A CARESTIA
A República (diversas datas)
"... A carestia da vida é um problema que merece a atençào do governo e todo o movimento que se fizer para
resolvê-lo deve ter o apoio da imprensa; para isso, porém, é preciso que a ação do "comité" seja razoável, se
mantenha dentro da ordem e do respeito às autoridades constituídas, sem o que nenhum resultado dará." - 20
de fevereiro de 1913
"Teve lugar ontem às 8 1/2 horas da noite, na sede do Centro Cosmopolita, à Rua do Senado n. 215, o primeiro
comício popular organizado pelo "Comité de Agitação Contra a Carestia da Vida" para protestar contra o
encarecimento da vida nesta capital. a esse "meeting"compareceu extraordinário número de operários,
comissões de associações trabalhadoras, além de regular elemento popular." - 21 de fevereiro de 1913
"(...) A carestia de vida, sem contudo ser um problema nacional, pois ela afeta neste momento por muitas e
diversas razões quase todos os povos, não pode deixar de merecer a atenção dos nossos dirigentes e induzí-los
a uma solução equitativa e justa. Para que isso se dê, é porém necessário que, como muito bem disse um dos
membros do "Comité" de protestos contra essa carestia, não se dê a esse momento, que deve ser nacional, um
caráter partidário, desvirtuando-o do pé em que foi habilmente posto pelo dr. Caio M. de Barros." - 25 de
fevereiro de 1913.
"Continua a agitação em torno deste problema, aguardando o povo as providências que o governo está tomando
para tornar mais fácil a vida entre nós. Hoje, realiza-se mais um comício, às 5 horas da tarde, na praça da
República, em frente ao quartel general." - 4 de março de 1913.
"Como estava anunciado, realizou-se ontem, às 4 horas da tarde no largo de S. Francisco de Paula, o grande
comício promovido pela Federação Operária do Rio de Janeiro, para protestar contra o encarecimento dos
gêneros de primeira necessidade.
Esse comício foi extraordinariamente concorrido, sendo digna de registro a ordem que ele presidiu; que se
deveu não só à exhortação dirigida à multidão pelo delegado do 3o distrito dr. Muniz de Aragão, como também
aos interesses dos representantes das associações operárias empenhadas em conservarem-se, para melhor
êxito da causa que defendem, dentro da ordem e do respeito às autoridades constituídas.
A polícia, representada pelo delegado do distrito, dr. Muniz de Aragão, esteve presente providenciando para
que a ordem não fosse alterada. (...)" - 17 de março de 1913.
O Século (diversas datas)
"Continuam os comícios populares contra a carestia da vida. O povo diariamente se tem reunido nas principais
praças desta capital e pela palavra inflamada de seus oradores tem erguido os mais solenes protestos contra o
modo por que alguns indivíduos valendo-se dos trusts ociosos o exploram.
Conforme deliberação tomada no comício de sábado, realizado no largo de S. Francisco, embarcou ontem para
Petrópolis, uma comissão composta dos srs. Caio Monteiro de Barros, Luiz Franco, Raul Deueza, Francisco
Pereira de Lima, Simão da Costa e Vicente Nunes Ferreira, que foi levar ao presidente da República a moção
do comité de agitação contra a carestia da vida aprovada naquele comício." 3 de março de 1913.
"As providências que o marechal Hermes prometeu dar, em benefício do povo, devido à agitação contra a
carestia da vida, tiveram, ontem, início com o esbordoamento, a prisão e a violência praticados por agentes de
polícia, verdadeiros arruaçeiros.
Tão grande era o prurido de desordem entre os desordeiros investidos de funções policiais, que no começo do
tumulto que provocaram no largo de S. Francisco, um menor de 12 anos arrancou das mãos criminosas de um
deles um revólver. Essa criança, que evitou certamente mortes, pois o estado de agitação do agente fazia crer
que ele disparasse todas as balas, avisadamente entregou a arma a um outro policial. E o agente foi preso. (...)"
