charl™ of course

receitas

Penne com champion e alho poró

Misto de peixe, camarão, lula, shitake e legumes grelhados

Molho tártaro

Haddock com molho de dill

Batatinhas Sautées

Bife de atum com shitake

Molho de shoyu

Camarão com molho de gruyère

Molho de gruyère

Risoto de espinafre

Magret de pato com maçã sautée

Jambonneau de frango com funghi

Vitela recheado com
damasco e alecrim

Molho rôti de vitela

Batata gratinada

Carne seca com quibebe

garom


Olhando assim não parece nada apetitoso. Essa grande panela borbulhante, com os ingredientes já meio disformes boiando num cozido sem cor definida... Não sei o que aquele rapaz de óculos viu nisso aqui. O fato é que atravessou a porta do restaurante como se já conhecesse tudo. Sentou-se à melhor mesa ­ a que dá vista para o porto ­ e pediu o vinho que costumo indicar somente para os mais íntimos. Parecia um velho freqüentador e, no entanto, era a primeira vez que entrava neste estabelecimento. Vinha de longe, Brasil ou Venezuela, não sei, mas não era marinheiro como os outros... Estranho que tivesse chegado aqui, neste pequeno porto perdido ao sul do mar mais gelado do planeta.

Estranho que tivesse encontrado esta aldeia debaixo de tanta neblina...

Viu o patrão no fundo do salão, diante de seu habitual prato de cozido. Não era exatamente um prato típico, nem constava do cardápio. Era só a comida dos funcionários do restaurante. Ele costumava comê-lo escondido na última mesa, lá no fundo, porque achava que seu aspecto poderia espantar os fregueses. O rapaz de óculos, certamente impressionado com as maneiras rudes do patrão à mesa, perguntou quem era ele e o que estava comendo. Respondi que era o dono do restaurante e que o prato era o cozido da casa. Nenhum deles era muito recomendável... Mas o rapaz quis conhecer o patrão e, sobretudo, experimentar aquele prato. Expliquei que um não primava pelas boas maneiras e o outro parecia mera lavagem para porcos. Ele insistiu.

Levei-o até lá. O homem nem sequer ergueu os olhos do prato, continuou comendo com aquela volúpia diante do estrangeiro. Não tinha tempo para bolivianos ou argentinos, seja lá o que ele fosse...

Mas ele não desistiu. Queria experimentar o cozido de qualquer maneira. ³Se o dono do restaurante está comendo é porque é bom.² Trouxe-lhe o prato. Para espanto de todos, começou a saboreá-lo cuidadosamente. O cozinheiro veio à janela da cozinha para observar. O dono do restaurante abandonou por um minuto seu prato para acompanhá-lo de soslaio. Aos poucos, os outros fregueses, marinheiros e prostitutas do cais, começaram a se interessar pelo prato que o rapaz devorava com gosto. Os pedidos vieram de todo o salão. Foi o grande sucesso do dia e é o carro-chefe deste restaurante até hoje.

O patrão colocou o cozido no cardápio como prato especial. O cozinheiro teve de botar no papel uma receita que durante anos executava de memória e o pintor da aldeia precisou refazer a placa que ornava nossa fachada: o cozido agora empresta seu nome ao restaurante.

Nunca soubemos quem era aquele rapaz. Sabemos apenas que veio do Paraguai ­ ou do Peru, sei lá ­ e que, sem perceber, orquestrou a maior jogada de marketing que esta pequena aldeia já viu. Até hoje, quando o cozinheiro inventa um novo prato, o patrão ocupa uma mesa no meio do salão e o devora com toda aquela volúpia. Dependendo do movimento, ele chega a comer o mesmo prato até oito vezes para dar o exemplo. Funciona. Com essa técnica, ele tem ficado mais rico a cada dia. E muito mais gordo.
Não sei que o que aquele rapaz faz lá na Bolívia ou no Paraguai, de onde veio. Mas, seja onde for, ele devia abrir um restaurante. Parece que entende da coisa.

O rapaz abriu um restaurante... Em 1989 abri o restaurante da Barão de Capanema, um lugar para reunir amigos e degustar pratos que eu preparava e que tinham um pouco da cozinha portuguesa, da comida da fazenda e de influência francesa. O Charlô passou por diversas reformas até ficar com a cara de hoje: um bistrô paulista.

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