nossas consciências". Presentes cêrca de 150 padres, inclusive o bispo-auxiliar do Rio de Janeiro, Dom Castro Pinto, que acompanhou a passeata, durante os 32 minutos de travessia da Av. Rio Branco. Na Candelária, falou Wladimir Palmeira, lembrando o assassinato do secundarista edson Luís, "que um dia será vingado".

A manifestação seguiu para o Palácio Tiradentes onde houve novos discursos, inclusive de um representante dos favelados, o mais aplaudido, ao afirmar que agora êles também "estavam na luta". No local foi queimada uma bandeira dos Estados Unidos, um policial tentou prender Wladimir Palmeira, mas não ocorreram incidentes. Ficou decidido dar o prazo de uma semana ao Govêrno, para atender às reivindicações, entre elas a de liberdade para todos os presos políticos. Marcaram também para hoje, encontro de tôda a liderança estudantil, com o objetivo de analisar os resultados.

Informou a Secretaria de Segurança que ninguém foi detido, mas o DOPS prendeu cinco estudantes que destribuiam panfletos. A Polícia Federal pediu ao CONTEL que proibisse a exibição de filmes e transmissão de reportagens em rádio e televisão que "mostrem tumultos em que se envolveram os estudantes", e o governador Negrão de Lima, cercado por 100 soldados da PM, acompanhou, através de informações, todo o movimento, declarando-se satisfeito com os rumos da manifestação. (...)"

"A Guanabara ofereceu ontem ao Govêrno edificante exemplo de maturidade política. Estudantes, professôres, intelectuais, artistas, jornalistas, clero, pais e populares realizaram na mais absoluta ordem sua manifestação. O governador Negrão de Lima autorizou. Recolheu aos quartéis a Polícia Militar e o DOPS. Entregou a segurança da Cidade aos próprios manifestantes. Não houve incidentes. A ordem, a propriedade privada, os próprios federais e estaduais, a vida das pessoas foram assegurados. A primeira conclusão a retirar-se dos fatos é a de que a repressão policial contra atividades políticas legítimas é que gera os conflitos.

Dir-se-á que houve discursos radicais. Mas êsses discursos não incitaram à desordem. Além disso, proferi-los é direito garantido pela liberdade de pensamento. O importante não é constatá-los, mas saber se incitaram ou não ao tumulto. Ontem, não incitaram. Não tiveram sequer o respaldo de faixas com os nomes de Guevara, Mao Tsé-tung e Ho Chi Min, comuns nas manifestações estudantis em todo o mundo.

Elas foram substituídas por algo mais expressivo, para a inteligência política do Govêrno: o veemente entusiasmo dos que, não tendo descido às ruas, aplaudiram do alto dos edificios os manifestantes, emprestando-lhes decidida solidariedade.

Essa solidariedade significa voto de repulsa popular, não só à repressão policial dos últimos dias, como rejeição da consciência nacional ao confinamento do País num sistema institucional restritivo de suas liberdades, mesmo quando para mostrar essa restrição não apela para a violência ostensiva." Correio da Manhã, 27 de junho de 1968.

"Em gigantesca manifestação popular que se caracterizou pela ausência de distúrbios, no qual os únicos policiais presentes foram os guardas de trânsito, perto de cem mil pessoas realizaram ontem a anunciada passeata durante a qual o povo, fazendo causa comum com os estudantes, verberou a omissão do govêrno nos problemas do ensino. Antes da passeata, foram presos quatro estudantes sob acusação de conduzirem material subversivo, e o ministro da Justiça, à noite criticou os responsáveis pela queima de uma bandeira americana. Enquanto isso em Pôrto Alegre, as manifestações de rua acusavam um saldo de seis estudantes feridos e hoje, em Fortaleza, anuncia-se a realização de manifestação semelhante à do Rio."

"Uma multidão calculada em 100 mil pessoas realizou ontem, durante mais de sete horas a anunciada passeata de estudantes, padres, artistas e mães pela liberdade dos estudantes detidos pela Polícia, pelo ensino superior gratuito e contra as Fundações.

O movimento, que não registrou qualquer distúrbio, começou com uma concentração na Cinelândia, às 10,30 horas, ganhou o Largo da Candelária às 15 horas onde se deteve por 45 minutos para um comicio, e rumou pela rua Uruguaiana até a estátua de Tiradentes na Praça Quinze, onde foi encerrado, às 17 horas.

