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marciafk@uol.com.br
  1º de dezembro
  Fome cega
 
Juntando a fome e a vontade de comer, considerando a diferença existente entre ambas, decidimos solucionar essas questões saciando as duas num único golpe, quando optamos por "comer fora", mais precisamente em restaurantes.

Quando entramos na casa eleita, o mundo parece clarear na esperança de uma boa surpresa (quando se trata de novas experiências) ou de boas lembranças (quando o estabelecimento insiste em manter a qualidade). Ler o cardápio, fazer o pedido, esperar que o cozinheiro prepare a "encomenda" para então comer o prato quando posto à mesa pode parecer uma longa jornada para um corpo faminto ou um espírito guloso.

É curioso reparar como a fome nos impõe um comportamento mutável durante o ato de saciar nossos estômagos mortais: na primeira garfada consideramos a comida excelente. Transcorridas mais três, vamos pensando que o molho talvez esteja um pouco pesado, mas que isso não deve passar de uma impressão equivocada. Prosseguindo o ato de mastigar, reparamos que o prato da mesa vizinha tem uma estética mais convidativa do que o nosso. Restando apenas uma pequena porcentagem da porção já tímida e enrustida no prato, resolvemos fartados concordar que aquele restaurante já fora bom outrora, ou que esse novo estabelecimento esteja pecando na pretensão de misturar tendências inconsistentes num modelo "fusion", com direito a todas as cozinhas do mundo numa mesma panela.

A fome causa uma espécie de "cegueira" e avidez incontrolável. Perde-se o discernimento, o "instinto" crítico e até mesmo o paladar.

Conhecer restaurantes novos é como assistir a um filme que entra em cartaz. É uma surpresa onde o final nem sempre é feliz, mas pode ter passagens instigantes merecedoras das estrelas que brilham nas constelações dessas duas categorias.

Levando em conta a indicação de amigos aventureiros, guias e roteiros gastronômicos, experimentamos as novidades com a "fome" da surpresa. Pra lidar com ela, driblando a ansiedade e o mau humor que a espera proporciona, é bom optar por um pequeno antepasto ou entrada que antecedam o prato principal. Deslumbrar-se à primeira instância com restaurantes que mesclam folhas, flores, arquitetura "modernosa", garçons bem-aparentados aprendendo a equilibrar bandejas, preços acima de qualquer surpresa, intimidam manifestações gustativas contrárias à aprovação da moda.

Devemos, pois faz parte da nossa natureza, estar sempre disponíveis a conhecer novidades. Novos restaurantes, novos cardápios, novas apresentações. Mas quando a fome de sushi bater na lembrança de um peixe bem cortado, não devemos esquecer que o Sr. Shimizu do Sushigen, com seu domínio da faca e português macarrônico, jamais deixará a nossa fome transformar-se num filme triste. Correremos sim o risco de enveredar pelo melhor dos pecados: a gula
.

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