São Paulo, Terça-feira, 23 de Fevereiro de 1999
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Japão vive incerteza

MARCIO AITH
de Tóquio

Um clima de incerteza marca a preparação do Japão -segunda maior economia do mundo- em relação ao bug.
A pouco mais de dez meses do ano 2000, alguns especialistas afirmam que o país estaria malpreparado para evitar o colapso de seus computadores.
Outros acreditam que o Japão teria "anticorpos" naturais contra o problema, e sustentam que as críticas vem de empresas norte-americanas que não estariam conseguindo vender serviços "antibug" aos desconfiados bancos japoneses.
Seja qual for a verdade, o governo japonês decidiu adotar em setembro de 1998 uma postura mais agressiva diante do assunto.
Desde então, um grupo criado pelo primeiro-ministro, Keizo Obuchi, acompanha a conversão dos sistemas nos setores público e privado. Segundo ele, praticamente todas as empresas do país estarão preparadas até julho.
A iniciativa não conseguiu barrar as críticas que o país vem sofrendo. A comunidade ocidental afirma que o orçamento público japonês destinado ao problema limita-se a US$ 270 milhões -menos da metade do que o Citicorp (banco norte-americano) já gastou para se preparar.
"Há uma grande confusão por trás das críticas ao Japão", diz Takewa Sato, especialista que presta assessoria a empresas de telecomunicações. "Os ocidentais acham que somente os países que gastaram fortunas poderão ver-se livres do bug. Isso não é verdade."
A questão é complicada. A começar do fato de que, no Japão, parte dos computadores de pequenas e médias empresas tem programas que escrevem datas com base no "sistema imperial". Para eles, estamos no ano 11 da Era Heisei.
Os críticos rebatem esse argumento dizendo que o "sistema imperial" não é usado nos grandes bancos nem nos serviços de caráter mundial, que usam o sistema ocidental de contar datas.
Mas, mesmo assim, existiria um outro dado que tornaria o Japão imune ao bug -segundo a avaliação dos japoneses. As grandes empresas do país sempre tiveram receio de contratar funcionários externos para montar seus sistemas, e preferiram deixar o serviço a funcionários antigos.
Como resultado, a maioria das grandes corporações japonesas tem registros detalhados de praticamente todas as linhas de código de seus programas. Seria fácil, para elas, proteger-se do bug.
Uma piada que circula no país diz que alguns funcionários, para não serem demitidos durante a crise econômica japonesa, decoraram o significado de cada uma das 100 milhões de linhas dos programas de seus patrões.
A verdade, no entanto, é que os dados do governo sobre o assunto são recentes e, para alguns, pouco confiáveis.
O grupo criado pelo primeiro-ministro afirma que mais da metade dos bancos já renovaram e testaram seus sistemas. Os outros completariam os testes até a metade do ano.
No setor de energia, 90% das empresas estariam em fase final de testes, e as empresas fornecedoras de eletricidade já teriam concluído 67% do trabalho.


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