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BEZERRA DE MENEZES
Ano: 1900

"Succumbiu hontem, às 11 1/2 horas da manhã, após longos e dolorosos padecimentos, que foram a ultima prova imposta à sua resignação verdadeiramente christã, o eminente brazileiro cujo nome, encimando estas linhas, como homenagem posthuma ás virtudes da sua vida, por tantos annos fulgurou nos annaes da política do imperio e hoje, apenas vive na tradição dos que o amaram, ou da inexhaurivel fonte da sua bondade receberam inesqueciveis beneficios.

Foi esta a caracteristica essencial do venerado extincto. Politico militante, filiado á mais adiantada parcialidade do antigo Partido Liberal, deputado, vereador da extincta Camara deste municipio, a cujos destinos por longos annos presidiu; escriptor - que o era com raro merecimento e brilho - em todas essas manifestações da sua actividade deu sempre o Dr. Bezerra de Menezes as mais brillhantes provas da sua capacidade de do seu valor moral e intellectual; mais foi sobretudo no abnegado sacerdociu da sua clinica e na doce penumbra da sua vida intima que mais refulgiram os peregrinos dotes de seu espirito, multiplicando-se em desvelos, em solicitude, em carinhoso desinteresse por todos os que soffriam. E jamais bateu um desses, enfermo ou necessitado, inutilmente á sua porta.

Tempo houve em que, fascinado pelo desejo de servir á sua pátria, em cargos publicos, exclusivamente de confiança popular, como acabamos de alludir, substituiu o exercicio da medicina pela tribuna parlamentar ou pelos onerosos encargos de chefe da Municipalidade, em que se conservou perto de vinte annos. (...)

Passou através das grandezas deste mundo e do fastigio do poder sem lhes sentir a vertigem, sombranceiro, indifferente, alheio a ambiçãoes, tendo pelas seducções da fortuna um desprezo que tanto contrasta com o culto hoje incondicionalmente rendido a essa mesquinha preocupação, cujo cultivo, em certas camadas da sociedade contemporanea, tanto rebaixa o espirito da nossa nacionalidade.

É realmente edificante, no meio das ambições que na hora presente se disputam entre nós a posse das melhores posições, para a ostentação de insperadas opulencias, oppor o exemplo desse grande cidadão, que não é mera figura - encaneceu no serviço da Pátria e da humanidade e, tendo entrado para a vida publica com fortuna, della se retirou pobre, depois de haver exercido gratuitamente por um largo período, o cargo de vereador, que não era então remunerado, em de ter tido em suas mãos, como seu presidente, as chaves da Municipalidade, de que não se utilizou senão para assegurar-lhe as condições de prosperidade, de que rezam as tradições desse tempo. (...)

Assim, de facto, viveu esse grande homem, mixto de interesse, de abnegação, de fé e de grande moral, e que, de sessenta e oito annos, voltados á actividade constante do trabalho, extreme de ambições vulgares, sae da vida, deste charco, que o não conspurcou, cercado de uma aureola de virtude e atraves de uma glorificadora apotheose de bênçãos e lagrimas. (...)

A sociedade brazileira, particularmente a sociedade fluminense, contraiu com o venerando morto uma divida que, revertendo em beneficios de sua familia, honrará a memoria daquelle que tantos serviços lhe prestou. Resta que a pague, provando assim que a ingratidão não é a única moeda com que o povo costuma retribuir os sacerdocios dos que serviram á patria e á humanidade. (...) O Paiz 12 de abril de 1900.

"Falleceu hontem, ás 11 horas da manhã o dr. Adolpho Bezerra de Menezes. O finado foi chefe politico do antigo partido liberal, no regimen monarchico, na freguezia de S. Christovão, onde gozava de real influencia; occupou os cargos de eleitor especial e vereador, foi por muitos anos presidente da camara municipal, e diversas vezes foi eleito deputado geral, pelo 3o districto do municipio neutro. Possuidor de grande fortuna, a politica e a pratica da caridade empobreceram-no. A sua morte deixa um grande vacuo no coração daquelles que tiveram ocasião de admirar de perto quanto valia alma privilegiada.

