PEREIRA PASSOS
"A notícia da morte, a bordo do Araguaia, que partiu desta capital a 19 do mês próximo findo,
com destino à Europa, do Sr. Francisco Pereira Passos, causos profunda surpresa e intenso
pezar, porque nào se esperava que aquele combatente forte, bem disposto, sadio, apesár
dos seus 77 invernos, tombasse tão cedo, em pleno mar, quando com sua família
demandava terras adiantadas que ele ia, de novo percorrer. (...) Aceitando o convite que lhe
fôra feito pelo governo do Sr. Dr. Rodrigues Alves, o ilustre engenheiro Pereira Passos, para
as altas funções de prefeito do Distrito Federal, o seu primeiro cuidado foi pedir carta franca
para dirigir a cidade, pois profissional que era, tinha em mente planos de sua remodelação
completa, absoluta. (...) E o Sr. Dr. Pereira Passos, sem mais detença, pôs em evidência o
seu plano de remodelação da cidade, dando trabalho a milhares de operários, pondo abaixo
pardieiros, prédios novos e velhos, mostrando que tudo que existia e estava de pé não
prestava, era um atestado do nosso atraso, da nossa vergonha, de falta de capacidade
administrativa e de pusilanimidade. Um trabalho ingente, foi um movimento como jamais se
viu o que se fez durante a administração do grande engenheiro. O programa do Dr. Passos
para sanear e embelezar a nossa hoje formosa cidade iniciou-se sob os melhores auspícios,
tendo-se trabalhado com intensa afana na abertura de três avenidas, no alargamento de
doze ruas, no prolongamento de outras três e de uma travessa e na canalização dos rios
Carioca, Berquó, Banana Podre, Maracanã, Joana, Trapicheiros e Comprido.
Os pessimistas, os retrógados, os estacionários sorriam, zombeteiramente, dizendo ser
impossível transformar a cidade em um céu aberto, mostral-a outra, muito diferente do que
era e que isso custaria a ruína do país, o empobrecimento das nossas finanças. E o Dr.
Pereira Passos, sereno e surdo, mas apoiado, pelo governo e com os aplausos da
população, caminhava na sua obra, fazendo a Avenida Beira Mar, essa beleza e esse
encanto, dando-lhe 5.200 metros de extensão com uma lagura de 39 metros. O trabalho foi
indigente e porfiado." A República, 3 de março de 1913.
"A morte tem sido cruel e impiedosa para o Brasil nestes últimos tempos, roubando-lhe as
suas maiores personalidades, os seus mais beneméritos servidores. No ano que se findou,
foram-se Rio Branco, Ouro Preto, Paranaguá e já hoje somos surpreendidos com o
desaparecimento do Dr. Francisco Pereira Passos, o extraordinário velho, cujo nome ficou
para sempre ligado à cidade do Rio de Janeiro, que lhe deve a sua remodelação, a sua
rápida e completa transformação. Um telegrama laconico e sinistro informa-nos haver ele
falecido em viagem para Europa, para onde embarcara há dias, a bordo do paquete
Araguaia. É, pois, com o mais profundo sentimento que registramos o desolante sucesso. O
nome do Dr. Pereira Passos não poderá nunca ser esquecido.
Prefeito desta cidade, nenhum administrador revelou ainda maior tenacidade, nem tão
elevada compreensão dos deveres que lhe impunham a lei e o momento. No período
presidencial que ficou assinalado na história como o iniciador dos melhoramentos que a
capital brasileira estava a exigir, o Rr. Pereira Passos foi a sua figura mais operosa e
destacada. Enfrentando com rara energia a oposição tremenda e desleal que lhe moviam os
interesses feridos e a rotina, fez-se surdo a todos os ataques, aos apodos violentos, às
agressões e às ingúrias, levando a termo a obra de que o País hoje se orgulha.