Eram mais de 10 horas quando começaram a chegar à Cinelândia os primeiros participantes da passeata, trazendo faixas e cartazes. As escadarias do Teatro Municipal começaram a encher-se de conhecidas figuras dos meios religiosos, artisticos e estudantis, entre êles Paulo Autran, Djanira, Eneida etc.

Aos gritos de "liberdade, liberdade" os estudantes deram início aos discursos inflamados, clamando por mais verbas para as universidades, ensino gratuito, contra a tentativa de transformação das universidades em fundações e em protesto contra a prisão dos líderes estudantis.

Poucos minutos antes do meio-dia chegou ao local o estudante Wladimir Palmeira que salientou em breve discurso "a derrota do govêrno na realização da passeata para a qual não foi pedida autorização, mas que custou o sangue e muita pancada nos estudantes".

Volta e meia, enquanto falavam os oradores estudantis faziam-se apelos contra tentativas de distúrbios, constatando-se mesmo a presença de grupos de estudantes prontos a sufocar qualquer início de quebra-quebra. A preocupação de não danificar automóveis, vitrines e não dar pretexto a intervenções policiais foi uma constante em todo o movimento.

Às 13 horas, começaram a falar os sacerdotes e artistas, já com a presença de Dom José de Castro Pinto, que disse estar "muito emocionado com o espírito de união do povo".

Poucos minutos antes das 14 horas, teve início a passeata em direção à Candelária.

Por todo o trajeto, enquanto as moças pintavam inscrições com "spray"nas paredes, toneladas de papel picado brotavam do alto dos edifícios, emprestando à manifestação um colorido festivo. Correspondentes estrangeiros comentavam a facilidade com que o povo debate os seus problemas mais sérios e profundos.

Por volta das 15 horas, os manifestantes chegaram à Candelária, cuja praça ficou literalmente tomada. Em silêncio, a multidão ouviu os discursos dos líderes e rumou, 45 minutos depois, para a rua Uruguaiana, por onde desceu até a rua Sete de Setembro, até a Praça 15, ocupando as cercanias do Palácio Tiradentes.

Novamente se ouviram discursos, inclusive de um favelado, e por fim o estudante Vladimir Palmeira, admitindo não existir qualquer estudante prêso, deu por encerrada a manifestação, saindo sob proteção de um esquema de segurança até a rua da Assembléia, onde embarcou num carro particular. Em poucos minutos a multidão dispersou. Estava terminada a passeata." O Jornal, 27 de junho de 1968.

"Apesar de tôdas as promessas, da parte dos estudantes, de que a passeata de ontem seria pacífica e das garantias, do lado do Govêrno, de que o dispositivo repressivo não seria usado, a menos que ocorressem violências graves, foi uma cidade conturbada e intimidada a que aguardou os acontecimentos. As portas de todo o comércio se fechavam, as vitrinas se protegiam com madeirame colocado às pressas, o número de pessoas que afluiu ao centro era extemamente reduzido, como atestava o tráfego desafogado.

Nesse ambiente de mal disfarçada ansiedade, realizou-se a passeata. Eram dezenas de milhares de pessoas que desfilaram perfeitamente organizadas, manifestando pelas faixas, pelos discursos, pelos aplausos e seus apupos os seus sentimentos.

Assim, através dessa demonstração, cuja importância não pode ser negada, os manifestantes puderam trazer livremente às ruas a sua mensagem de revolta contra a inação do Govêrno relativamente aos seus reclamos mais urgentes.

Os organizadores da parada revelaram habilidade extrema e poder de liderança indiscutível ao conseguir que tudo se passasse na mais perfeita disciplina e sem qualquer atentado maior à ordem.

A grande maioria silenciosa dos cidadãos que trabalham, que pagam seus impostos, que só desejam o bem-estar e o progresso do nosso povo, não pode deixar de sentir profundamente abalada pelo espetáculo que uma pequena parcela da população, organizada e atuante, deu ontem.

Tôda essa gente encheu a Avenida Rio Branco com o seu prado de protesto. Cabe agora a palavra do Govêrno. Que fará o Govêrno para enfrentar essa insatisfação tão eloqüentemente demonstrada? Pensará o Presidente da República que a triste fala tartamudeante e mal lida do Ministro Tarso Dutra na televisão, alinhando magros números e anunciando transformações menores na estrutura burocrática do Ministério da Educação bastará para contentar a massa da juventude ansiosa por qualquer coisa que signifique a verdadeira revolução nos arraiais da Educação? Ou cuidará o Presidente Costa e Silva que seu discurso perante os representantes dêsse partido feito em laboratório, a ARENA, anunciando novas perspectivas para o desenvolvimento econômico, através de um miraculoso Plano Estratégico, levará tôda essa gente para casa, a fim de esperar tranqüila que o desenvolvimento traga como complemento o fim do descalabro educacional?

