PRISÃO DE LUIZ CARLOS PRESTES
"A prisão do capitão Luiz Carlos Prestes constitui, indubitavelmente, o acontecimento de
maior sensação destes últimos tempos. Quando, em novembro, o país se abalou com as
rebeliões comunistas do norte e do centro, todas as atenções convergiram para esse
personagem misterioso, chefe supremo do movimento da extrema esquerda no continente
sul-americano. Em todo o território nacional, lançou-se a teia das investigações
severissimas, que se desdobravam dia-a-dia do litoral ao coração do sertão.
Hoje, a polícia carioca, em diligência verdadeiramente notável, prendeu Luiz Carlos Prestes,
numa pequena casa solitária no Meyer. É a primeira vez que, no mundo inteiro, se detém o
chefe messiânico de uma revolução, como bem acentuou ao Correio da Noite o capitão
Filinto Muller. E isso honra sobremodo a organização policial da Capital da República. (...)
Informam os moradores das vizinhanças da casa onde foi preso Luiz Carlos Prestes, que os
seus moradores eram extremamente misteriosos. Não saiam quase e evitavam, sempre,
qualquer contato com outras pessoas. Em horas avançadas recebiam visitas de pessoas que
viajavam, de ordinário, em automóveis. (...)
Na residência de Luiz Carlos Prestes a polícia apreendeu um caixote contendo livros, quase
todos versando sobre a vida financeira da nação. Grande parte tida sobre a dívida externa
do Brasil. (...)
Entre a bagagem de Luiz Carlos Prestes, foi encontrada, além de farto material de
propaganda comunista, uma batina de padre. (...)
Prestes antes de mudar-se para o Meyer, coisa que fez há dois meses, morou à rua N.S.
Copacabana, número 864, conforme afirmou, em depoimento o comunista Allan Baron. A
casa referida é de propriedade do senador Antônio Jorge Medeiros de Lima. (...)
Estava instituido um prêmio de 100 contos de réis a quem efetuasse a prisão do chefe
comunista Luiz Carlos Prestes. Com as diligências realizadas hoje, ficou evidenciado que a
prisão do perigoso chefe vermelho foi efetuada pelo chefe de grupo da P.E. João Torres
Galvão e também pelo auxiliar de gabinete da D.I.P.S. Francisco Menezes Juliano, com o
auxílio de investigadores e soldados da Polícia Especial. Foi, entretanto, João Torres Galvão
quem primeiro se confrontou com Luiz Carlos Prestes, dando-lhe voz de prisão." Correio da
Noite, 5 de março de 1936.
"Às primeiras horas da manhã a polícia efetuou no Meyer a prisão do capitão Luiz Carlos
Prestes, chefe dos comunistas no Brasil. Daremos detalhes na próxima edição sobre a
sensacional diligência da polícia carioca, hoje realizada." Diário da Noite, 5 de março de
1936 - Primeira Edição)
"Há cerca de um mês a polícia carioca vinha realizando ativas diligências no Estado do Rio,
em Nova Iguaçu onde, segundo denuncia recebida, estava localizado o ex-capitão Luiz
Carlos Prestes, chefe do movimento comunista da América do Sul. Todas as diligências
então realizadas, firmadas em documentos e cartas achadas em poder de Miranda,
secretário do partido Comunista, enviado do Komintern à América do Sul, mostraram que o
chefe vermelho ainda se encontrava em nosso território, onde procurava concatenar
elementos para uma nova investida contra o regime. não conseguindo deter Luiz Carlos
Prestes em Nova Iguaçu, a polícia prosseguiu suas investigações, prendendo o sargento de
Aviação, Azor, revoltoso da Escola de Aviação Militar e guarda-costa do chefe vermelho.
Prestes continuava no Rio, não restava dúvida, e a polícia desta capital, seguindo elementos
destacados do Partido Comunista, não tardaria, como não tardou, em localizal-o novamente.
Dias depois nossas autoridades policiais ficaram cientes de que chegaria ao Brasil, em
missão especial do Komintern, o individuo Victor Allan Baron, designado para entrar em
entendimentos com o capitão Prestes, a fim de que o mesmo o instruisse sobre as
possibilidades de implantação do regime soviético em nosso país. Allan, recolhido à
Delegacia de Ordem Pública e Social, informou às autoridades que o capitão Luiz Carlos
Prestes se encontrava de novo nesta capital, asilado em uma casa da rua Honório, com o n.
279, em Todos os Santos.(...)" Diário da Noite, 5 de março de 1936 Terceira Edição)
"Desde os sucessos de novembro que as auroridades policiais vem diligenciando para deter
o famoso comandante da "Coluna Invicta", capitão Luiz Carlos Prestes, ex-chefe da
Revolução de 1924. Essa preocupação justificava-se na presunção das citadas autoridades
de que o celebre desbravador dos sertões brasileiros estava implicado no movimento que
irrompeu naquela data em vários pontos do país, culminando com a revolta do 3o Regimento
desta capital. Já algumas vezes a Polícia anunciava estar numa pista certa, sendo em vão,
entretanto, seus esforços, de vez que se verificava sempre um insucesso. Desta vez, porém,
os elementos da Polícia Central tiveram mais sorte. Como resultado de uma diligência
ruidosa, na manhã de ontem, no bairro de Cachambi, ali na Estação do Meier e, portanto a
vinte minutos da cidade, os policiais conseguiram prender o capitão Prestes. (...)
