PASSEATA DOS CEM MIL
"Por seis horas, mais de 100 mil cariocas protestaram contra o Gov�rno, apoiando o
movimento dos estudantes que, conforme o previsto, foi sem incidentes, com dezenas
discursos de universit�rios, oper�rios, profess�res e padres, que definiram "o compromisso
hist�rico da Igreja com o povo".
Com perfeito dispositivo de seguran�a, os estudantes garantiram a realiza��o da passeata,
sem depreda��es, chegando a prender e soltar um policial que incitava a que f�sse
apedrejado o pr�dio do Conselho de Seguran�a Nacional. A concentra��o come�ou �s 10
horas, com os primeiros grupos de padres e estudantes, sem qualquer policiamento
ostensivo.
Entre os primeiros oradores estava o representante da Igreja, ressaltando que "Calar os
mo�os � violentar nossas consci�ncias". Presentes c�rca de 150 padres, inclusive o
bispo-auxiliar do Rio de Janeiro, Dom Castro Pinto, que acompanhou a passeata, durante os
32 minutos de travessia da Av. Rio Branco. Na Candel�ria, falou Wladimir Palmeira,
lembrando o assassinato do secundarista edson Lu�s, "que um dia ser� vingado".
A manifesta��o seguiu para o Pal�cio Tiradentes onde houve novos discursos, inclusive de
um representante dos favelados, o mais aplaudido, ao afirmar que agora �les tamb�m
"estavam na luta". No local foi queimada uma bandeira dos Estados Unidos, um policial
tentou prender Wladimir Palmeira, mas n�o ocorreram incidentes. Ficou decidido dar o prazo
de uma semana ao Gov�rno, para atender �s reivindica��es, entre elas a de liberdade para
todos os presos pol�ticos. Marcaram tamb�m para hoje, encontro de t�da a lideran�a
estudantil, com o objetivo de analisar os resultados.
Informou a Secretaria de Seguran�a que ningu�m foi detido, mas o DOPS prendeu cinco
estudantes que destribuiam panfletos. A Pol�cia Federal pediu ao CONTEL que proibisse a
exibi��o de filmes e transmiss�o de reportagens em r�dio e televis�o que "mostrem tumultos
em que se envolveram os estudantes", e o governador Negr�o de Lima, cercado por 100
soldados da PM, acompanhou, atrav�s de informa��es, todo o movimento, declarando-se
satisfeito com os rumos da manifesta��o. (...)"
"A Guanabara ofereceu ontem ao Gov�rno edificante exemplo de maturidade pol�tica.
Estudantes, profess�res, intelectuais, artistas, jornalistas, clero, pais e populares realizaram
na mais absoluta ordem sua manifesta��o. O governador Negr�o de Lima autorizou.
Recolheu aos quart�is a Pol�cia Militar e o DOPS. Entregou a seguran�a da Cidade aos
pr�prios manifestantes. N�o houve incidentes. A ordem, a propriedade privada, os pr�prios
federais e estaduais, a vida das pessoas foram assegurados. A primeira conclus�o a
retirar-se dos fatos � a de que a repress�o policial contra atividades pol�ticas leg�timas � que
gera os conflitos.
Dir-se-� que houve discursos radicais. Mas �sses discursos n�o incitaram � desordem. Al�m
disso, proferi-los � direito garantido pela liberdade de pensamento. O importante n�o �
constat�-los, mas saber se incitaram ou n�o ao tumulto. Ontem, n�o incitaram. N�o tiveram
sequer o respaldo de faixas com os nomes de Guevara, Mao Ts�-tung e Ho Chi Min, comuns
nas manifesta��es estudantis em todo o mundo.
Elas foram substitu�das por algo mais expressivo, para a intelig�ncia pol�tica do Gov�rno: o
veemente entusiasmo dos que, n�o tendo descido �s ruas, aplaudiram do alto dos edificios
os manifestantes, emprestando-lhes decidida solidariedade.
Essa solidariedade significa voto de repulsa popular, n�o s� � repress�o policial dos �ltimos
dias, como rejei��o da consci�ncia nacional ao confinamento do Pa�s num sistema
institucional restritivo de suas liberdades, mesmo quando para mostrar essa restri��o n�o
apela para a viol�ncia ostensiva." Correio da Manh�, 27 de junho de 1968.
