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No primeiro dia do ano 2000, computadores que têm programas antigos podem parar afetados pelo bug do milênio; empresas devem ser mais atingidas que microcomputadores
O dia do prejuízo final
MARIA ERCILIA
Editora de Internet
Nunca o barato saiu tão caro.
Uma pequena economia feita há
mais de quatro décadas pode custar ao mundo inteiro mais de US$
500 bilhões, sem contar possíveis
prejuízos.
Tudo começou com os cartões
perfurados onde se escreviam os
programas dos primeiros computadores, no fim dos anos 50. Para
economizar espaço, os programadores da época escreviam as datas
assim: 23/02/99, reservando somente dois dígitos para o ano. Afinal, os dois primeiros dígitos eram
os mesmos havia quase mil anos.
Quando chegar o primeiro dia do
ano 2000, os computadores que
não forem corrigidos vão entender
que se trata de 01/01/00, e não conseguirão distinguir entre 2000 e
1900, o que pode levá-los a fazer
cáculos incorretos.
Parece um problema simples.
Mas o número de computadores
que precisam ser consertados e a
relativa falta de tempo para fazê-lo
acabou por tornar a tarefa gigantesca. As consequências são tão
imprevisíveis que os especialistas
não chegam a um acordo sobre a
dimensão do problema.
Os menos preocupados acreditam que a maioria dos erros não terá consequências muito sérias nem
será insolúvel, e que computadores já têm centenas de outros bugs
que dão problemas o tempo todo.
Este pelo menos tem data marcada
e causa conhecida.
Mas, para os alarmistas, o problema é justamente este: todos os
erros vão acontecer ao mesmo
tempo, o que pode multiplicá-los.
O fato de milhões de computadores estarem interligados no mundo
inteiro poderia aumentar mais este
efeito, pois eles formam um sistema complexo e descentralizado
cujo comportamento é impossível
de predizer.
Se por um lado as empresas estão
sendo obrigadas a passar em revista suas redes, num processo lento e
custos, por outro, quem usa computadores em casa está bem menos
exposto ao bug. Os defeitos que
podem ocorrer são mais previsíveis e têm solução. O mesmo ocorre com eletrônicos de consumo,
como fax, telefones, vídeos etc.
No Brasil, o setor bancário e o governo afirmam que seus ajustes estão prontos ou quase. Mas convém
examinar pagamentos de contas,
reservas de viagens e outras fontes
de problemas potenciais, e pedir
informações às empresas.
Não deixa de ser irônico que a
confiança excessiva na tecnologia
tenha acabado por gerar tamanha
incerteza.
Os milenaristas que esperavam
que o mundo acabasse no ano 1000
nos parecem vítimas ingênuas de
uma alucinação coletiva.
Hoje, em vários lugares do
mundo, grupos de pessoas
estão se preparando enfrentar o bug como
se fosse a última versão do
apocalipse: fugindo das cidades, estocando
comida e trocando dinheiro
por ouro. Daqui a alguns
anos, o comportamento
delas também
deverá soar como loucura. As
previsões sobre o bug só carecem de um
elemento das
profecias apocalípticas:
Deus, substituído pelos
computadores.
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