INTENTONA COMUNISTA
"Foi o capitão Djalma Fonseca que com um contingente de 40 homens tomou o quartel do 3o RI. O Correio da
Noite fazia parte desse grupo e pôde assim focalizar os aspectos ainda quentes da refrega. Tudo ali dentro era
um montão de escombros; no Casino todo o mobiliário estava destroçado. Na parte principal do quartel o fogo
destruiu tudo, e à hora em que deixávamos o local uma turma do Corpo de Bombeiros abafava as labaredas.
Todos os alojamentos estavam em destruição completa. Está ferido o coronel Affonso Ferreira, que, lutou,
valentemente, para sufocar o movimento. O presidente Getúlio Vargas visitou-o, no momento em que era
transportado para o H. C. E. Dirigindo-se ao coronel Ferreira o presidente da República teve para ele palavras
de conforto. À saída do quartel o presidente encontra-se com o ministro da Guerra. Trocam impressões e o
ministro da Guerra diz, que não terminara às 12, mas às 13,15, pouco além do prazo por ele marcado o combate
aos revoltosos.
Assim que o capitão Djalma fonseca tomou o 3o RI deteve o capitão Agildo Barata, que se rendeu sem
resistência. Incontinente esse oficial rebelado foi remetido para o Quartel General. O general José Pessoa
visitou o 3o RI logo depois da cessação da luta e providenciou para a unificação dos trabalhos. À sua presença
vêm os oficiais que não aderiram ao movimento; para os mesmos teve o general José Pessoa palavras de
estímulo pela maneira por que se portaram. Também esteve naquela unidade militar o general Eurico Dutra
tomando as providências necessárias. (...)
Na Vila Militar sublevou-se também a Companhia Extranumeraria. Para combatê-la, as autoridades militares
designaram os Primeiros e Segundos Regimentos de Infantaria e o Primeiro Regimento da Cavalaria
Divisionário. (...)
O 3o RI foi tomado por tropas pertencentes ao corpo de guarda e do 2o B. C. sob o comando do capitão Djalma
Fonseca. (...)
À última hora, chegaram presos ao Quartel General o capitão Agliberto Vieira de Azevedo e tenente Ivan,
chefes do movimento do 3o RI." Correio da Noite, 27 de novembro de 1935.
"O movimento extremista do 3o Regimento de Infantaria teve início às 22 horas do dia 26. Parte da guarnição,
dois dos batalhões, sob o comando do capitão Agildo Barata, que revoltara a soldadesca, por ordem, segundo
afirmou, de Luiz Carlos Prestes, saíram à rua, amotinados.
Cientes, talvez, de que o governo legal os combateria sem tréguas resolveram entrincheirar-se no próprio
quartel da sua unidade e aguardar os acontecimentos. Parte das forças da unidade, porém, não pactuaram com
os rebeldes, resultando, entre eles, sério choque que terminou pela vitória do número, isto é; dos amotinados,
que estavam em maioria.
Diante disso, as forças fiéis ao governo ocuparam o andar superior do edifício, onde ficaram como que
encurralados. De posse da situação, entrou o capitão Barata a irradiar, da estação do 3o RI comunicados às
demais unidades concitando-as à luta. Esses comunicados foram imediatamente contestados pelas demais
estações do Exército.
Nada, entretanto, demoveu os cabeças do motim, resultando saí, as primeiras provid6encias, para o
extirpamento do foco da rebelião. O alto comando da Região tomou de início medidas no sentido de serem
sitiados os rebeldes o que foi feito com guarnição de tropas federais, conduzidas para o local, por grande
número de ônibus da Light.
Cercados por todos os lados acessíveis, foi, então, iniciado o bombardeio do quartel na Praia Vermelha por três
peças de bateria do 1o grupo de obuses peças essas que foram colocadas uma nos terrenos do Fluminense
Yacht Club e as demais em plena avenida Pasteur, em frente à Faculdade de Medicina. Entrincheirados, os
soldados do 3o RI resistiram, tenazmente, isto desde as 2 horas da madrugada até às 13,30 horas quando,
então, se renderam. (...)
As tropas legais, diante da resistência dos entrincheirados, usaram de um recurso fulminante: bombas
incendiárias. Em pouco, atingida a cúpula do edifício ardia, para ruir em breve, propagando-se o fogo lenta, mas
progressivamente, pela ala esquerda e, depois, pela direita. Ao mesmo tempo eram lançados sobre as forças
rebeldes gazes lacrimogeneos o que mais agravou ainda a sua situação. (...)