"Em gigantesca manifesta��o popular que se caracterizou pela aus�ncia de dist�rbios, no
qual os �nicos policiais presentes foram os guardas de tr�nsito, perto de cem mil pessoas
realizaram ontem a anunciada passeata durante a qual o povo, fazendo causa comum com
os estudantes, verberou a omiss�o do gov�rno nos problemas do ensino. Antes da passeata,
foram presos quatro estudantes sob acusa��o de conduzirem material subversivo, e o
ministro da Justi�a, � noite criticou os respons�veis pela queima de uma bandeira americana.
Enquanto isso em P�rto Alegre, as manifesta��es de rua acusavam um saldo de seis
estudantes feridos e hoje, em Fortaleza, anuncia-se a realiza��o de manifesta��o
semelhante � do Rio."
"Uma multid�o calculada em 100 mil pessoas realizou ontem, durante mais de sete horas a
anunciada passeata de estudantes, padres, artistas e m�es pela liberdade dos estudantes
detidos pela Pol�cia, pelo ensino superior gratuito e contra as Funda��es.
O movimento, que n�o registrou qualquer dist�rbio, come�ou com uma concentra��o na
Cinel�ndia, �s 10,30 horas, ganhou o Largo da Candel�ria �s 15 horas onde se deteve por
45 minutos para um comicio, e rumou pela rua Uruguaiana at� a est�tua de Tiradentes na
Pra�a Quinze, onde foi encerrado, �s 17 horas.
Eram mais de 10 horas quando come�aram a chegar � Cinel�ndia os primeiros participantes
da passeata, trazendo faixas e cartazes. As escadarias do Teatro Municipal come�aram a
encher-se de conhecidas figuras dos meios religiosos, artisticos e estudantis, entre �les
Paulo Autran, Djanira, Eneida etc.
Aos gritos de "liberdade, liberdade" os estudantes deram in�cio aos discursos inflamados,
clamando por mais verbas para as universidades, ensino gratuito, contra a tentativa de
transforma��o das universidades em funda��es e em protesto contra a pris�o dos l�deres
estudantis.
Poucos minutos antes do meio-dia chegou ao local o estudante Wladimir Palmeira que
salientou em breve discurso "a derrota do gov�rno na realiza��o da passeata para a qual
n�o foi pedida autoriza��o, mas que custou o sangue e muita pancada nos estudantes".
Volta e meia, enquanto falavam os oradores estudantis faziam-se apelos contra tentativas de
dist�rbios, constatando-se mesmo a presen�a de grupos de estudantes prontos a sufocar
qualquer in�cio de quebra-quebra. A preocupa��o de n�o danificar autom�veis, vitrines e n�o
dar pretexto a interven��es policiais foi uma constante em todo o movimento.
�s 13 horas, come�aram a falar os sacerdotes e artistas, j� com a presen�a de Dom Jos� de
Castro Pinto, que disse estar "muito emocionado com o esp�rito de uni�o do povo".
Poucos minutos antes das 14 horas, teve in�cio a passeata em dire��o � Candel�ria.
Por todo o trajeto, enquanto as mo�as pintavam inscri��es com "spray"nas paredes,
toneladas de papel picado brotavam do alto dos edif�cios, emprestando � manifesta��o um
colorido festivo. Correspondentes estrangeiros comentavam a facilidade com que o povo
debate os seus problemas mais s�rios e profundos.
Por volta das 15 horas, os manifestantes chegaram � Candel�ria, cuja pra�a ficou
literalmente tomada. Em sil�ncio, a multid�o ouviu os discursos dos l�deres e rumou, 45
minutos depois, para a rua Uruguaiana, por onde desceu at� a rua Sete de Setembro, at� a
Pra�a 15, ocupando as cercanias do Pal�cio Tiradentes.
Novamente se ouviram discursos, inclusive de um favelado, e por fim o estudante Vladimir
Palmeira, admitindo n�o existir qualquer estudante pr�so, deu por encerrada a manifesta��o,
saindo sob prote��o de um esquema de seguran�a at� a rua da Assembl�ia, onde embarcou
num carro particular. Em poucos minutos a multid�o dispersou. Estava terminada a
passeata." O Jornal, 27 de junho de 1968.