- 6 de Março
"Mais um meeting e vários discursos provocou, ontem, o problema da carestia da vida. O meeting monstro,
levado a efeito no largo de S. Francisco, do qual participaram muitas sociedades operárias, começou e terminou
na maior calma. A polícia fez, antes do seu início, a declaração de garantir as manifestações do povo, o que de
resto levou a efeito, não perturbando, como é de seus hábitos, a reunião do povo. Os oradores em discursos
violentos combateram os "trustistas", lembrando os meios de combate aos exploradores e de destruição dos
conchavos que tanto encarecem a vida.
Depois dos discursos, a multidão, tendo à frente vinte e duas bandeiras vermelhas de assoçiações operárias,
desceu a rua do Ouvidor, em direção da sede da Confederação Operária Brasileira, à rua Barão de S. Gonçalo.
(...)" 17 de Março
Folha Do Dia (diversas datas)
"Realmente viver no Rio de Janeiro é um suplício, porque a carestia de vida absorve todos os resultados do
trabalho, por maiores que sejam a atividade do homem e sua inteligência. Nem todos podem dizer que ganham o
pão no Rio, porque, mesmo trabalhando-se muito, às vezes não se ganha esse pão. A maioria, com os maiores
esforços, apenas consegue passar miseravelmente. A vida está insuportavelmente cara há já muito tempo, mas
no momento chegou ao cúmulo do abuso. Não é difícil, porém, torná-la mais suave; para isso só é preciso boa
vontade das nossas autoridades, únicas culpadas da carestia, porque cochilam, quando deviam velar. São gerais
os clamores contra o prefeito da cidade, apelando-se também para o governo federal. O prefeito pode, é
verdade, obter a diminuição de taxas exageradas sobre o comércio e cumprir posturas que obrigariam os
taverneiros a ficar muito mais humanos. Não o faz, talvez porquenão sinta a carestia." - 24 de fevereiro
"O dia de ontem foi o dia do operariado nacional, que veio em grande comício à praça pública protestar contra a
terrível crise de angústia que ora assoberba a população de todo o Brasil. Digna de nota tornou-se a atitude
ordeira da massa popular, na reivindicação dos seus direitos. Protestando, pela energia dos seus oradores
francamente aplaudidos, contra a postergação de que é vítima pelo açambarcamento e pelo trust, fê-lo ainda
assim patenteando as suas qualidades de população ordeira, que confia na ação enérgica dos dirigentes da
Nação. (...)
Raríssimas vezes tem o largo de S. Francisco de Paula, o tradicional ponto da manifestação do sentimento
popular, reunido tão elevado número de pessoas como ontem, por ocasião em que se realizava o grande comício,
o "monstro", como foi cognominado por esse mesmopovo e organizado pela Confederação Brasileira do
Trabalho e pela Federação Operária do Rio de Janeiro. Os lugares mais altos eram disputados a poder da força
bruta. O largo estava totalmente tomado de povo. De vez em quando atravessavam a grande e unida massa
popular agentes de polícia, em atitude de quem esperava o momento de agir. Praças de cavalaria estavam
postadas em todas as embocaduras das ruas, isto pouco distante do local, vendo-se força de infantaria ao meio
do largo. As sacadas dos prédios estavam todas apinhadas de pessoas que assim muito comodamente ouviam os
oradores. Em todas as esquinas, em grupos, mais agentes de polícia. Na rua do Teatro, acompanhado do seu
auxiliar, alferes Augusto, vimos o tenente-coronel Zeferino Costa, que superintendia o policiamento militar.