Pelas 11 horas começaram a voar sobre posições inimigas cinco aviões Corsário, de reconhecimento, armados
de metralhadora. Três deles por várias vezes fizeram fogo sobre o quartel, sendo, também alvejados. (...)
O lance esperado mão se deu, entretanto. E, entre alternativas de intensa fuzilaria e descaídas súbitas,
prolongou-se a ação até às 13,30 horas, em que os revoltosos içaram a bandeira branca. (...) Correio da Noite,
28 de novembro de 1935.
"Esta madrugada revoltou-se um batalhão do 3o Regimento de Infantaria aquartelado na Praia Vermelha, sob o
comando do capitão Agildo Barata, que ali se encontrava preso. Dois batalhões do mesmo regimento continuam
fiéis ao governo, lutando contra os sediciosos.
Tropas do Exército sob o comando direto do general Eurico Gaspar Dutra iniciaram, no amanhecer de hoje, o
ataque aos rebeldes. Esse ataque está sendo feito com grande cuidado, a fim de que não sejam sacrificadas as
vidas das tropas que não aderiram ao movimento, por isso que 2 batalhões, localizados na parte alta do edifício
do quartel, repeliram as propostas dos que solicitavam apoio ao movimento.
O capitão Agildo Barata, utilizando-se da estação-rádio do 3o RI, emitiu, durante as primeiras horas da manhã
de hoje, rádios concitando outras unidades do Exército a secundarem o golpe ali iniciado e declarando vitorioso
o movimento naquele regimento. Esses rádios, porém, logo a seguir, foram desmentidos pelas estações do
Exército, reduzidos às suas verdadeiras proporções.
Na Escola de Aviação, um grupo de sargentos atacou os oficiais e assumiu o comando da tropa. O 1o
Regimento de Aviação, comandado pelo coronel Eduardo Gomes, atacou imediatamente os rebeldes, enquanto
tropas da Vila Militar, sob o comando do general José Joaquim Andrade, marchavam contra os amotinados.
O Grupo Escola de Artilharia bombardeou a Escola de Aviação. Os rebeldes incendiaram os hangares. O
movimento ali está praticamente dominado. Todos os corpos da Capital Federal, com exceção dos acima
citados, se mantêm fiéis ao governo. A Chefatura de Polícia continua a receber manifestações de solidariedade
dos principais sindicatos e centros operários desta Capital." A Noite, 27 de novembro de 1935.
"O presidente da República dirigiu ontem aos governadores o seguinte telegrama circular, comunicando-lhes
haver sido inteiramente dominado o movimento subversivo, irrompido em Natal e Recife e ontem pela
madrugada nesta capital:
- Tenho satisfação comunicar-vos movimento subversivo, de caráter comunista, irrompido noite 23 para 24 em
Natal e Recife e hoje pela madrugada no Distrito Federal se acha inteiramente dominado. Revoltosos Rio
Grande do Norte abandonaram capital Estado, onde ordem foi restabelecida. Diante impossibilidade oferecer
resistência forças se aproximavam embarcaram vapor Santos, número 500 mais ou menos, seguindo rumo
ignorado. (...)
Quanto ao Distrito Federal, ficou circunscrito Escola de Aviação de 3o RI Praia Vermelha. Irrompido esta
madrugada teve imediata e energica repressão. escola Aviação rendeu-se pela manhã e 3o RI, de onde acabo
de chegar, entregou-se, depois tenaz resistência, tendo incendiado quartel.
Há vários oficiais mortos pelos revoltosos, afora numerosas baixas ainda não identificadas resultantes luta
travada com forças legais, se conduziram valorosamente, tanto aqui como em Recife e Natal.
Embora existisse plano articulado outros pontos país, é fora de dúvida que movimento de nítida finalidade
comunista se acha dominado, enfrentado como foi resolutamente e sem perda de tempo.
Impõe-se agora sanear ambiente e afastar elementos cuja atividade anti-social tanto vem perturbando a vida do
país. Para levar a cabo essa patriótica tarefa e continuar a garantir ordem governo federal se acha
perfeitamente aparelhado e espero governo esse Estado mantenha todo vigilância em torno elementos
suspeitos, cooperando decisivamente como já o fez para restabelecer tranquilidade pública. (...)" Diário de
Notícias, 28 de novembro de 1935.
