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CRISTO REDENTOR
Ano: 1931

"A cidade está em festa e com ela o Brasil inteiro, pela inauguração, no ápice da mais linda montanha da capital da República, do esplendido monumento que a nação consagra ao Redentor da Humanidade. Não há coração que deixe de vibrar da mais pura alegria pela celebração do acontecimento grandiloquo. Cristo, do alto da colina magnífica, abençôa a cidade e abençôa o povo que lhe implora, ungido de fé, conduza os homens ao caminho sublime da perfeição.

Foi um espetáculo soberbo, de inesquecível majestade a bênção do monumento ao Cristo Redentor, pela manhã de hoje. Estavam presentes, no alto do Corcovado, as altas autoridades eclesiasticas e civis, e, enquanto se efetuava a bela cerimônia, uma esquadrilha de aviões deslisando, tranqüila, pelos ares macios da manhã lançava braçadas de flores sobre a imagem de Jesus. Os sinos de todas as igrejas bimbalhavam festivamente. Um momento de inenarável emoção. (...)

A CompanhiaRadiotelegráfica Brasileira e Marconi, ele mesmo, haviam guardado um profundo sigilo em torno da prova que o grande inventor deveria fazer ontem à noite iluminando de Roma a estátua de Cristo Redentor. Marconi desde sexta-feira passada se comunicava com o Sr. René Bouglé, diretor geral da Radiotelegráfica, dizendo-lhe que desejava fazer domingo, às 19 1/4 , uma experiência de transmissão de onda elétrica afim de acender os refletores que deveriam iluminar a estátua. O diretor geral da Radiotelegráfica deu conhecimento do desejo de Marconi apenas aos diretores dos Diários Associados, Srs. Gabriel Bernardes, Paulo Rapaport e Assis Chateaubriand. Tratava-se de uma experiência e por isso mesmo os diretores da Radio não desejavam dar-lhes maior divulgação. (...)

Às 18 3/4 os diretores dos Diários Associados já se encontravam na sala de aparelhos da Companhia, que fica no 4o andar do edifício Hasenclever, na Avenida Rio Branco. (...)

Às 19 e 14 todos os corações palpitavam. Faltava um minuto, e esse minuto era uma eternidade. Uma eternidade tanto mais imensa e angustiosa quanto ela durou, pelo relógio da sala, 120 segundos.

Às 19 e 16 minutos todos os olhares da sala que se fixavam para a janela donde se divizava o Corcovado viram o céu cortado de um halo luminoso. Dentro da massa de nuvens, as fulgurações de luz rompiam bravamente a escuridão. Três minutos após, os rolos pardacentos se dissipam e o Cristo branco, com as suas mãos imensas de perdão e de ternura, fulgia no topo da montanha, inundado de caridade boreal. O milagre de Marconi se tinha traduzido em todo o seu esplendor." Diário da Noite, 12 de outubro de 1931.

"A data de hoje transcorre, com as imponentes cerimonias liturgicas que se estão a celebrar, festejando a inauguração do monumento do Cristo Redentor, ficará nos anais do catholicismo como um dia enaltecido por alta, significativa e eloquente afirmação de fé.

Do país inteiro e ainda de vários outros pontos do continente acorrem à formosa capital do Brasil, guiadas pelos baculos pastorais de cinco dezenas de veneráveis prelados, milhares de peregrinos cristãos, os quais, nesta manifestação de crença que redunda também numa demonstração de fraternidade, trazem a oblata das suas preces contrictas ao Cristo-Rei. (...)

Hoje, às 16 horas, começará na praia de Botafogo, a inauguração oficial do Monumento a Cristo Redentor. Nessa ocasião proferirão breves palavras, D. João Braga, Arcebispo de Curitiba; D. José Pereira Alves, Bispo de Niterói; Conego Dr. Henrique Magalhães, professor Alcebiades Delamare Nogueira da Gama, da Faculdade de Direito e Mario Michelotto, em nome dos operários católicos. Logo após, a estátua monumental de Cristo Redentor será iluminada da Itália, pelo senador Marconi. Em seguida à iluminação, haverá um grandioso prestito luminoso em honra de Cristo Redentor. Desfilarão as Ligas Católicas, podendo no mesmo tomar parte todos os católicos, munidos de lanterna.

