SINHÔ
" 'Sinhô', o cantor de uma série infindável de canções, trovás e sambas, faleceu ontem,
vitimado pela grave enfermidade que a muito lhe minava o organismo. Quem não conheceu o
boêmio incorrigível, que foi o José B. de Lobo, o 'Sinhô', ou melhor 'O Rei do Samba'?
Toda a população brasileira, e mesmo pelo exterior, o trovador que desaparece era assás
conhecido. Os seus sambas, as suas marchas, as suas emboladas e cateretês eram
disputados pelos cantores.
Tinha razão de ser. 'Sinhô', fazendo a música, compunha também os versos, daí a cadência
e harmonia das suas composições. Dedilando o violão com maestria, ele empolgava desde
que aparecia. No piano era apreciadíssimo, quando tocando as suas composições. O
reclame das suas composições fazia ele mesmo, chefiando conjuntos, ora tocavam em casa
de música e ora percorriam as ruas da cidade, muitas vezes iam parar em casa de famílias
onde se realizavam festas. Teve sua época.
Há muito, a tuberculose apoquentava-o. Ontem, quando saltava de uma barca, vindo de
Niterói, 'Sinhô' foi acometido de uma forte hemopthise e sucumbiu. O seu cadáver foi levado
para a residência de onde hoje sairá o enterro." Diário Carioca, 5 de agosto de 1930.
"A morte de José Barbosa da Silva, o popularíssimo 'Sinhô', já amplamente noticiada,
compungiu verdadeiramente a cidade que se diverte, e mesmo a que se não diverte.
Sirva-lhe de consolo ao espírito!
Ele, que tanto concorrera para a alegria da nossa gente, com os seus sambas de expressão
popular inegavelmente belas, vivia, de ha uns anos para cá, doente e esquecido. Não
cantava mais, porque a tosse incessante não o permitia. E lutava com as maiores
dificuldades para viver. Magro, de voz sumida, curvado ao peso da moléstia implacável que o
minava dia-a-dia, o 'Rei do Samba', por todos proclamado, era um 'cadáver vivo' a arrastar-se
pelas ruas da metropole.
Veio a morte, que todos os que conheciam 'Sinhô' esperavam, e não houve quem não
sentisse a perda do cantor. Todos, não. O governo, nem mesmo depois de morto o infeliz,
lembrou-se de prestar-lhe uma homenagem, por singela que fosse, ao verdadeiro criador da
canção brasileira, genuinamente brasileira, que tanto sucesso tem logrado aquem e além das
fronteiras do país!
O caixão de 3a classe, encerrando o corpo magerrimo do autor de 'Jura' saiu, hontem, às 17
horas, num coche de igual categoria, na capela do Hospital Hahnemaniano para uma cova
rasa no cemitério de S. Francisco Xavier. (...)" A Pátria, 6 de agosto de 1930.
"Na barca que vindo da Ilha do Governador atraca ao Pharoux pouco antes das 18 horas, foi
surpreendido pela morte de um homem que se a Fatalidade lhe tivesse cerrado os olhos na
época em que a cidade, ha uns seis anos, tinha ainda aos ouvidos o rumor da canção que
fica sempre, palpitante, ainda do Carnaval que se foi, talvez tivesse um terço da população
rendendo-lhe, compungida, a homenagem ultima na visita ao seu corpo inanimado.
Foi ele José Barbosa da Silva, ou simplesmente o 'Sinhô', o popular musicista, cujas canções
de uma modulação essencialmente carecterística lograram, indubitavelmente, estupenda
consagração.
Enfermo ha tempos, 'Sinhô', que atualmente quase não produzia já, foi, por longo tempo,
pode-se dizer, o mais popular dos nossos compositores de músicas carnavalescas.
Empunhava com justiça, o sceptio de 'Rei do Samba' como o chamavam, pois no gêenero
bem poucos conseguiram ver as suas produções alcançarem o exito das suas que chegaram
a varar fronteiras, logrando no estrangeiro o mesmo exito que aqui.