"A explosão de ferocidade e violência de que foi ontem teatro a capital da República, dizendo-se inspirada na
ideologia comunista, não interessou direta ou indiretamente às classes trabalhadoras organizadas no país e,
servindo-se das armas da Nação, sofreu o castigo sangrento que lhe impôs o Exército indignado.
Pois se a tentativa sinistra se fez à revelia do operário pacificamente trabalhando nas suas oficinas, se os
provocadores e rebeldes dentro dos quartéis não obtiveram a solidariedade da tropa - que reivindição honesta
poderiam ao menos alegar os criminosos? Não foi uma idéia social ou política, não foi um sentimento ou espírito
de corporação que ceifou tantas vidas inocentes e acarretou tantos prejuízos morais e materiais ao país.
Responsáveis pelo drama funesto são por um lado o orgulho e a presumpção da mediocridade desvairada, por
outro a cupidez, o despeito, a perversidade de alguns agitadores profissionais.
O comunismo ignaro do Sr. Luiz Carlos Prestes não é uma convicção nem uma aspiração do país. Não há nada
no ambiente político, social e econômico da Nação que torne sequer admissível a terrível supressão do Estado
jurídico e a subversão da ordem legal na sociedade em que vivemos. Longe de manifestar qualquer simpatia
pelo credo moscovita sucedem-se no povo brasileiro demonstrações de apego à liberdade e à democracia e uma
repugnância profunda pelo regime de violência.
O comunismo só é professado no Brasil por uma ridícula minoria de semi-analfabetos, de cabotinos e
exibicionistas, de aventureiros e piratas. Jamais apareceu uma forte personalidade capaz de interferir nos
nossos destinos políticos, endossando a responsabilidade de um movimento social que se propõe fazer o milagre
da felicidade humana. (...)" Diário Carioca, 28 de novembro de 1935.
"(...) Chegamos à Praia Vermelha, depois de atravessarmos todo o largo terreno que fica por trás do Hospício
Nacional, justo à hora em que o quartel do 3o Regimento começava a sofrer as consequências do bombardeio
feito pela peça de grosso calibre localizada às proximidades da sede do Yacht-Club.
Isolado como estava todo aquele trecho que vai desde o Pavilhão Mourisco até à Urca, não se via, na praia das
Saudades, aqui e ali senão grupos de soldados em torno de canhões postados em direção do quartel revoltado.
Ambiente de plena guerra, com as balas silvando no espaço e de instante a instante cortando galhos de árvores,
furando postes da Light, partindo fios telefônicos e da iluminação pública, quebrando as vidraças das casas
próximas e às vezes roubando a vida dos que se colocaram em defesa da ordem.
De momento a momento viam-se as tropas abandonar as posições em que se encontravam para ocuparem
outras logo adiante. Soldados se arastando pelo chão, artilharia em pleno funcionamento martelando a fachada
da cidadela revoltada, e, lá, em baixo, perto do mar, o canhão de grosso ronco a despejar granadas no quartel
dos amotinados. Cada assobio correspondia a um estrondo e logo as labaredas subiam do ponto visado. Os tiros
eram dados com uma precisão notável, notando-se que eram dirigidos por verdadeiros mestres na matéria. Lá
no quartel do 3o Regimento, vinha de quando em quando uma resposta através das rajadas de metralhadoras,
que iam bater de encontro às casas vizinhas ou nos troncos das árvores, atrás das quais eram vistos os mais
afoitos.
À distância em que nos encontravamos, metidos entre duas paredes pouco além do Hospício Nacional, na
avenida Pasteur, não nos permitia ver bem a extensão do incêndio que grassava no antigo prédio da Escola
Militar. O desejo de botarmos a cabeça de fora para melhor enxergar as chamas era intenso, mas as balas que
vinham de vez em quando assustar o nosso espírito impediam a realização de tal intento. (...)" Correio da
Manhã, 28 de novembro de 1935.
"A cidade trabalhava desde a véspera com a falta de notícias, muito claras, de vários pontos do país, onde
rebentaram montins grandes e pequenos, mal definidos em suas finalidades, entrou ontem em verdadeiro terror
- pânico, ferida a sua atenção pelos comunicados da polícia trazendo a notícia alarmante da amotinação de duas
unidades de nosso Exército.