"Apesar de t�das as promessas, da parte dos estudantes, de que a passeata de ontem seria
pac�fica e das garantias, do lado do Gov�rno, de que o dispositivo repressivo n�o seria
usado, a menos que ocorressem viol�ncias graves, foi uma cidade conturbada e intimidada a
que aguardou os acontecimentos. As portas de todo o com�rcio se fechavam, as vitrinas se
protegiam com madeirame colocado �s pressas, o n�mero de pessoas que afluiu ao centro
era extemamente reduzido, como atestava o tr�fego desafogado.
Nesse ambiente de mal disfar�ada ansiedade, realizou-se a passeata. Eram dezenas de
milhares de pessoas que desfilaram perfeitamente organizadas, manifestando pelas faixas,
pelos discursos, pelos aplausos e seus apupos os seus sentimentos.
Assim, atrav�s dessa demonstra��o, cuja import�ncia n�o pode ser negada, os
manifestantes puderam trazer livremente �s ruas a sua mensagem de revolta contra a ina��o
do Gov�rno relativamente aos seus reclamos mais urgentes.
Os organizadores da parada revelaram habilidade extrema e poder de lideran�a indiscut�vel
ao conseguir que tudo se passasse na mais perfeita disciplina e sem qualquer atentado
maior � ordem.
A grande maioria silenciosa dos cidad�os que trabalham, que pagam seus impostos, que s�
desejam o bem-estar e o progresso do nosso povo, n�o pode deixar de sentir profundamente
abalada pelo espet�culo que uma pequena parcela da popula��o, organizada e atuante, deu
ontem.
T�da essa gente encheu a Avenida Rio Branco com o seu prado de protesto. Cabe agora a
palavra do Gov�rno. Que far� o Gov�rno para enfrentar essa insatisfa��o t�o
eloq�entemente demonstrada? Pensar� o Presidente da Rep�blica que a triste fala
tartamudeante e mal lida do Ministro Tarso Dutra na televis�o, alinhando magros n�meros e
anunciando transforma��es menores na estrutura burocr�tica do Minist�rio da Educa��o
bastar� para contentar a massa da juventude ansiosa por qualquer coisa que signifique a
verdadeira revolu��o nos arraiais da Educa��o? Ou cuidar� o Presidente Costa e Silva que
seu discurso perante os representantes d�sse partido feito em laborat�rio, a ARENA,
anunciando novas perspectivas para o desenvolvimento econ�mico, atrav�s de um
miraculoso Plano Estrat�gico, levar� t�da essa gente para casa, a fim de esperar tranq�ila
que o desenvolvimento traga como complemento o fim do descalabro educacional?
O que abalou todo o Brasil ontem foi o sentimento da aus�ncia de seguran�a. Ficamos �
merc� dos acontecimentos, que felizmente se desenrolaram de uma maneira que s� honra �
organiza��o dos estudantes. Mas o Gov�rno n�o pode esperar que mais essa omiss�o, a
primeira prudente o construtiva que praticou desde a sua instala��o, resolva qualquer coisa.
Se nada se fizer se repetir�o as manifesta��es e se extravasar� o descontentamento qui��
por maneiras e m�todos menos tranq�ilos do que os empregados ontem.
H� um sentido de urg�ncia inadi�vel em tomar na devida medida a seriedade do problema
com que se acha a bra�os a Na��o, de examin�-lo em profundidade, de procurar solu��es
v�lidas, de caminhar para atender aos reclamos justos, colocando de lado ressentimentos de
orgulho mal ferido e bravatas de subdesenvolvidos mentais. Sem isso, sem restabelecer o
ambiente de seguran�a indispens�vel � sobreviv�ncia do regime, � quase c�mico falar em
planos mirabolantes de desenvolvimento econ�mico.