Para prender Luiz Carlos Prestes foram requisitados mais de noventa policiais, à paisana,
que foram distribuídos pelas cercanias do prédio onde residia o famoso revolucionário. Mais
de trinta casas foram cuidadosamente revistadas. (...)
A polícia ficou espantada, quando, após seu movimentado cerco, penetrou na casa da Rua
Honório 297 a fim de prender o chefe da Revolução de 1924, esperando encontrar, ali,
grosso armamento, sucedendo o contrário das apreensões, pois, na residência de Prestes,
apesar da minuciosa busca, não foi encontrada a minima arma, nem, sequer um projétil de
revólver." O Radical, 6 de março de 1936.
"Preso há algum tempo já pela polícia carioca, o extremista Victor allan Baron, nas
declarações sucessivas que prestou, acabou por denunciar a estadia de Luiz Carlos Prestes
no Rio. Entrando em diligências a polícia terminou por localizar o ponto onde se encontrava o
chefe da revolução comunista, levando a efeito, hoje, numa diligência aparatosa, a sua
prisão. Luiz Carlos Prestes foi capturado pela manhã, à rua Honório no 279, sendo
conduzido para a Polícia. O denunciante, ao ter a notícia da prisão, suicidou-se, ao que
fomos informados, saltando do 2o andar do palácio da rua da Relação ao patio interno. O
Globo, 5 de março de 1936.
"A prisão de Luiz Carlos Prestes, pela maneira por que se consumou, vem confirmar as
suspeitas de que os chefes e inspiradores da mashorca vermelha de novembro ainda não
haviam perdido as ultimas esperanças. Conforme sempre informaram as nossas autoridades
mais responsáveis, numa constante advertência ao povo, o trabalho subterrâneo dos
agentes do Komintern prosseguia intenso nos vários setores em que o Brasil fôra dividido
pelos "técnicos" de Moscou. De outro modo, realmente, não se compreende que o principal
daqueles agentes tivesse permanecido no Rio, afrontando os riscos do cerco em que o
colocara a polícia, quando não lhe teria sido de todo modo impossível, pelo menos
transportar-se para outra cidade, talvez mesmo para outras terras, desconhecida como se
tornara a sua fisionomia, no correr dos anos, para a quase totalidade dos brasileiros. Ele,
com certeza, ainda sonhava com outro golpe..." O Globo, 5 de março de 1936 - Sexta
Edição
"A prisão do ex-capitão Luiz Carlos Prestes, ontem nesta capital, veio por ponto final na
tarefa da polícia encarregada de deter todos quantos se envolveram nos acontecimentos
vermelhos de novembro, que tão fundo magoaram a civilização do país. À polícia do Distrito
faltava, porém, a captura do verdadeiro cabeça da rebelião para apresentar-se à altura da
confiança que o Brasil liberal-democrata dela exige. (...)
O Chege revolucionário foi intimado a render-se, o que fez sem palavra. Dali, o conduziram
para a Polícia Central, juntamente com Olga Meirelles, a mulher de preto e companheira de
Prestes.
A chegada de Luiz Carlos Prestes ao palácio da rua da Relação, foi assinalada por um
idescritível movimento no interior da Polícia Central. Portas se abriam e fechavam com
estrondo, investigadores tomavam todas as saidas da casa, não permitindo nela a saída ou
entrada de quem quer que fosse. Ordens eram gritadas no segundo andar, onde está
instalada a Delegacia de Ordem Política e Social, para os investigadores que, no palco
central, corriam em todas as direções, a fim de guardarem as saídas do prédio. Ao tempo em
que tudo isso era feito, os executores das ordens, muitos deles obedeciam-nas
automaticamente, não acreditando na causa que motivara medidas tão excepcionais.
Com a prisão de Prestes todo o Comitê revolucionário para a América do Sul, se encontra
preso. Um dos membros, se suicidou ontem, atirando-se do segundo andar do edifício da
Polícia Central, ao pátio. Era ele, Victor Allan Baron que denunciou à polícia, o esconderijo
de Prestes. Os demais são: Leon Valet, Harry Berger, Rodolfo Gioldi ou Luciano Bostero e
agora, Prestes.
Acompanhado de dois investigadores, Prestes foi levado cerca das 13 horas ao gabinete do
delegado Bellens Porto, no cartório do D.I.P.S. Prestes, entretanto, negou-se a prestar
quaisquer declarações, mantendo-se em imutável silêncio. O aspecto do chefe revolucionário
é o de uma pessoa extremamente esgotada. O seu rosto tem a cor da terra, mostrando-se
muito abatido." Gazeta de Notícias, 6 de março de 1936.
AS MANCHETES
A Prisão do Antigo Comandante da Coluna Invicta (O Radical)
Preso Chefe Supremo da RevoluçÃo Comunista no Brasil
(Correio da Noite)
Epílogo dos Acontecimentos Vermelhos no Brasil (Gazeta de Notícias)
Condenado Aqui e Na Rússia - Luiz Carlos Prestes Preferiu Ser Preso A Ter Que Presar
Contas ao Komintern? (O Globo)
Todos Presos! Além de Prestes, a Polícia Encarcera Os Cinco Membros do Comitê Vermelho
da América do Sul (O Globo)
Luiz Carlos Prestes Preso no Meyer (Diário da Noite)