>> Matéria Anterior:
     Revolta dos Marinheiros
>> Próxima Matéria:
     Carestia

BARÃO DO RIO BRANCO
Ano: 1912

"Faleceu hoje, às 9 e 10 da manhã o nosso ilustre ministro do Exterior, barão do Rio Branco. A despeito dos grandes esforços empregados pelo seu distinto médico assistente sr. Pinheiro Guimarães, a morte teve mais poder que a ciência e robou à vida e à pátria o mais notável dos brasileiros contemporâneos. S. Ex. foi vitimado por uma insuficiência renal, que resistiu a toda medicação empregada. Com o passamento do barão do Rio Branco, perde o Brasil um dos seus mais diletos filhos e um dos seus mais dedicados servidores. A República, principalmente, deve-lhe os mais relevantes e inestimáveis serviços. (...)

O Barão do Rio Branco foi o estadista que mais tempo exerceu o cargo de ministro do Exterior, tendo assim a oportunidade de servir ininterruptamente a quatro governos da República, cujos presidentes o honraram sempre com a mais completa e até incondicional confiança. Nenhum brasileiro atingiu mais alto o culto da veneração popular. O Barão do Rio Branco era verdadeiramente um patrimônio nacional. A nação que o amou em vida há de idolatrar-lhe reverentemente a sua venerada memória. (...) A ele deve a República, entre muitíssimos outros serviços de não pequena relevância, a reivindicação de 290.622 kilômetros quadrados de território litigioso e o aumento da sua superfície com 200 mil kilômetros quadrados adquiridos por compra e que constituem hoje esse uberrimo solo do Acre. (...) Fundou nesta capital um vespertino com o título A Nação, onde defendeu com ardor as idéias abolicionistas. (...)" A República, 10 de fevereiro de 1912.

"Ontem o telégrafo nos trouxe a triste e dolorosa notícia de haver falecido o benemérito brasileiro Barão de Rio Branco, Ministro do Exterior. O Barão do Rio Branco personalizou a maior figura de estadista na América do Sul. desde o regime monárquico da nossa Pátria, que o ilustre brasileiro vem prestando inúmeros serviços ao Brasil obstando o derramamento de sangue e tirando de todas as dificuldades em que se achou muitas vezes a nossa Pátria. A morte do Barão do Rio Branco, nesse momento, representa um desastre para a Nação, porquanto, agora, mais do que nunca, eram necessários os seus serviços. As próprias nações estrangeiras, os próprios jornais argentinos, que não olhavam o Sr. Barão do Rio Branco com bons olhos, proclamam os seus méritos de estadista e de bom patriota. O Baluarte, que é composto de brasileiros que desejam a felicidade e prosperidade da Nação, nesse momento de luto nacional exparge flores imersas da mais profunda saudade, sobre o túmulo do ilustre morto. Paz à sua Alma!

Assim que recebemos da repartição dos Telégrafos comunicação de ter falecido às 9,15 da manhã o Sr. Barão do Rio Branco, imediatamente fizemos cerrar as portas da nossa redação e hasteamos o nosso pavilhão em funeral. O comércio de nossa cidade cerrou as suas portas e hastearam os seus pavilhões. O club Indiano Goytacaz, em sinal de pezar pelo falecimento do Sr. Barão do Rio Branco, transferiu a sua passeata que devia ter lugar hoje. Todas as repartições públicas desta cidade hastearam os seus pavilhões em funeral. Os proprietários do Moulin Rouge, suspenderam o espetáculo que estava anunciado para ontem em sinal de pezar pela morte do Barão do Rio Branco." O Baluarte, 11 de fevereiro de 1912.

