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RISCO NO DISCO
Passagem
LEDUSHA SPINARDI
Talvez um sopro longínquo de neve tenha deixado
seu hálito ali. As mãos tateiam as formas que respiram sobre os móveis da sala
sonâmbula. Tudo persiste
num tempo simultaneamente elástico e estático, só
possível naquela sala que
sobrevive sem o resto da casa, absoluta. Estatuetas, livros pesados recheados de
gravuras colhidos pelos
cantos do mundo, almofadas cor de vinho, o gamão
na caixa em ébano e marfim onde ainda pulsa um
jogo interrompido, peças
de Murano, estantes imensas, livros de toda espécie,
incitação à curiosidade vigorosa que já ostentara
com orgulho; as partituras
sobre o piano fizeram ressoar outras estações no peito nublado. Sentado na poltrona diante da janela que
se abria para o jardim, dissolveu-se na luz indefinida
do crepúsculo.
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