ALCINDO GUANABARA
"Faleceu esta madrugada em sua residência, à rua Gustavo Sampaio o Senador Alcindo
Guanabara. Esta triste notícia chegou-nos na hora que a nossa folha entrava na máquina.
Foi absolutamente inesperada a sua morte. Sua Ex. faleceu de uma embolia cerebral."
Jornal do Commércio, 20 de agosto de 1918.
"O Sr. senador Alcindo Guanabara há muitos anos tinha abalado o seu estado de saúde.
Diversas crises de um mal que não perdoa fizeram que seus amigos temessem sérias
consequências. Mas ultimamente parecia que o mal estacionara e o seu aspecto geral já não
impressionava ao largo círculo de suas relações. (...) O Sr. Alcindo Guanabara gozava de
forte prestígio e a sua palavra foi sempre acatada nos meios parlamentares. Há cinco ou
quatro anos, o Sr. Alcindo Guanabara se afastava por completo do jornalismo. (...) A
politicagem prendeu e enlaçou esse grande espírito, que uma porção de negócios também
embaraçou: mas, se essas preocupações fizeram variar o agrupamento a quem pertencia,
nunca alteraram o seu grande programa social e político. (...) Foi esse grande mestre da
nossa arte de escrever em jornal, grande mestre que sempre honrou a profissão pela
elevação dos conceitos, erudição poliforme e brilhde estilo, que anteontem faleceu. Foi dos
maiores espíritos da sua geração e influiu como poucos na formação intelectual dos
estadistas republicanos. (...)" Jornal do Commércio, 21 de agosto de 1918.
"A Prefeitura vai prestar a Alcindo Guanabara homenagem. O Dr. Amaro Cavalcanti assim
que soube da morte do senador pelo Distrito Federal mandou o seu oficial de gabinete Dr.
Mário Cavalcanti à casa do morto apresentar pêsames à família e comunicar que o governo
municipal se encarregará do enterro e das exequias do ilustre morto. O governador da
cidade será representado no enterro pelo seu oficial de gabinete. A prefeitura mandou
hastear o pavilhão municipal em funeral em todas as repartições municipais. repercutiu
dolorosamente na Câmara Alta da República a notícia do falecimento inesperado de Alcindo
Guanabara, uma das figuras mais representativas daquela casa, onde o morto representava
o Distrito Federal (...)
O desaparecimento de Alcindo Guanabara, colhido subitamente pela morte, vem ferir e
enlutar as letras e a imprensa nacionais de modo profundo (...) O falecimento do senador
Alcindo Guanabara revestiu-se de todos os imprevistos. De domingo até ontem trabalhara
excessivamente no parecer sobre o reconhecimento dos senadores espírito-santenses.
Hontem, como de costume, saiu de sua residência indo até ao escritório, almoçando em
seguida num restaurante da Rua Sete de Setembro. Depois dirigiu-se ao Senado, onde
procedeu à feitura do parecer que tinha escrito. Às 7 horas da noite, sentindo-se muito
fatigado e passando mal, dirigiu-se à casa de seu médico, o Dr. Castro Barreto, que reside
nas proximidades da rua Gustavo Sampaio. Ao entrar, pediu ao clínico que o medicasse.
Aconselhado a repousar, antes que tudo, o senador Alcindo ia retirar-se quando foi
acometido de uma syncope. Socorrido, ficou na residência do Dr. Castro Barreto, onde veio
a falecer às 2,5 da manhã, vítima de um terceiro ataque de embolia cerebral. (...)" A Notícia,
20 de agosto de 1918.