O dia de ontem no rio de Janeiro foi carregado de destino e denso de significado pol�tico. Ou
o Gov�rno acorda para a necessidade imediata de uma a��o en�rgica, organizada, un�nime,
para enfrentar a presente crise, ou caminhamos para momentos terr�veis. A fisionomia grave,
s�ria, quase temerosa com que o Centro da Cidade aguardou ontem os acontecimentos,
contrastava com o ambiente de sorrisos otimistas e fraterno alvoro�o que reinava em
Bras�lia, quando o Presidente apresentava aos membros da ARENA seus planos para o
futuro distante e grandioso do Brasil. � preciso que os respons�veis pelos destinos do Pa�s
se d�em conta de que sem um presente consolidado num m�nimo de seguran�a n�o h�
nenhum futuro sen�o o caos. se o Senhor Presidente olhar para o ch�o em que p�e os p�s,
ao inv�s de atentar para o tremeluzir de estr�las long�nquas, talvez entenda a mensagem
que a mocidade colorida do Rio de Janeiro estendeu ontem ao longo da Avenida Rio
Branco." Jornal do Brasil, 27 de junho de 1968.
"N�o s� os estudantes marcharam. Foi todo o povo, num movimento que se estendeu das 10
�s 17 horas. A pol�cia n�o compareceu. A ordem foi total. Uns poucos agentes do DOPS, em
atitude de provoca��o, foram isolados e ap�s afugentados pelos manifestantes. Vladimir
Palmeira e Elinor Brito - que estavam sendo ca�ados - falaram em todo o trajeto. Havia mais
de cem mil pessoas desfilando; um n�mero muitas v�zes maior aplaudindo. A bandeira mais
alta, na concentra��o final - foto acima - era a do Centro Acad�mico �dson Lu�s de Lima
Souto. O Sr. Negr�o de Lima congratulou-se com os jovens e soltou a frase: - Foi uma
goleada. O presidente Costa e Silva mandou liberar verbas para as universidades federais, o
que representou a primeira vit�ria dos estudantes brasileiros."
"Mais de cem mil pessoas - estudantes, representantes sindicais, profess�res, padres e
freiras - participaram da manifesta��o de ontem que - sem interven��o policial - transcorreu
em perfeita ordem, embora os discursos f�ssem freq�entes e as faixas conduzidas
exigissem, entre outras coisas, a liberta��o dos jovens presos, em movimentos anteriores.
Da Cinel�ndia, os manifestantes dirigiram-se, sempre aplaudidos entusiasticamente pelo
povo, at� o largo da Candel�ria, onde falaram dirigentes estudantis, entre �les Vladimir
Palmeira e Elinor Brito, depois de terem ouvido a Sra. Irene Papi proclamar, em nome das
m�es dos estudantes, que estaria sempre ao lado das lutas da mocidade.
Os manifestantes come�aram a chegar �s 10 horas na Cinel�ndia e, formada a primeira
concentra��o, partiram em dire��o � Candel�ria. O esquema de repress�o �s provoca��es
funcionou com perfei��o. Ao entrar na avenida Rio Branco, o cortejo foi saudado por uma
chuva de papel picado, que continuou, at� a chegada ao largo da Candel�ria.
O �nico incidente - minimizado logo pelos manifestantes - ocorreu na esquina de Rio Branco
e Ara�jo P�rto Alegre, quando um agente do DOPS procurar gerar confus�o. Houve violenta
rea��o popular, mas os pr�prios manifestantes impediram que o policial f�sse massacrado,
facilitando sua fuga em um taxi.
Quando a passeata atingiu o pr�dio ocupado pelo Departamento Estadual de Estradas de
Rodagem, os funcion�rios vieram para as janelas, lan�ando uma chuva de papel picado e
aplaudindo delirantemente."
"Agentes do DOPS prenderam ontem na pra�a da Rep�blica (Campo de Santana), dentro do
Karmann-Ghia GB 15-13-00, Ant�nio Orlando Pinheiro Gomes (rua Airu, 79) , Ciro Fl�vio
Salazar de Oliveira (rua Hil�rio Gouveia 74 apto. 301), M�rio Jorge Almeida de Toledo (rua
Barata Ribeiro, 253 apto. 301), Julio Ribeiro (rua Barata Ribeiro 253, apto. 301) e Guilherme
Gomes Lond (rua Saviana, 270 apto. 201). Os cinco foram levados para o DOPS, acusados
de portarem panfletos que as autoridades consideraram subversivas, embora n�o
revelassem seu teor. Os policiais apuraram, ainda, que o carro utilizado pelo grupo pertence
a Artur S. Wetreg (rua Marques Can�rio, 20) que est� sendo procurado. (...)"
