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23/11/2002
-
10h21
da Folha Online
Os conflitos que deixaram pelo menos 105 mortos e 500 feridos e resultaram no cancelamento do concurso Miss Mundo deverão afetar a imagem internacional da Nigéria, já bastante deteriorada pelos recentes fatos relacionados com a aplicação da Charia, a lei islâmica.
Nos últimos tempos, a cobertura internacional centrou-se nas condenações à morte por apedrejamento de mulheres acusadas de adultério, penas pronunciadas por tribunais islâmicos do norte da Nigéria. Algumas candidatas a Miss Mundo chegaram a se negar em participar do concurso para protestar contra essas condenações.
A maioria das candidatas, por outro lado, espera ir para Londres, onde o concurso ocorrerá em 7 de dezembro, o quanto antes. "Fomos usadas como pretexto. As pessoas estão se matando e dizem que tudo é por causa do Miss Mundo", reclamou Paula Murphy, Miss Escócia. "Um concurso de beleza não vale a pena se provoca mortes e quero voltar para casa o quanto antes possível", acrescentou.
Os protestos
Jovens cristãos e muçulmanos começaram a se enfrentar na quarta-feira (20), depois da publicação do artigo jornal "This Day", em 16 de novembro. O artigo sugeria que até o profeta Maomé, fundador do islamismo, se casaria com uma das participantes do concurso de beleza, que estava marcado para ocorrer na capital Abuja, no dia 7 de dezembro. A publicação foi considerada pelos muçulmanos uma blasfêmia.
O artigo deflagrou três dias de confrontos em Kaduna, cidade majoritariamente muçulmana no norte do país. Os conflitos se alastraram também para a capital Abuja.
Os violentos distúrbios entre cristãos e muçulmanos continuaram hoje pela manhã na cidade de Kaduna, apesar da decisão de transferir o concurso de beleza Miss Mundo, que seria realizado em 7 de dezembro, em Abuja, a capital nigeriana.
A realização do concurso de Miss Mundo provocou polêmica entre os muçulmanos. Rapidamente, a situação evoluiu para uma manifestação contra o concurso de beleza e para um enfrentamento entre cristãos e muçulmanos.
As autoridades enviaram militares para ajudar a polícia. O toque de recolher, decretado na quarta-feira, foi prolongado por 24 horas, depois de uma nova noite de confrontos, em que jovens muçulmanos e cristãos queimaram igrejas e mesquitas, saquearam lojas e destruíram veículos.
Várias candidatas ameaçaram boicotar o evento em protesto contra a condenação à morte de mulheres por tribunais islâmicos do norte do país. Mas o governo garantiu que nenhuma mulher será apedrejada, e depois disso cerca de 90 candidatas desembarcaram na Nigéria, na semana passada, muitas delas expressando apoio a mulheres condenadas por adultério pela lei islâmica.
Prisão
A polícia secreta nigeriana prendeu o editor de um jornal acusado de desencadear a onda de violência ao publicar o artigo supostamente profano que envolveu o concurso de Miss Mundo, informou seu jornal hoje.
Edwin Ukanwa, diretor dos serviços de segurança do Estado, explicou à imprensa que Simon Kolawole, editor do jornal, e o jornalista Isioma Daniel, foram presos, mas ainda não havia acusações contra eles.
O "This Day", que se desculpou pelo artigo, disse que o editor de sua edição de sábado, Simon Kolawole, foi preso ontem e não foi visto desde então.
Violência
Um jornalista da agência de notícias France Presse foi obrigado a refugiar-se hoje junto com cerca de mil pessoas numa fábrica de cerveja Kronenbourg, no sul da cidade, perto da estrada principal para Abuja, situada a 180 quilômetros de Kaduna.
Essa fábrica encontra-se sob vigilância do exército.
Uma outra mulher afirmou que um bando tentou matá-la depois de ter incendiado a sua casa. Só conseguiu salvar-se - segundo disse - por ter garantido que era muçulmana. Um homem disse que viu o seu irmão ser cortado em pedaços.
Londres
"Os organizadores do Miss Mundo 2002 decidiram mudar a final do concurso para Londres, Inglaterra", anunciou a organização do concurso, que será realizado em 7 de dezembro.
"A decisão foi tomada depois de um estudo cuidadoso de todas as questões pendentes e do interesse geral da Nigéria e dos participantes da edição deste ano", informou a organização do evento.
A decisão de cancelar o evento desagradou o presidente nigeriano Olusegún Obasanjo, que havia dado seu público apoio ao concurso apenas algumas horas antes da decisão tomada.