"Faleceu, ontem, inesperadamente, nesta cidade, o senador Alcindo Guanabara. Ainda
ante-ontem o senador carioca dera o parecer que elaborara sobre as eleições do Espírito
Santo, aos membros da comissão de Poderes, que o aprovaram. Deixando o Senado, às 15
1/2 horas daquele dia, o senador Alcindo Guanabara veio para a cidade, onde permaneceu
até cerca de 21 1/2. A esse tempo, tomou um automóvel e dirigiu-se à sua residência no
Leme. Quando o veículo transpunha a rua Gustavo Sampaio, naquela localidade, o senador
carioca sentindo-se mal, deu ordens ao "chauffeur" para levá-lo à casa do Dr. Castro
Barreto, seu médico assistente. Em ali chegando, o senador Guanabara piorou muito. O
referido facultativo acomodou-o em um de seus aposentos, onde, horas depois, às 3 da
madrugada, teve um colapso cardíaco, falecendo, já então cercado de pessoas da sua
família. (...)
Vindo para o Rio, o senador Alcindo Guanabara escreveu, entre outros, na Gazeta da
Tarde, de José do Patrocínio, no Novidades, Correio do Povo, Jornal do Commércio e,
ultimamente, na Imprensa, que era de sua propriedade. Muitas vezes se arredou do seu
posto para exercer mandatos políticos. Fez parte da Constituinte e, depois, na República, foi
eleito em várias legislaturas Deputado Federal. (...)" O Imparcial, 21 de agosto de 1918.
"Por circunstâncias decorrentes talvez menos de sua própria vontade que da nossa anarquia
político-social, que se caracteriza justamente pela completa inversão de todos os valores, o
maior jornalista brasileiro acaba de falecer, afastado do jornalismo militante, cujas fileiras são
invadidas por "arrivistas" falhados em outras profissões. (...)
De fato, enquanto vivesse o incomparável mestre, cuja única paixão era o jornal, havia a
esperança consoladora de que, não obstante o abatimento de suas energias físicas, ele
voltasse, de um momento para o outro, à atividade jornalística, elevando, de novo, o nível
intelectual da nossa classe à altura fulgurante em que ela pairou, durante o largo período em
que sua pena pontificava em pleno vigor. Tombado, porém, o gigante, nós outros olhamos
em torno dos que enxameam na cidadela invadida, não vendo quem possa sopesar a sua
clava formidável. (...)
Mas é, sobretudo como jornalista, que o nome de Alcindo Guanabara se perpetuará na
nossa história. A sua pena maravilhosa representava, por si mesma, o próprio jornal, porque
produzia tudo de quanto ele precisasse, desde o artigo de fundo até ao noticiário de polícia.
(...)" A Razão, 21 de agosto de 1918.
"Na vertigem alucinante destes dias que passam, quando todos nós somos empolgados pelo
espetáculo prodigioso da transformação que se opera no mundo, a tendência geral se
acentua sempre no sentido de ninguém se deter, com emoção duradoura, diante de
acontecimentos que não se entrelaçam com os fatos atuais e que mais nos falam do passado
do que do presente. Mas, apesar disso, não há como sopitar a onda de uma emoção sentida
e transbordante, que sobe dentro de nós, com a força irreprimível dos sentimentos
inelutáveis e profundos, ao sermos surpreendidos pela notícia da morte de Alcindo
Guanabara. (...)
Recordar os episódios culminantes dessa vida é assinalar toda a nossa evolução nacional
nestes últimos 30 anos. Porque raro serão os grandes acontecimentos de ordem social e
política, ocorridos de 1888 para cá, a que não esteja ligado o nome refulgente de Alcindo.
(...)
Como político e como parlamentar, Alcindo Guanabara foi um combativo e foi um construtor.
(...)
Alcindo Guanabara, que no domínio da atividade jornalística, foi um grande doutrinador e um
irredutível liberal e republicano, como parlamentar não só confirmou essas qualidades como
ainda se revelou sociólogo e economista de altíssimo valor. (...)" A Tribuna, 20 de agosto
de 1918.
MANCHETES
Alcindo Guanabara - O Brasil Sofre Uma Perda Irreparável - Morre O Maior Dos Seus
Jornalistas Contemporâneos (A Tribuna)
Uma Perda Insubstituível No Nosso Patrimônio Moral - O Falecimento Do Maior Dos
Jornalistas Brasileiros (A Razão)