E assim abriu avenidas, ajardinou, com supremo gosto, as praças e largos, outrora em
abandono, construiu esse passeio sem rival que é a extensa Avenida Beira Mar, introduziu
os calçamentos asfaltados, cuidou das habitações do proletariado, ergueu edifícios que
atestam a nossa cultura de povo adiantado e transformou a nossa Capital Federal na mais
bela cidade do mundo. Com assombrosa atividade, dirigia sempre em pessoa todos os
serviços, dando eloquente atestado de quanto pode uma energia de ferro, aliada à
competência de superior mentalidade. Embora absorvido pela multiplicidade desses
afazeres, o Dr. Pereira Passos nào esquecia outras responsabilidades do seu cargo e,
encontrando desacreditada e quase falida a Prefeitura, cheia de atrazos nos pagamentos,
reabilitou-a, restaurando-lhe a situação financeira. escravo da lei, sem condescendências,
nem transigências, conseguiu reorganizar escrupulosamente as arrecadações, que lhe
forneceram recursos para enfrentar os compromissos e pô-los em dia. Ao deixar o governo,
era reconhecidamente um grande benemérito. (...)" Folha Do Dia, 3 de março de 1913.
"A notícia da morte de Francisco Pereira Passos, a bordo do "Araguaia", em que viajava o
grande remodelador da cidade do Rio de Janeiro, chegou como uma nota de luto e de dor,
num domingo alegre e luminoso em que a sua linda, a sua encantadora, a sua estremecida
cidade rebrilhava nos seus palácios e nas suas avenidas. Dos homens que ocupam altas
posições na política e na administração se costuma dizer, quando deixam a vida, que é cedo
para julgar a sua obra. Ela foi tão discutida e apaixonou tantos espíritos que só a anos, mais
serenos e mais justos, podem estabelecer o seu veredictum inapelável. de Francisco Pereira
Passos não se pode dizer o mesmo. O julgamento da sua ação na pública administração
estava há muito feito, quando o Dr. Rodrigues Alves, assumindo a presidência da República,
o chamou à Prefeitura do Distrito Federal, para remodelar a cidade colonial de Mem de Sá.
(...)
O Dr. Francisco Pereira Passos, nasceu em 29 de agosto de 1836, na cidade de São João
Marcos, no Estado do Rio de Janeiro, e era filho dos barões de Mangaratiba. Formou-se na
antiga Escola Central, hoje Politécnica, e foi logo após nomeado adido à legação brasileira
em Paris, onde aperfeiçoou os seus estudos de engenharia, publicando, em seguida, em
Londres, a "Caderneta Passos", trabalho técnico de grande valor.
Voltando da Europa foi nomeado engenheiro residente da Estrada Pedro II, de onde saiu
para dirigir o estabelecimento de fundição da Ponta da Areia, ocupando depois o cargo de
engenheiro da Diretoria de Obras Públicas. Foi fiscal da Estrada de Ferro de S. Paulo e
empreiteiro da estrada de Bagé a Uruguaiana. Foi engenheiro chefe da Estrada de Ferro de
Mauá a Petrópolis, de cujo traçado foi autor, assim como da linha elétrica da Santa Teresa.
Como engenheiro da Estrada de Ferro Pedro II construiu o ramal de Porto Novo do Cunha,
tendo projetado e realizado trabalhos de consolidação da Serra. Exerceu os cargos de
presidente da Companhia Ferro-Carril de São Cristovào, da Estrada de Ferro de Macaé e
Campos, da Estrada de Ferro Sapucaí, cujos trilhos estendeu até a fronteira de S. Paulo, e
da Estrada de Ferro do Corcovado, sendo desta também o engenheiro construtor. Foi por
duas vezes diretor da Estrada de Ferro Central do Brasil, devendo-lhe a Estrada grandes e
importantes obras, como sejam, os armazens da Maritma, estação de S. Diogo, ligação direta
da Maritma com o interior por um segundo túnel, ponte da Maritma e seu prolongamento,
alargamento da bitola da Estrada até Taubaté, substituição de trilhos de ferro pelos de aço,
estações de Belém e de Mariano Procópio e, finalmente, a bela reconstrução da estação
Central no Campo da Aclamação.
Em 31 de dezembro de 1902 foi nomeado para o cargo de prefeito do Distrito Federal, cargo
de que tomou posse no dia 2 de dezembro de 1903. Como prefeito do Distrito Federal
realizou a remodelação da cidade pondo em prática um vastíssimo plano de embelezamento
e transformando o velho Rio de Janeiro, de aspecto colonial, na bela cidade de ruas largas e
esplêndidas avenidas, de que hoje nos orgulhamos. Além disso, aumentou a renda municipal
e diminuiu a despezas de várias repartições da Prefeitura, sem prejuízo do serviço público:
pagou todas as dívidas da Intendência Municipal e conseguiu fazer com que ficasse em dia o
pagamento de todo o pessoal e fornecedores." A Notícia, 3 de março de 1913.