Esse comunicado afixado à porta dos jornais, transmitidos pelas estações de broadcasting explicavam
justamente os tiros ouvidos no romper d'alva e eram comentados de vários modos, tomando, à medida que o
tempo ia passando, proporções enormes. Nas palestras falava-se de um movimento articulado, esperando-se
acontecimentos de grande monta para poucas horas. O pavor era grande e a expectativa ansiosa. Mesmo os
mais ponderados temiam, tivesse maiores alcances o resumido comunicado que reduzia os motins a um batalhão
do 3o R.I. , na Praia Vermelha, e a um grupo do 1o Regimento de Aviação.
Quem ontem assistisse, na Galeria Cruzeiro, a chegada da massa trabalhadora, a partir das 6 horas, teria uma
impressão de que toda aquela gente, presa de pavor, tinha o ar de quem indagava o que estava acontecendo. O
mesmo se poderia notar no largo de São Francisco, na multidão ali despejada pelos bondes fa Light, que se
espalhavam pela rua do Ouvidor, cujas casas se mantiveram fechadas até depois da hora de costume, dando
apenas entrada aos seus auxiliares. Virtualmente, o comércio esteve paralizado até quase às 10 horas.
Às oito horas, a Chefatura de Polícia, em comunicado que expedira informava que a Escola de Aviação, cercada
pelas forças do governo, se havia rendido às 7 horas e que estava sendo preparado o assalto a baioneta ao 3o
Regimento de Infantaria. Essas informações trouxeram relativa tranquilidade ao comércio e vários
estabelecimentos iniciaram o seu movimento. Ainda assim, os bancos começaram as suas operações um pouco
mais tarde e encerraram mais cedo o expediente, exceto o do Brasil.
Conforme o comunicado da Polícia, o capitão Agildo Barata, que se encontrava preso, sublevou um dos
batalhões desse regimento, e tentara, pela estaçào de rádio, sublevar outras unidades. (...)
E hontem, na hora H, para impregar a linguagem revolucionária, o capitão Agildo Barata contava com a
solidariedade de um batalhão completo e muitos elementos de outro.
Mantendo-se fiel ao Governo, um batalhão, a luta se iniciou dentro do próprio regimento, tomando lugar na
parte alta as forças fiéis e na parte baixa os revolucionários. A notícia se espalhou pelas redondezas, sendo logo
levada ao conhecimento das altas autoridades do Exército e do Chefe de Polícia." O Imparcial, 26 de novembro
de 1935.
AS MANCHETES
O Movimento Subversivo Que Irrompeu Pela Manhã Nesta Capital Foi Dominado - Uma Impressão Do
Quartel Do 3o RI Após A Cessação Da Luta (Correio da Noite)
Todo O Brasil Em Estado de Sítio - Ainda Não Há Comunicações Com As Zonas Conflagradas - Luiz Carlos
Prestes Anciosamente Procurado - Não Se Conseguiu O Acordo Com O Sr. Flores da Cunha (O Imparcial)
Declina, Parecendo Debelado, O Movimento Revolucionário Do Norte
(O Imparcial)
Debelado O Movimento Revolucionário No Norte - O Governo Reprime Energicamente Um Levante Nesta
Capital - O Presidente Da República Enfrenta A Situação Difícil Que Se Apresentou (O Imparcial)
Dominada Nesta Capital Uma Grave Rebelião Militar - Às Primeiras Horas Da Madrugada De Ontem
Revoltaram-se O 3o Regimento De Infantaria E Parte Da Escola De Aviação - As Tropas Fiéis Dominaram A
Situação Após Longas Horas De Luta, Na Qual Perderam A Vida Oficiais, Sargentos E Praças, Ficando Feridos
Numerosos Outros (Correio da Manhã)
O Sr. Getúlio Vargas Esteve Ontem Demoradamente Em Todos Os Pontos Em Que Perigosamente Se
Combatia Em Defesa Da Ordem Legal, Penetrando No Antigo Recinto Do 3o RI Antes Mesmo Da Rendição
Dos Oficiais Criminosos
O Sr. Presidente Da República Confortou Assim Com A Sua Presença As Autoridades E As Tropas Do Exército
Em Luta Pela Paz, Segurança E Felicidade Da Nação (Diário Carioca)
Dominada A Rebelião Em Todo O País - Embora Existisse Plano Articulado Em Outros Pontos Do País, O
Movimento Se Acha Dominado
(Diário de Notícias)
Graves Acontecimentos Nesta Capital (A Noite)