|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Casa Grande e Senzala" e "Raízes do Brasil" são eleitos os melhores
livros brasileiros de não-ficção de todos os tempos; obra de
Fernando Henrique Cardoso não é citada
Freyre e Sérgio Buarque empatam
da Reportagem Local
Os anos politicamente tensos do
pós-Revolução de 1930 foram
também, para o Brasil, um momento decisivo do pensamento do
país, em boa parte então direcionado à obsessiva definição de uma
identidade nacional e de um projeto que pudesse plenamente realizá-la. Foi basicamente nesse contexto que brotaram "Casa Grande
e Senzala" (1933) e "Raízes do
Brasil" (1936).
O livro de Gilberto Freyre e o de
Sérgio Buarque de Holanda encabeçam a lista dos 30 melhores livros brasileiros de não-ficção de
todos os tempos, empatados em
primeiro lugar, de acordo com a
indicação de dez intelectuais ouvidos pela Folha (leia a lista de cada
jurado nesta página e os 30 livros
classificados no resultado final na
página ao lado).
Os integrantes do júri observam
o fato de que Gilberto Freyre e Sérgio Buarque -apesar de unidos
aqui na primeira posição- mantinham, quando da publicação de
suas obras, posições opostas na altamente politizada intelectualidade brasileira de então -Freyre associado à linha conservadora e
Sérgio Buarque à progressista.
""Casa Grande e Senzala" foi
submetida a uma exclusão por razões ideológicas, mas isso não tira
em nada sua densidade", diz Bento Prado Jr. Ao que complementa
Renato Janine Ribeiro: "Uma coisa é a nossa simpatia ideológica,
outra é a relevância do texto".
Maria Sylvia Carvalho Franco
acredita, no entanto, que se trata
no fundo de uma falsa discussão.
Para ela, Sérgio Buarque foi, a seu
modo, especificamente nesse livro, um conservador.
Há algumas curiosidades nessa
lista de não-ficção brasileira. A
maior parte das obras procura fazer uma síntese interpretativa do
que seria o país, com ênfase na sociologia, na história e na literatura.
Ainda que a relação abarque toda
a história brasileira, a maioria dos
textos escolhidos são deste século
-27, contra 3 livros do século 19.
Há, por fim, ausências significativas. A principal delas é a de Fernando Henrique Cardoso, autor
de volumosa obra em sociologia e
um dos formuladores da chamada
"teoria da dependência", mas
que não chegou a ser citado por
nenhum dos jurados.
Nicolau Sevcenko acredita haver
nisso algo compreensível, na medida em que mencionar a obra de
Fernando Henrique implicaria em
reconhecer um autor que "renegou a própria obra". Rogério Cézar de Cerqueira Leite afirma que a
não-lembrança do sociólogo é
mais significativa quando se leva
em conta o fato de parte dos especialistas consultados terem como
origem a mesma Universidade de
São Paulo, na qual o atual presidente da República lecionou.
Maria Sylvia Carvalho Franco,
sua contemporânea, diz que FHC
é ainda um autor bastante citado,
sobretudo pela geração de brasilianistas norte-americanos. Argumenta, no entanto, que ela própria
não o mencionaria, por acreditar
que "a teoria da dependência e a
adesão dele à globalização são
duas maneiras diferentes de dourar a pílula do imperialismo".
(JOÃO BATISTA NATALI)
Texto Anterior: Sartre e Beauvoir Próximo Texto: Jean Marcel Carvalho França: Duas sínteses do Brasil Índice
|