"A notícia do passamento do Dr. Pereira Passos causou funda impressão na cidade.
Engenheiro de reconhecida competência, depois de administrar proficuamente por duas
vezes a Central do Brasil, e de desempenhar outras funções e comissões, foi convidado para
o cargo de prefeito do Distrito Federal (...)
Era como que o administrador honorário da capital,, pela sua ação benéfica e inimitável, toda
de dedicação e ativiadde. Se discordamos do reformador do Rio, mais de uma vez, mesmo
em sua vida reconhecemos a grandeza dos seus serviços e agora, depois de morto,
rendemos justa homenagem ao que fez em benefício da cidade. O Dr. Francisco Pereira
Passos deixa seu nome gravado a empreendimentos e a obras, que conseguiu ultimar nos
quatro anos em que se multiplicou na Prefeitura.
Assumindo as sua funções, o Dr. Pereira Passos projetou grande número de obras. (...) A
obra mais importante que realizou foi a avenida Beira-Mar, por ele concluída; ela se estende
do estremo sul da Avenida Rio Branco até Botafogo, sendo a sua extensão de 5.200 metros
e a sua largura de 33. (...) Longa seria a enumeração de todos os seus serviços, como as
avenidas Mem de Sá, Salvador de Sá, o alargamento das ruas da Assembleia, Carioca,
Visconde do Rio Branco, Frei Caneca, Estácio de Sá, Marechal Floriano, Visconde de
Inhauma, Treze de Maio, que antes da atividade assombrosa desse patrício ilustre só
merecia louvores pela sua natureza. Este, sim, merece, como justa homenagem ao muito que
fez, ter levantado a sua estátua no coração da cidade. Foi um brasileiro digno dessa
comemoração." O Século, 3 de março de 1913.
"O Dr. Francisco Pereira Passos que ontem faleceu em caminho da Europa foi, no meio
brasileiro, uma exepção e uma surpresa: excepção, pelo contraste fulminante com a nossa
educação e com o nosso temperamento; surpresa, pela valentia com que, na sua idade,
realizou obras a que gerações moças inteiras não se haviam aventurado. Na antiguidade
pagã e ingênua esse homem passaria a ser um herói ou um mito, pela sombra de trabalhos
espantosos levados a efeito. No nosso tempo é, com Rio Branco, um ídolo nacional. São
esses de fato os nomes mais populares da capital da República. Com uma visão genial das
coisas, com uma incomparável capacidade de trabalho, esses dois homens agiram como
duas encarnações da pátria. Não foram homens de partido. Não tiveram paixões políticas a
orientá-los neste ou naquele sentido. Trabalharam pela grandeza nacional, acompanhados
pela simpatia geral, prestigiados pelo apoio de todos. Por isso receberam as bênçãos de
todos.
O velho Dr. Pereira Passos, repetimos, era um tipo único de nosso meio pela energia
superior da vontade e pela visão segura e certa das coisas. Quando lhe coube assumir o
governo da cidade, ninguém acreditou realizável a obra que sem dificuldades se realizou. (...)
Em quatro anos esta feita uma reforma sem igual, transformada completamente a cidade.
Deixando a administração da cidade, as pedras que se atiravam sobre o demolidor
implacável se transformaram em flores ao incomparável remodelador. A cidade estava uma
jóia. As rendas municipais aumentadas. O funcionalismo da Prefeitura pago em dia.
E quando o grande homem tomou o vapor para ir descansar na Europa, para repousar da
surpreendente atividade despendida, a população carioca fez uma ardente apoteose. O Dr.
Pereira Passos acaba de falecer gozando nesta cidade de uma popularidade só comparável
à que cerca o nome de Rio Branco. Foi um homem." A Tribuna, 3 de março de 1913.
AS MANCHETES
Dr. F. Pereira Passos - O Grande Remodelador Da Cidade Morreu, Em Viagem A Bordo Do
Araguaia (A Notícia)
Uma Perda Nacional - Dr. Francisco Pereira Passos (Folha do Dia)
Um Homem - O Dr. Pereira Passos (A Tribuna)
O Remodelador Da Nossa Cidade - O Seu Falecimento (A República)