O cortejo luminoso será em terra e no mar, porquanto os pescadores fiéis às tradições do nosso povo, darão o seu concurso, comparecendo em os seus barcos. Além do mais também as lanchas e outras embarcações aderiram. A nossa marinha também concorrerá para o maior brilho da festa, iluminando especialmente alguns dos nossos vasos de guerra. (...)" A Esquerda, 12 de outubro de 1931.

"Inaugura-se, hoje, o monumento a Cristo Redentor, ereto no cimo da montanha do Corcovado. Obra de arte que diz, eloquentemente, do acendrado espírito religioso dos católicos no Brasil, fica a simbolizar, através da majestade da obra de arte, os anseios de fé e de paz que animaram aqueles que empreenderam as cruzadas em prol do seu levantamento no alto da montanha mais elevada da Guanabara. (...)" Diário de Notícias, 12 de outubro de 1931.

"A semana do monumento a Cristo Redentor, que se ergue no alto do Corcovado, constituindo-se a maior estátua do mundo, encerrou-se ontem.

A despeito da chuva que durante todo o dia caiu sobre esta Capital, as solenidades da bênção da estátua e da missa campal no stadium do Fluminense nada perderam da sua pompa liturgica. O povo compareceu a ambas sem que o mau tempo lhe arrefecesse o entusiasmo com que nesses últimos oito dias vem participando das festas realizadas aqui desde o dia 4 corrente.

O ato culminante de domingo foi a Hora Santa do Brasil, realizada na matriz de Sant'Anna. Quando os relógios marcavam as 16 horas, todo o interior do templo tradicional se iluminou. E quem àquela hora ali chegasse já não encontraria um lugar vago. A velha igreja fôra decorada para que nela se realizasse a cerimônia. O altar-mór, ostentando a imagem de Sant'Anna, estava adornado com lírios brancos. Pela cúpula, de espaço a espaço, panejavam-se bandeiras do Vaticano e do Brasil. Bem ao centro via-se uma grande corôa dourada, forrada de púrpura. Desprendiam-se dela quatro fitas largas de cor vermelha, descendo até ao meio de quatro colunas. Simbolizava essa corôa a realeza de Cristo entre os homens. O povo se comprimia nas partes laterais e ao fundo, no recinto da igreja. Os bispos ocupavam as cadeiras do presbitério. O clero regular e secular distribuia-se em boa parte do templo. Quinze minutos depois das 16 horas dava entrada no templo o cardeal Legado. Sua Eminencia dirigiu-se à capela-mór, ocupando depois das orações a curul cardinalicia que lhe fora destinada. (...)" Diário de Notícias, 13 de outubro de 1931.

"A cidade se reveste, neste dia, das mais sublimes galas espirituais, por motivo da bênção solene da grandiosa imagem do Cristo Redentor, erigida no Corcovado.

O caminho que vai das Águas Ferreas ao Corcovado era hoje um ir e descer contínuo de católicos e romeiros, que todos ansiavam por assistir à cerimônia da inauguração da estátua de Cristo, erguida no cume do monteque domina a cidade.

Espetáculo de fé que não se costuma reproduzir muitas vezes na vida dos povos. Desde o Largo do Machado via-se o interesse que a festa de hoje estava despertando no coração e no espírito do povo. Os bondes despejavam centenas de criaturas, que disputavam, aos grupos, os carros da Estrada do Corcovado. Nas casas fronteiras, apalacetadas, viam-se colchas ricas de damasco cobrindo as janelas e sacadas, como uma homenagem aos prelados das várias doiceses brasileiras que vieram assistir à cerimônia.

Trafegaram pela manhã quatro trens especiais, destinados respectivamente ao transporte do chefe do governo e membros da administração, do cardeal D. Leme, prelados e figuras do clero, da imprensa e dos convidados especiais. O carro do Sr. Getúlio Vargas ia literalmente cheio, vendo-se além de Sua Exma. esposa todos os ministros, membros da casa civil e militar da presidência, e outras pessoas gradas.

Em frente à estação do Corcovado, numerosas pessoas do povo aguardavam as autoridades e dignatários da igreja, estabelecendo-se grande movimento naquele trecho das Laranjeiras.

No alto da montanha teve então lugar a cerimônia da inauguração da estátua de Cristo. Vários oradores se fizeram ouvir, exaltando a figura do Messias, que se sacrificou pela humanidade.