O que abalou todo o Brasil ontem foi o sentimento da ausência de segurança. Ficamos à mercê dos acontecimentos, que felizmente se desenrolaram de uma maneira que só honra à organização dos estudantes. Mas o Govêrno não pode esperar que mais essa omissão, a primeira prudente o construtiva que praticou desde a sua instalação, resolva qualquer coisa. Se nada se fizer se repetirão as manifestações e se extravasará o descontentamento quiçá por maneiras e métodos menos tranqüilos do que os empregados ontem.

Há um sentido de urgência inadiável em tomar na devida medida a seriedade do problema com que se acha a braços a Nação, de examiná-lo em profundidade, de procurar soluções válidas, de caminhar para atender aos reclamos justos, colocando de lado ressentimentos de orgulho mal ferido e bravatas de subdesenvolvidos mentais. Sem isso, sem restabelecer o ambiente de segurança indispensável à sobrevivência do regime, é quase cômico falar em planos mirabolantes de desenvolvimento econômico.

O dia de ontem no rio de Janeiro foi carregado de destino e denso de significado político. Ou o Govêrno acorda para a necessidade imediata de uma ação enérgica, organizada, unânime, para enfrentar a presente crise, ou caminhamos para momentos terríveis. A fisionomia grave, séria, quase temerosa com que o Centro da Cidade aguardou ontem os acontecimentos, contrastava com o ambiente de sorrisos otimistas e fraterno alvoroço que reinava em Brasília, quando o Presidente apresentava aos membros da ARENA seus planos para o futuro distante e grandioso do Brasil. É preciso que os responsáveis pelos destinos do País se dêem conta de que sem um presente consolidado num mínimo de segurança não há nenhum futuro senão o caos. se o Senhor Presidente olhar para o chão em que põe os pés, ao invés de atentar para o tremeluzir de estrêlas longínquas, talvez entenda a mensagem que a mocidade colorida do Rio de Janeiro estendeu ontem ao longo da Avenida Rio Branco." Jornal do Brasil, 27 de junho de 1968.

"Não só os estudantes marcharam. Foi todo o povo, num movimento que se estendeu das 10 às 17 horas. A polícia não compareceu. A ordem foi total. Uns poucos agentes do DOPS, em atitude de provocação, foram isolados e após afugentados pelos manifestantes. Vladimir Palmeira e Elinor Brito - que estavam sendo caçados - falaram em todo o trajeto. Havia mais de cem mil pessoas desfilando; um número muitas vêzes maior aplaudindo. A bandeira mais alta, na concentração final - foto acima - era a do Centro Acadêmico Édson Luís de Lima Souto. O Sr. Negrão de Lima congratulou-se com os jovens e soltou a frase: - Foi uma goleada. O presidente Costa e Silva mandou liberar verbas para as universidades federais, o que representou a primeira vitória dos estudantes brasileiros."

"Mais de cem mil pessoas - estudantes, representantes sindicais, professôres, padres e freiras - participaram da manifestação de ontem que - sem intervenção policial - transcorreu em perfeita ordem, embora os discursos fôssem freqüentes e as faixas conduzidas exigissem, entre outras coisas, a libertação dos jovens presos, em movimentos anteriores.

Da Cinelândia, os manifestantes dirigiram-se, sempre aplaudidos entusiasticamente pelo povo, até o largo da Candelária, onde falaram dirigentes estudantis, entre êles Vladimir Palmeira e Elinor Brito, depois de terem ouvido a Sra. Irene Papi proclamar, em nome das mães dos estudantes, que estaria sempre ao lado das lutas da mocidade.

Os manifestantes começaram a chegar às 10 horas na Cinelândia e, formada a primeira concentração, partiram em direção à Candelária. O esquema de repressão às provocações funcionou com perfeição. Ao entrar na avenida Rio Branco, o cortejo foi saudado por uma chuva de papel picado, que continuou, até a chegada ao largo da Candelária.

