São Paulo, Terça-feira, 23 de Fevereiro de 1999
Próximo Texto | Índice

No primeiro dia do ano 2000, computadores que têm programas antigos podem parar afetados pelo bug do milênio; empresas devem ser mais atingidas que microcomputadores
O dia do prejuízo final

MARIA ERCILIA
Editora de Internet

Nunca o barato saiu tão caro. Uma pequena economia feita há mais de quatro décadas pode custar ao mundo inteiro mais de US$ 500 bilhões, sem contar possíveis prejuízos.
Tudo começou com os cartões perfurados onde se escreviam os programas dos primeiros computadores, no fim dos anos 50. Para economizar espaço, os programadores da época escreviam as datas assim: 23/02/99, reservando somente dois dígitos para o ano. Afinal, os dois primeiros dígitos eram os mesmos havia quase mil anos.
Quando chegar o primeiro dia do ano 2000, os computadores que não forem corrigidos vão entender que se trata de 01/01/00, e não conseguirão distinguir entre 2000 e 1900, o que pode levá-los a fazer cáculos incorretos.
Parece um problema simples. Mas o número de computadores que precisam ser consertados e a relativa falta de tempo para fazê-lo acabou por tornar a tarefa gigantesca. As consequências são tão imprevisíveis que os especialistas não chegam a um acordo sobre a dimensão do problema.
Os menos preocupados acreditam que a maioria dos erros não terá consequências muito sérias nem será insolúvel, e que computadores já têm centenas de outros bugs que dão problemas o tempo todo. Este pelo menos tem data marcada e causa conhecida.
Mas, para os alarmistas, o problema é justamente este: todos os erros vão acontecer ao mesmo tempo, o que pode multiplicá-los. O fato de milhões de computadores estarem interligados no mundo inteiro poderia aumentar mais este efeito, pois eles formam um sistema complexo e descentralizado cujo comportamento é impossível de predizer.
Se por um lado as empresas estão sendo obrigadas a passar em revista suas redes, num processo lento e custos, por outro, quem usa computadores em casa está bem menos exposto ao bug. Os defeitos que podem ocorrer são mais previsíveis e têm solução. O mesmo ocorre com eletrônicos de consumo, como fax, telefones, vídeos etc.
No Brasil, o setor bancário e o governo afirmam que seus ajustes estão prontos ou quase. Mas convém examinar pagamentos de contas, reservas de viagens e outras fontes de problemas potenciais, e pedir informações às empresas.
Não deixa de ser irônico que a confiança excessiva na tecnologia tenha acabado por gerar tamanha incerteza.
Os milenaristas que esperavam que o mundo acabasse no ano 1000 nos parecem vítimas ingênuas de uma alucinação coletiva. Hoje, em vários lugares do mundo, grupos de pessoas estão se preparando enfrentar o bug como se fosse a última versão do apocalipse: fugindo das cidades, estocando comida e trocando dinheiro por ouro. Daqui a alguns anos, o comportamento delas também deverá soar como loucura. As previsões sobre o bug só carecem de um elemento das profecias apocalípticas: Deus, substituído pelos computadores.


Próximo Texto: Economia de espaço saiu cara demais
Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.