Viam-se também no largo muitas senhoras, atenciosamente ouvindo as inflamadas orações dos operários, a
quem não foram regateados aplausos. (...)" - 17 de março
A Notícia (diversas datas)
"A alta súbita da gasolina na praça produziu em nosso meio, aliás e infelizmente, não são raras aberrações
comerciais, um certo pânico pela iminência de um encarecimento dos transportes e como consequência uma alta
proporcional em todos os artigos de primeira necessidade, embora sem relação com a gasolina mas sujeitos ao
jogo pela lei geral das compensações que, como é exercido, melhor, se diria dos pretextos gananciosos. (...)" -
18 de fevereiro
"Nunca, talvez, a solicitude e o cumprimento dos deveres dos auxiliares da Prefeitura estiveram tanto à prova,
como neste momento em que a sua ação fiscalizada é reclamada para debellar uma crise em que se debate a
saúde, o direito de subsistência e os interesses pecuniáios do público." 9 de março
"Nesta questão da carestia, decididamente o governo parece não ter tomado a sério o problema nem feito caso
nenhum da situação em que se acha o povo. Num momento dado, ouvindo queixas que já se haviam feito clamor,
o presidente em pessoa fez anunciar, por um jornalista que o entrevistou, que ia agir energicamente contra os
trusts. Logo a esperança se estabeleceu. Mas providências dessa ordem não podem ser demoradas, e o
governo demora-se. Desvaneceu-se assim a esperança, que as palavras presidenciais tinham inspirado, e o
povo continuou a reclamar." - 13 de março
"Realizou-se ontem, mais um "meeting" de protesto contra os esploradores da fome. Falaram vários oradores,
foram erguidos protestos e ... os gêneros continuam em alta e o Sr. presidente da República insiste em declarar
que podia ser pior.
A polícia, pelo que soube,os, portou-se bem. Entretanto, alguns dos oradores a acusaram de violências, de
cerceamento de liberdade e os colegas matutinos isso registraram. Por essa razão resolvemos hoje procurar o
Dr. Paula Pessoa, 1o Delegado auxiliar para ouvi-lo. (...) A respeito do grande meeting convocado para ontem, e
em que as classes operárias eram chamadas a lavrarem o seu protesto contra a horda salteadora dos
açambarcadores dos gêneros da alimentação, ficaram apreensivos muitos espíritos que não ignoram a justiça
das queixas que se deviam formular nesse comício, mas conhecem de sobra os nossos costumes policiais. (...)"
17 de março
A Tribuna (diversas datas)
"A fim de combater a crise que avassala a classe proletária com o aumento constante dos preços dos gêneros
alimentícios de primeira necessidade e do aluguel dos humildes casebres, organizou-se ontem à tarde no
escritório do Dr. Caio Monteiro de Barros, à Rua do Ouvidor n. 159, um comité, que fará no Rio, Campos, Juiz
de Fora, S. Paulo, Santos e outros lugares comícios a fim de dar um franco combate aos monopolistas e
diretores de sindicatos que tanto prejudicam a classe pobre. O primeiro comício terá lugar hoje às 8 horas da
noite, na sede do Centro Cosmopolita, à rua do Senado n. 215, gentilmente cedida pela sua honrada diretoria,
sendo orador o Dr. Caio Monteiro de Barros, presidente do Comité." 20 de fevereiro
"Ainda bem que se vai conduzindo para um terreno prático a magna questào do combate à carestia da vida.
Problema vital para a nossa população, que vê dia a dia encarecerem os produtos principais de sua alimentação,
para ele se voltam as atenções do povo, que já iniciou os seus protestos, realizados sob a forma de "meetings"
em diferentes pontos da cidade e aos quais se tem associado a população, consciente dos seus direitos e
deveres." 24 de fevereiro
"Continua sendo objeto da cogitação pública o problema tendente a baratear a vida. Clero, nobreza e povo se
ismanaram nessa cruzada, concorrendo cada um com o seu máximo de esforço. É de se esperar que dentro em
breve tenhamos a crise definitivamente resolvida, pois as medidas tomadas são de toda presteza e
oportunidade.
1o de março
"Realizou-se ontem, à tarde, no largo de S. Francisco, o grande comício promovido pela Federação Operária
contra a carestia da vida. A concurrência a essa reunião pública foi considerável. Todas as associações
federadas compareceram com os seus sócios, tendo havido também grande concurso de povo. Usaram da
palavra diversos oradores, todos protestando contra o encarecimento da vida. Depois do comício, os
manifestantes foram a vários jornais e prosseguiram nos seus protestos. a polícia manteve-se vigilante, tendo
distribuído por vários pontos os reforços necessários para impedir qualquer perturbação da ordem." 17 de
março