O único incidente - minimizado logo pelos manifestantes - ocorreu na esquina de Rio Branco e Araújo Pôrto Alegre, quando um agente do DOPS procurar gerar confusão. Houve violenta reação popular, mas os próprios manifestantes impediram que o policial fôsse massacrado, facilitando sua fuga em um taxi.

Quando a passeata atingiu o prédio ocupado pelo Departamento Estadual de Estradas de Rodagem, os funcionários vieram para as janelas, lançando uma chuva de papel picado e aplaudindo delirantemente."

"Agentes do DOPS prenderam ontem na praça da República (Campo de Santana), dentro do Karmann-Ghia GB 15-13-00, Antônio Orlando Pinheiro Gomes (rua Airu, 79) , Ciro Flávio Salazar de Oliveira (rua Hilário Gouveia 74 apto. 301), Mário Jorge Almeida de Toledo (rua Barata Ribeiro, 253 apto. 301), Julio Ribeiro (rua Barata Ribeiro 253, apto. 301) e Guilherme Gomes Lond (rua Saviana, 270 apto. 201). Os cinco foram levados para o DOPS, acusados de portarem panfletos que as autoridades consideraram subversivas, embora não revelassem seu teor. Os policiais apuraram, ainda, que o carro utilizado pelo grupo pertence a Artur S. Wetreg (rua Marques Canário, 20) que está sendo procurado. (...)"

"O ministro Gama e Silva, da Justiça, transmitiu, ontem, seu ponto de vista pessoal sôbre o comportamento dos manifestantes pelas ruas da cidade, salientando que, "em princípio, houve ordem e não ocorreram depredações, embora se abusasse do pixamento de prédios e ônibus, com o que caracterizavam o desrespeito pela propriedade particular, além da distribuição de panfletos altamente subversivos".

Lamentou o titular da Justiça que "se tivesse permitido a queima de uma bandeira dos Estados Unidos, assim como a exibição de faixas com dizeres ofensivos ao govêrno, inclusive nas mãos de freiras e padres", mas constatou "o acêrto com que o govêrno federal decidiu permitir a realização da passeata sem policiamento ostensivo nas ruas. (...)" Diário de Notícias, 27 de junho de 1968.

"Ao final de seis horas e meia de manifestações, dos quais participaram mais de cem mil pessoas, os estudantes, professôres, intelectuais, artistas, religiosos e populares decidiram voltar às ruas na próxima semana se o Govêrno Federal não libertar os colegas presos, reabrir o Restaurante do Calabouço, liberar verbas para as Universidades e levantar a censura sôbre as artes.

A manifestação pacífica começou com uma concentração na Cinelândia, que se prolongou até as duas da tarde, quando a marcha saiu em direção à Igreja da Candelária. De lá, após um segundo comício, voltou para o Palácio Tiradentes, contornando pela rua Uruguaiana. De todos os edifícios por onde passaram os manifestantes caía uma chuva de papel picado, enquanto populares acenavam e batiam palmas das janelas.

O líder Wladimir Palmeira, triunfalmente levado à Cinelândia por seus colegas, conduziu tôda a manifestação, pronunciando cinco discursos, nos quais, além de reiterar as reivindicações estudantis, pediu ordem aos colegas e exigiu o restabelecimento do clima de liberdade democrática no País, a defesa dos interêsses nacionais e melhores condições de vida para os trabalhadores.

O Govêrno Federal acompanhou as manifestações, colocando agentes em todos os pontos da cidade e o ministro Gama e Silva, da Justiça, fêz um relatório completo ao presidente Costa e Silva. As autoridades militares manifestavam-se preocupadas com o desenrolar dos acontecimentos, embora reconhecendo que os estudantes marcharam ordeira e disciplinadamente.

Em São Paulo, uma viatura carregada de dinamite explodiu na porta do nôvo QG do II Exército, causando a morte da sentinela. Foi instaurado inquérito, mas até as primeiras horas de hoje o Exército não tinha uma pista segura para determinar a autoria do ato terrorista."

"Desde às 8 horas, com a chegada das primeiras faixas e cartazes, que a manifestação dos estudantes teve início. Vamos narrar o que vimos e ouvimos durante e depois da passeata.

1) A concentração do pessoal, na Praça Floriano, na Cinelândia, bem em frente à Assembléia Legislativa, teve o seu ponto alto no justo momento em que Wladimir Palmeira começou a falar (falou durante muito tempo, sempre apladidissimo).