Com agências internacionais
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Os conflitos que deixaram pelo menos 105 mortos e 500 feridos e resultaram no cancelamento do concurso Miss Mundo deverão afetar a imagem internacional da Nigéria, já bastante deteriorada pelos recentes fatos relacionados com a aplicação da Charia, a lei islâmica.
Nos últimos tempos, a cobertura internacional centrou-se nas condenações à morte por apedrejamento de mulheres acusadas de adultério, penas pronunciadas por tribunais islâmicos do norte da Nigéria. Algumas candidatas a Miss Mundo chegaram a se negar em participar do concurso para protestar contra essas condenações.
A maioria das candidatas, por outro lado, espera ir para Londres, onde o concurso ocorrerá em 7 de dezembro, o quanto antes. "Fomos usadas como pretexto. As pessoas estão se matando e dizem que tudo é por causa do Miss Mundo", reclamou Paula Murphy, Miss Escócia. "Um concurso de beleza não vale a pena se provoca mortes e quero voltar para casa o quanto antes possível", acrescentou.
Os protestos
Jovens cristãos e muçulmanos começaram a se enfrentar na quarta-feira (20), depois da publicação do artigo jornal "This Day", em 16 de novembro. O artigo sugeria que até o profeta Maomé, fundador do islamismo, se casaria com uma das participantes do concurso de beleza, que estava marcado para ocorrer na capital Abuja, no dia 7 de dezembro. A publicação foi considerada pelos muçulmanos uma blasfêmia.
O artigo deflagrou três dias de confrontos em Kaduna, cidade majoritariamente muçulmana no norte do país. Os conflitos se alastraram também para a capital Abuja.
Os violentos distúrbios entre cristãos e muçulmanos continuaram hoje pela manhã na cidade de Kaduna, apesar da decisão de transferir o concurso de beleza Miss Mundo, que seria realizado em 7 de dezembro, em Abuja, a capital nigeriana.
A realização do concurso de Miss Mundo provocou polêmica entre os muçulmanos. Rapidamente, a situação evoluiu para uma manifestação contra o concurso de beleza e para um enfrentamento entre cristãos e muçulmanos.
As autoridades enviaram militares para ajudar a polícia. O toque de recolher, decretado na quarta-feira, foi prolongado por 24 horas, depois de uma nova noite de confrontos, em que jovens muçulmanos e cristãos queimaram igrejas e mesquitas, saquearam lojas e destruíram veículos.
George Esiri/Reuters - 11.nov.2002 |
Participantes do concurso chegam a Abuja, na Nigéria |
Várias candidatas ameaçaram boicotar o evento em protesto contra a condenação à morte de mulheres por tribunais islâmicos do norte do país. Mas o governo garantiu que nenhuma mulher será apedrejada, e depois disso cerca de 90 candidatas desembarcaram na Nigéria, na semana passada, muitas delas expressando apoio a mulheres condenadas por adultério pela lei islâmica.
Prisão
A polícia secreta nigeriana prendeu o editor de um jornal acusado de desencadear a onda de violência ao publicar o artigo supostamente profano que envolveu o concurso de Miss Mundo, informou seu jornal hoje.
Edwin Ukanwa, diretor dos serviços de segurança do Estado, explicou à imprensa que Simon Kolawole, editor do jornal, e o jornalista Isioma Daniel, foram presos, mas ainda não havia acusações contra eles.
O "This Day", que se desculpou pelo artigo, disse que o editor de sua edição de sábado, Simon Kolawole, foi preso ontem e não foi visto desde então.
Violência
Um jornalista da agência de notícias France Presse foi obrigado a refugiar-se hoje junto com cerca de mil pessoas numa fábrica de cerveja Kronenbourg, no sul da cidade, perto da estrada principal para Abuja, situada a 180 quilômetros de Kaduna.
Essa fábrica encontra-se sob vigilância do exército.
Uma outra mulher afirmou que um bando tentou matá-la depois de ter incendiado a sua casa. Só conseguiu salvar-se - segundo disse - por ter garantido que era muçulmana. Um homem disse que viu o seu irmão ser cortado em pedaços.
Londres
"Os organizadores do Miss Mundo 2002 decidiram mudar a final do concurso para Londres, Inglaterra", anunciou a organização do concurso, que será realizado em 7 de dezembro.
"A decisão foi tomada depois de um estudo cuidadoso de todas as questões pendentes e do interesse geral da Nigéria e dos participantes da edição deste ano", informou a organização do evento.
A decisão de cancelar o evento desagradou o presidente nigeriano Olusegún Obasanjo, que havia dado seu público apoio ao concurso apenas algumas horas antes da decisão tomada.
Com agências internacionais
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