São Paulo, Domingo, 11 de Abril de 1999
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RISCO NO DISCO

Passagem

LEDUSHA SPINARDI

Talvez um sopro longínquo de neve tenha deixado seu hálito ali. As mãos tateiam as formas que respiram sobre os móveis da sala sonâmbula. Tudo persiste num tempo simultaneamente elástico e estático, só possível naquela sala que sobrevive sem o resto da casa, absoluta. Estatuetas, livros pesados recheados de gravuras colhidos pelos cantos do mundo, almofadas cor de vinho, o gamão na caixa em ébano e marfim onde ainda pulsa um jogo interrompido, peças de Murano, estantes imensas, livros de toda espécie, incitação à curiosidade vigorosa que já ostentara com orgulho; as partituras sobre o piano fizeram ressoar outras estações no peito nublado. Sentado na poltrona diante da janela que se abria para o jardim, dissolveu-se na luz indefinida do crepúsculo.


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