2) Apesar do mundo de gente, e de ter sido em local sem a mínima cobertura, a voz de Wladimir Palmeira era ouvida por quase todos. O sem timbre é muito forte e sua garganta poderosíssima.

3) Às 13,20 o público começou a se locomover, com destino à Avenida Rio Branco, da altura do Teatro Municipal. A chamada ala dos intelectuais estava à frente. Os jornalistas Antônio Calado e Jânio de Freitas seguravam uma grande faixa, com os dizeres de solidariedade ao movimento estudantil.

4) Chico Buarque de Holanda cumpriu sua promessa: chegou à Cinelândia às 11 horas, tendo sido muito cumprimentado. Chico, Edu Lôbo, Norma Benguel, Odete Lara e outros vinham à frente do pessoal artístico.

5) Quando o grupo atingiu a avenida, esquina da Sete de Setembro, um garôto de 14 anos (fizemos questão de saber seu nome) Rubens Corrêa Magalhães, trepou numa banca de jornal e exclamou: "O Povo Armado Derruba A Ditadura."

6) Uma senhora vestida humildemente, com a cabeça totalmente encoberta por um pano (não era um lenço) , trazia sôbre suas vestes um cartaz, cujos dizeres dispensavam qualquer adjetivação: "Por Deus, soltem meu filho!".

7) Em momento algum se verificou um incidente. Ficou patenteado que não são os jovens que vivem fazendo arruaças, atirando nos outros, matando, enfim...

8) Antes do início da passeata uma garôta de 16 anos de idade chamava a atenção de uma sua amiga para a fala do ministro Tarso Dutra na televisão, no dia anterior: "Ele começou seu lenga-lenga (palavras da môça), dizendo "Senhores e Senhoras". E depois (foi ela quem completou) há gente que não entende o analfabetismo do povo"...

9) Os que presenciaram a passeata de 2 de abril de 1964 (como êste reporter) foram unânimes em afirmar: "a de ontem superou tudo em manifestações públicas. Em número, grau e finalidade, a passeata dos estudantes de ontem ficará para sempre na lembrança de todos".

10) Quando os manifestantes se encontravam na altura da Rua da Assembléia, um helicóptero começou a sobrevoar a avenida. O povo respondia com vaias e exclamava: "Assassinos! Assassinos!".

11) A solidariedade dos populares que se encontravam nos prédios situados por tôda a Avenida Rio Branco, que atiravam papéis picados e batiam palmas para as pessoas a pé, foi também um espetáculo belíssimo, chegou mesmo a emocionar, por ter sido espontâneo.

12) Para se ter uma idéia do número de pessoas presentes, basta se citar um exemplo: às 14h25m, o grupo inicial da passeata se encontrava na avenida, na altura da Rua da Alfândega. Partimos dali com destino à Cinelândia, onde ainda era grande o número de pessoas que se organizavam para ingressar nela.

13) O senador Mário Martins, acompanhado de uma mulher, fêz todo o cortejo. Os dois estavam com uma fisionomia muito carregada. Diversos garotos, todos manifestantes, insistiam em cumprimentar o representante carioca na Câmara Alta.

14) Indagamos de uma senhora de 65 anos de idade o motivo de sua participação naquele movimento. Resposta: "Sou pobre, não posso colocar meus netos em colégio particular, como não pude fazer com os meus filhos. Hoje, o povo resolveu se rebelar, na tentativa de encontrar uma solução para a parte educacional. Deus está nos dando proteção, pois se trata de um movimento pacífico e honesto"." Tribuna da Imprensa, 27 de junho de 1968.

AS MANCHETES

Marcha Do Povo Reune Cem Mil (Correio da Manhã)

Lição De Maturidade (Correio da Manhã)

Negrão E Sizeno Satisfeitos Com A Manifestação
100 Mil Pessoas Na Passeata (O Jornal)

Cem Mil Pessoas Clamaram Por Liberdade (O Jornal)

Momento Grave (Jornal do Brasil)

Sem Repressão Há Ordem (Diário de Notícias)

Todo O Rio Foi À Rua Pedir Liberdade Para Os Estudantes
(Diário de Notícias)

Justiça Viu Subversivos Na Passeata (Diário de Notícias)

Marcha Pacífica Reúne Mais De Cem Mil Na GB (Tribuna da Imprensa)

A Marcha Da Paz (Tribuna da Imprensa)


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