"Morreu ontem o Barão do Rio Branco. Há dias a sua vida era a agonia prolongada pelos recursos da ciência. A cidade, os estados, o país inteiro, as nações vizinhas, a América, o mundo indagavam anciosa da saúde do grande homem. E o grande homem caíra para não se levantar. Fora com um imenso soble, que resistindo anos e anos ao vendaval e a terperie, dominando a vida, de repente estala e cai. Dizer do Barão do Rio Branco uma rápida impressão de dor, de luto, de lágrimas, quando o país inteiro soluça é bem difícil. E sua obra foi enorme e grandiosa. Ele teve duas vidas: a do jornalista de talento que se fez cônsul e a do cônsul que se transformou no maior dos brasileiros pelo seu desinteressado amor à pátria, e no maior dos diplomatas contemporâneos pelo seu alto espírito, pela alta compreensão da função que exercia. Ele foi o dilatador do Brasil alargando-o e aumentando-o em terras, graças ao seu engenho, sem um leve ataque à justiça e ao seu direito. (...)" Gazeta de Notícias, 11 de fevereiro de 1912.

" (...) O Barão do Rio Branco tivera a última convulsão às 3 horas da madrugada, entrando depois num estado de perfeita imobilidade. Foi nessa situação que precisamente à 9 horas e 10 minutos S. Ex. exalou um quase imperceptível suspiro, expirando-se. (...) O barão não teve sequer uma contorção de músculo, extinguindo-se calmamente. Segurou a vela no momento supremo um dos netinhos do extinto e que estava à beira do leito. As outras pessoas estavam ajoelhadas em volta da cama. (...)

Logo que foi rapidamente conhecida a tristíssima notícia começaram as demonstrações de pezar. O comércio cerrou portas imediatamente, içando muitos estabelecimentos bandeiras de meio haste. O mesmo sucedeu nos bancos, nas agências, nos escritórios de todas as empresas e nas repartições públicas, tendo sido a bandeira do palácio do Catete posta em funeral por ordem do próprio presidente da República. Os cinematógrafos que já haviam posto os seus affichés às portas, retiraram-nos cerrando os estabelecimentos que não funcionarão hoje. Também não funcionarão os teatros e outros centros de diversões, os bailes, todos os divertimentos de club e associações enunciadas para hoje estão adiados. (...)

O Sr. presidente da República convidou hoje todos os seus secretários de Estado para uma conferência em palácio, que se realizará hoje às 4 horas da tarde. Parece que nessa conferência ficará assentado que se prestem ao grande brasileiro as honras fúnebres de chefe de Estado." A Notícia, 10 de fevereiro de 1912.

"Durante todo o dia de ontem esteve exposto, no Itamarati, o corpo do barão de Rio Branco - e, desde a manhã até à noite, milhares de pessoas desfilaram em frente ao grande morto, cujos servíços e cujo nome ficarão eternamente vivos na gratidão brasileira. (...)

Muitos suspiros ouvimos, de grande mágoa, e soluços que rebentavam convulsivos, à vista desse corpo, agora exanime e outrora animado pelo espírito incomparável, a quem mais deve a grandeza nacional. Dir-se-ia também que, à consternação popular, ainda se juntava uma espécie de assombro, como se a todos custasse acreditar na dura verdade. A multidão subia e descia as escadas do Itamarati como levada ao peso de uma mudez angustiosa - e eram mais os olhos magoados, que exprimem o doloroso sentimento dessa perda que avassala o Brasil e a fraternidade sul-americana. No vastão salão onde cisma a tristeza de amigos e filhos do eminente estadista e por onde peregrinava o pezar do povo brasileiro, nós também estivemos um momento, olhando o catafalco, em torno do qual seis brandões acessos derramavam as suas lágrimas de cêra. Mas o aspecto profundamente impressionante, que nos feria os olhos, era demasiado forte para nós, que sempre veneramos no grande ministro o mais fiel, o mais seguro, o mais vigilante guarda da pátria, que ele estremeceu sobretudo neste mundo. E, alquebrado também pele dor do grande infortúnio, afastamo-nos dali, trazendo a impressão da pena alheia, que se veio juntar à nossa desconsolação." A Imprensa, 12 de fevereiro de 1912.

Página inicial