"O ministro Gama e Silva, da Justi�a, transmitiu, ontem, seu ponto de vista pessoal s�bre o
comportamento dos manifestantes pelas ruas da cidade, salientando que, "em princ�pio,
houve ordem e n�o ocorreram depreda��es, embora se abusasse do pixamento de pr�dios e
�nibus, com o que caracterizavam o desrespeito pela propriedade particular, al�m da
distribui��o de panfletos altamente subversivos".
Lamentou o titular da Justi�a que "se tivesse permitido a queima de uma bandeira dos
Estados Unidos, assim como a exibi��o de faixas com dizeres ofensivos ao gov�rno,
inclusive nas m�os de freiras e padres", mas constatou "o ac�rto com que o gov�rno federal
decidiu permitir a realiza��o da passeata sem policiamento ostensivo nas ruas. (...)" Di�rio
de Not�cias, 27 de junho de 1968.
"Ao final de seis horas e meia de manifesta��es, dos quais participaram mais de cem mil
pessoas, os estudantes, profess�res, intelectuais, artistas, religiosos e populares decidiram
voltar �s ruas na pr�xima semana se o Gov�rno Federal n�o libertar os colegas presos,
reabrir o Restaurante do Calabou�o, liberar verbas para as Universidades e levantar a
censura s�bre as artes.
A manifesta��o pac�fica come�ou com uma concentra��o na Cinel�ndia, que se prolongou
at� as duas da tarde, quando a marcha saiu em dire��o � Igreja da Candel�ria. De l�, ap�s
um segundo com�cio, voltou para o Pal�cio Tiradentes, contornando pela rua Uruguaiana.
De todos os edif�cios por onde passaram os manifestantes ca�a uma chuva de papel picado,
enquanto populares acenavam e batiam palmas das janelas.
O l�der Wladimir Palmeira, triunfalmente levado � Cinel�ndia por seus colegas, conduziu t�da
a manifesta��o, pronunciando cinco discursos, nos quais, al�m de reiterar as reivindica��es
estudantis, pediu ordem aos colegas e exigiu o restabelecimento do clima de liberdade
democr�tica no Pa�s, a defesa dos inter�sses nacionais e melhores condi��es de vida para
os trabalhadores.
O Gov�rno Federal acompanhou as manifesta��es, colocando agentes em todos os pontos
da cidade e o ministro Gama e Silva, da Justi�a, f�z um relat�rio completo ao presidente
Costa e Silva. As autoridades militares manifestavam-se preocupadas com o desenrolar dos
acontecimentos, embora reconhecendo que os estudantes marcharam ordeira e
disciplinadamente.
Em S�o Paulo, uma viatura carregada de dinamite explodiu na porta do n�vo QG do II
Ex�rcito, causando a morte da sentinela. Foi instaurado inqu�rito, mas at� as primeiras horas
de hoje o Ex�rcito n�o tinha uma pista segura para determinar a autoria do ato terrorista."
"Desde �s 8 horas, com a chegada das primeiras faixas e cartazes, que a manifesta��o dos
estudantes teve in�cio. Vamos narrar o que vimos e ouvimos durante e depois da passeata.
1) A concentra��o do pessoal, na Pra�a Floriano, na Cinel�ndia, bem em frente �
Assembl�ia Legislativa, teve o seu ponto alto no justo momento em que Wladimir Palmeira
come�ou a falar (falou durante muito tempo, sempre apladidissimo).
2) Apesar do mundo de gente, e de ter sido em local sem a m�nima cobertura, a voz de
Wladimir Palmeira era ouvida por quase todos. O sem timbre � muito forte e sua garganta
poderos�ssima.
3) �s 13,20 o p�blico come�ou a se locomover, com destino � Avenida Rio Branco, da altura
do Teatro Municipal. A chamada ala dos intelectuais estava � frente. Os jornalistas Ant�nio
Calado e J�nio de Freitas seguravam uma grande faixa, com os dizeres de solidariedade ao
movimento estudantil.
