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Juntando
a fome e a vontade de comer, considerando a diferença
existente entre ambas, decidimos solucionar essas questões
saciando as duas num único golpe, quando optamos por
"comer fora", mais precisamente em restaurantes.
Quando entramos na casa eleita, o mundo parece clarear na
esperança de uma boa surpresa (quando se trata de novas
experiências) ou de boas lembranças (quando o
estabelecimento insiste em manter a qualidade). Ler o cardápio,
fazer o pedido, esperar que o cozinheiro prepare a "encomenda"
para então comer o prato quando posto à mesa
pode parecer uma longa jornada para um corpo faminto ou um
espírito guloso.
É curioso reparar como a fome nos impõe um comportamento
mutável durante o ato de saciar nossos estômagos
mortais: na primeira garfada consideramos a comida excelente.
Transcorridas mais três, vamos pensando que o molho
talvez esteja um pouco pesado, mas que isso não deve
passar de uma impressão equivocada. Prosseguindo o
ato de mastigar, reparamos que o prato da mesa vizinha tem
uma estética mais convidativa do que o nosso. Restando
apenas uma pequena porcentagem da porção já
tímida e enrustida no prato, resolvemos fartados concordar
que aquele restaurante já fora bom outrora, ou que
esse novo estabelecimento esteja pecando na pretensão
de misturar tendências inconsistentes num modelo "fusion",
com direito a todas as cozinhas do mundo numa mesma panela.
A fome causa uma espécie de "cegueira" e
avidez incontrolável. Perde-se o discernimento, o "instinto"
crítico e até mesmo o paladar.
Conhecer restaurantes novos é como assistir a um filme
que entra em cartaz. É uma surpresa onde o final nem
sempre é feliz, mas pode ter passagens instigantes
merecedoras das estrelas que brilham nas constelações
dessas duas categorias.
Levando em conta a indicação de amigos aventureiros,
guias e roteiros gastronômicos, experimentamos as novidades
com a "fome" da surpresa. Pra lidar com ela, driblando
a ansiedade e o mau humor que a espera proporciona, é
bom optar por um pequeno antepasto ou entrada que antecedam
o prato principal. Deslumbrar-se à primeira instância
com restaurantes que mesclam folhas, flores, arquitetura "modernosa",
garçons bem-aparentados aprendendo a equilibrar bandejas,
preços acima de qualquer surpresa, intimidam manifestações
gustativas contrárias à aprovação
da moda.
Devemos, pois faz parte da nossa natureza, estar sempre disponíveis
a conhecer novidades. Novos restaurantes, novos cardápios,
novas apresentações. Mas quando a fome de sushi
bater na lembrança de um peixe bem cortado, não
devemos esquecer que o Sr. Shimizu do Sushigen, com seu domínio
da faca e português macarrônico, jamais deixará
a nossa fome transformar-se num filme triste. Correremos sim
o risco de enveredar pelo melhor dos pecados: a gula.
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