Houve inicialmente a bênção do monumento, cerimônia em que oficiou o cardeal D. Leme, seguindo-se a missa solene, celebrada por D. Aloisio Masella, nuncio apostólico. Seguiram-se os discursos eloquentes do arcebispo D. João Becker, arcebispo de Porto Alegre; Dr. Pandiá Calogeras, professor Fernando Magalhães, da Universidade do Rio de Janeiro. À última hora, continuava a solenidade, fazendo-se ouvir os oradores do programa. D. Sebastião Leme leu na cerimônia uma bula declarando enthronisada a imagem de Cristo no Brasil." A Noite, 12 de outubro de 1931.

"A cidade assistiu, ontem, deslumbrada, com a inauguração do monumento do Redentor, mais uma experiência sensacional, realizada, da Itália, por Guglielmo Marconi, na data histórica da descoberta da América.

Um gênio da ciência contemporânea iluminou, de sua pátria distante, berço do Catolicismo, e onde nasceu o descobridor do novo continente, a imagem de Cristo, fazendo-a resplandescer no Corcovado à hora exata que fora anunciada. (...)

Às dezenove horas, diante dos poderosos aparelhos da Companhia Radiotelegráfica Brasileira, o Sr. Bouguier, com os fones aos ouvidos recebe de Coltano a hora justa. Daí a quinze minutos, Marconi enviaria através da estação italiana a centelha elétrica que deveria mover a alavanca para a iluminação do monumento a Cristo Redentor, no alto do Corcovado. (...)

O Sr. Vittorio Cerrutti, embaixador da Itália junto ao governo do Brasil, recebeu, às 19.20 horas, a seguinte mensagem de Guglielmo Marconi.

- Sinto-me sobremodo satisfeito pelo fato de um feixe de ondas, por mim lançado no espaço, iluminar a estátua gigantesca do Cristo Redentor, que os brasileiros acabam de erigir sobre o Corcovado, como símbolo de sua fé, invocando a proteção divina para o seu país e para a humanidade. Envio uma saudação fervorosa ao Brasil, a nobre nação na qual tantos compatriotas meus t6em encontrado uma segunda pátria. Comprazo-me em haver juntado um novo élo à forte cadeia que estreita a Itália ao Brasil e que permite às duas grandes nações latinas irmãs uma elevada colaboração em prol do progresso e da civilização do mundo. Roma, 12 de outubro de 1931. (a) Guglielmo Marconi." O Jornal, 13 de outubro de 1931.

"Apesar do tempo mau que reinou ontem, nesta cidade, correram imponentes as festas de inauguração solene do monumento de Cristo Redentor, erguido no alcantil imponente do Corcovado.

Pode-se dizer, que toda a população carioca prestou, ontem, suas homenagens ao divino profeta do Bem, cuja religião, fecundada com o sangue generoso do martírio calvariano, já atravessou quase dois mil anos, resistindo das mais dolorosas vicissitudes às mais desenfreadas tempestades, às mais dramáticas investidas da heresia e da mentira, para surgir, cada vez mais belo, mais sugestivo, mais radioso, na sua eterna pureza.

Aquela imagem que se ergue no Corcovado não é apenas a representação do fundador de uma religião. É, acima de tudo, o símbolo de todo o idealismo de bondade, de amor, de perdão e de fraternidade. E todos nós, neste momento de incertezas, de dúvidas, de apreensões que invade a Terra, precisamos ter a palavra do Mestre bem diante dos ólhos, ritmando o nosso pensamento, lapidando a nossa fé, inspirando a nossa consciência. (...)" Diário Carioca, 13 de outubro de 1931.

AS MANCHETES

Do Alto do Corcovado, Cristo Abençoa Povo do Brasil (Diário da Noite)

A Imagem Do Mestre Domina A Cidade, Na Imponência Alcantilada Do Corcovado - É Preciso Que Cristo, O Redentor Dos Indivíduos E Das Sociedades, Proteja E Salve A Terra De Santa Cruz. Ele Pode E Quer Construir, Em Defesa Da Nação, Um Ante-Mural, Mais Resistente Do Que Aquela Muralha De Rochas Que Enfrenta A Fúria Dos Vagalhões. (Diário Carioca)

Inaugurou-se Ontem Oficialmente, Em Presença De Altas Autoridades Do Clero E Da República, O Monumento A Cristo Redentor, No Corcovado (O Jornal)

Aberta Em Cruz Sobre A Cidade A Imagem Santificada Do Cristo Redentor (A Noite)

As Festas Inaugurais Do Monumento Do Corcovado - A Vibração De Fé Católica Nas Homenagens A Cristo Redentor (A Esquerda)


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