Difícil tarefa seria catalogar-se, nesta nota apressada em que não dissimulamos a surpresa
que nos causou a morte do popular compositor, quantas produções ele deixou. Foram muitas
é o que todos sabem, como bem poucos ignoram que numerica, embora mais por intuição do
que por cultura, 'Sinhô', principalmente na sua época aurea, não só compunha como
executava. A flauta, o violão e o piano lhe eram familiares.
'Sinhô' morre aos 35 anos de idade. Residia com sua companheira d. Nair Silva à rua Pio
Dutra n. 44 na Ilha do Governador. E recolhido que foi o seu corpo à capela do Hospital
Hahnemaniano, deve o seu enterro sair daí hoje à tarde, para o cemitério de S. Francisco
Xavier." A Batalha, 5 de agosto de 1930.
"A morte, numa das verdadeiras traições que constituem os bruscos epilogos que ela impõe
à vida das criaturas, acaba de alienar do convívio da cidade uma das figuras mais
conhecidas e mais queridas do Rio, principalmente o Rio que se diverte, fazendo-a
desaparecer nos socavões sombrios do desconhecido. J. B. Silva, o 'Sinhô', ou melhor, o Rei
do Samba, como a cidade inteira o sagrou, faleceu, ontem, repentinamente, quando se
achava em plena Praça 15 de Novembro. Ocorreu tudo num minuto. Um ataque que se
ouviu, o baque de um corpo e as mãos frias da morte cerrando os olhos daquele que foi o
maior interprete da alma popular nos últimos tempos.
Que singularidade! 'Sinhô', o Rei do Samba, o cantor das almas, das ruas, morreu ao contato
da alma das ruas, que ele tanto amou e interpretou nos seus anseios, escrevendo canções
populares que andaram de boca em boca, na mais larga extensão, correndo mundo. (...)" A
Crítica, 5 de agosto de 1930.
" 'Sinhô' morreu, foi a triste nova que ontem compungiu a cidade inteira. Poucos sabiam-lhe o
nome verdadeiro - José Barbosa da Silva - mas todos proclamavam 'Sinhô', como o 'Rei do
Samba' e - diremos nós - como uma expressão lidima da alma popular, nas suas alegrias,
sambas alegres que muitos perpetrou, e samas sentimentais, que tanto souberam
enternecer.
Foi a implacável tuberculose que vitimou 'Sinhô'. A sua voz sumida, nos últimos dias de sua
agitada existência - quanta luta pelo pão nosso de cada dia! - não lhe permitia mais
cantarolar, em rodas amigas, o seu 'último samba', de era ele, sempre, tão cioso; dava,
porém, e com exatidão, a certeza de que aquela carcassa, que se locomovia a custo, vibrava
ainda, cheia de esperanças, para que vibrassem, também, o coração bem brasileiro da
nossa gente e o espírito das nossas causas e dos nossos costumes.
'Sinhô' esplendeu nas ruas, nessas ruas da nossa grande metropole, que recebem e
acolhem os gritos dos que têm alma e fé, gritos que os salões engalanados, por
incomparável vergonha, não querem ouvir, mas que são a expressão definida do nosso
amor, dos nossos costumes, da nossa vida. E aqui ficam estas simples e rápidas palavras do
seu necrologio. Para a tumba de 'Sinhô', no campo santo, não desceu somente o corpo
mirrado do tuberculoso, que se foi: desceu, também, a exuberância de nossa alma nos ritmos
brasileirissimos da música nossa, expressiva, alegre, as vezes, sentimental quase sempre."
O Globo, 5 de agosto de 1930.
AS MANCHETES
A Morte do 'Rei do Samba' - O Pezar da Cidade, Pelo Desaparecimento de 'Sinhô', O Seu
Cantor Predileto (A Pátria)
Os Imprevistos da Morte - 'Sinhô', O Rei do Samba Faleceu Repentinamente (A Crítica)
Faleceu, Ontem, Repentinamente, O Popular Compositor 'Sinhô' (A Batalha)
Um Violão de Luto - O Falecimento de 'Sinhô' (O Globo)