4) Chico Buarque de Holanda cumpriu sua promessa: chegou � Cinel�ndia �s 11 horas,
tendo sido muito cumprimentado. Chico, Edu L�bo, Norma Benguel, Odete Lara e outros
vinham � frente do pessoal art�stico.
5) Quando o grupo atingiu a avenida, esquina da Sete de Setembro, um gar�to de 14 anos
(fizemos quest�o de saber seu nome) Rubens Corr�a Magalh�es, trepou numa banca de
jornal e exclamou: "O Povo Armado Derruba A Ditadura."
6) Uma senhora vestida humildemente, com a cabe�a totalmente encoberta por um pano
(n�o era um len�o) , trazia s�bre suas vestes um cartaz, cujos dizeres dispensavam qualquer
adjetiva��o: "Por Deus, soltem meu filho!".
7) Em momento algum se verificou um incidente. Ficou patenteado que n�o s�o os jovens
que vivem fazendo arrua�as, atirando nos outros, matando, enfim...
8) Antes do in�cio da passeata uma gar�ta de 16 anos de idade chamava a aten��o de uma
sua amiga para a fala do ministro Tarso Dutra na televis�o, no dia anterior: "Ele come�ou
seu lenga-lenga (palavras da m��a), dizendo "Senhores e Senhoras". E depois (foi ela quem
completou) h� gente que n�o entende o analfabetismo do povo"...
9) Os que presenciaram a passeata de 2 de abril de 1964 (como �ste reporter) foram
un�nimes em afirmar: "a de ontem superou tudo em manifesta��es p�blicas. Em n�mero,
grau e finalidade, a passeata dos estudantes de ontem ficar� para sempre na lembran�a de
todos".
10) Quando os manifestantes se encontravam na altura da Rua da Assembl�ia, um
helic�ptero come�ou a sobrevoar a avenida. O povo respondia com vaias e exclamava:
"Assassinos! Assassinos!".
11) A solidariedade dos populares que se encontravam nos pr�dios situados por t�da a
Avenida Rio Branco, que atiravam pap�is picados e batiam palmas para as pessoas a p�, foi
tamb�m um espet�culo bel�ssimo, chegou mesmo a emocionar, por ter sido espont�neo.
12) Para se ter uma id�ia do n�mero de pessoas presentes, basta se citar um exemplo: �s
14h25m, o grupo inicial da passeata se encontrava na avenida, na altura da Rua da
Alf�ndega. Partimos dali com destino � Cinel�ndia, onde ainda era grande o n�mero de
pessoas que se organizavam para ingressar nela.
13) O senador M�rio Martins, acompanhado de uma mulher, f�z todo o cortejo. Os dois
estavam com uma fisionomia muito carregada. Diversos garotos, todos manifestantes,
insistiam em cumprimentar o representante carioca na C�mara Alta.
14) Indagamos de uma senhora de 65 anos de idade o motivo de sua participa��o naquele
movimento. Resposta: "Sou pobre, n�o posso colocar meus netos em col�gio particular,
como n�o pude fazer com os meus filhos. Hoje, o povo resolveu se rebelar, na tentativa de
encontrar uma solu��o para a parte educacional. Deus est� nos dando prote��o, pois se
trata de um movimento pac�fico e honesto"." Tribuna da Imprensa, 27 de junho de 1968.
AS MANCHETES
Marcha Do Povo Reune Cem Mil (Correio da Manh�)
Li��o De Maturidade (Correio da Manh�)
Negr�o E Sizeno Satisfeitos Com A Manifesta��o
100 Mil Pessoas Na Passeata (O Jornal)
Cem Mil Pessoas Clamaram Por Liberdade (O Jornal)
Momento Grave (Jornal do Brasil)
Sem Repress�o H� Ordem (Di�rio de Not�cias)
Todo O Rio Foi � Rua Pedir Liberdade Para Os Estudantes
(Di�rio de Not�cias)
Justi�a Viu Subversivos Na Passeata (Di�rio de Not�cias)
Marcha Pac�fica Re�ne Mais De Cem Mil Na GB (Tribuna da Imprensa)
A Marcha Da Paz (Tribuna da Imprensa)