Medico e medico habil, a sua vida foi, nos ultimos tempos um continuo labutar em beneficio da pobreza; jamais recusou os seus serviços áqueles que a elle recorriam. Dos pobres nada aceitava; dos ricos recebia o que queriam dar-lhe. Por isso morreu pauperrimo.

Para poder avaliar bem a grandeza d'alma do dr. Bezerra, basta expor o seguinte facto, de que temos conhecimento, entre muitos outros factos. Era o dr. Bezerra presidente de uma companhia, com escriprorio a rua Sete de Setembro, quando lhe appareceu um conhecido seu communicando-lhe o fallecimento de um filhinho e dizendo-lhe, com as lagrimas nos olhos, que, achando-se desempregado, não tinha recursos para fazer o enterro. O dr. Bezerra chamou-o a um canto e meteu-lhe na algibolsa todo o dinheiro que possuia. No momento em que se propunha a retirar-se para a casa (morava então na Tijuca) reconheceu que, tendo dado tudo nada lhe restava para a passagem do bond, e pediu a um amigo trezentos réis emprestados! As bênçãos da pobreza, que ele soccorria o acompanharão para a morada celeste." Jornal do Brasil, 12 de abril de 1900.

"Depois de longos e crueis padecimentos, falleceu hoje o sr. Antonio Bezerra de Menezes, antigo e estimado clinico desta Capital. Exerceu entre nós o dr. Bezerra de Menezes varios cargos de eleição popular, sendo considerado por muito tempo um dos mais prestigiosos chefes do partido liberal do antigo Municipio Neutro, durante a monarchia.

Por vezes escolhido pelo corpo eleitoral da cidade do Rio de Janeiro seu representante na camara municipal do Rio de Janeiro, por força da lei que outrora vigorava, foi o seu presidente, e nesse caracter exercia grande influencia sendo muito respeitado e considerado pelos chefes de sua parcialidade politica, e gosando também de prestigio verdadeiramente popular. (...)

Tendo exercido grande influencia como politico e homem de acção, como médico que dispunha de clinica extensissima, ha muito tempo que desaparecera da vida publica. Estava retirado mas não esquecido. Não esqueceram seus companheiros de luctas que nele tiveram um bom e leal camarada, nem poderiam duvidar tantos quantos receberam os muitos beneficios de que era prodigioso seu excellente, bondoso e meigo coração." Cidade do Rio, 11 de abril de 1900.

"Falleceu hontem nesta capital o Dr. Adolpho Bezerra de Menezes, influencia política do partido liberal do antigo regimen.

Nascido no Estado do Ceará, fixou residência aqui logo depois de formado na Faculdade de Medicina, sendo por vezes eleito Vereador e Presidente da Câmara Municipal. Na Câmara dos Deputados foi representante do Município Neutro e de sua provincia natal, em varias legislaturas. Intelligente, activo e dedicado ao seu partido o Dr. Bezerra de Menezes, gozou de grande popularidade e prestigio chegando a ser elevado a chefe incontestado do partido liberal nesta Capital, depois da morte do Dr. Dias da Cruz.

Ha muito tempo que abandonando a politica entregou-se ao exercício de sua profissão de médico, onde também se distinguio pelo seu desinteresse e actos de caridade. Muitos forão os amigos que teve quando no vigor de todo o seu prestigio, do seu talento e de toda a sua popularidade. Morreu, entretanto, muito pobre após longa enfermidade e apenas rodeado do grupo de amigos que nunca o abandonou." Jornal do Commércio, 12 de abril de 1900.

"Faleceu hontem às 11 1/2 horas da manhã o dr. Adolpho Bezerra de Menezes, conhecido médico, residente nesta Capital, onde gosava de geral estima. Era natural do Ceará, tendo, durante o império, representado por diversas vezes o Município Neutro na Câmara dos Deputados. Occupou também, o logar de presidente da antiga Câmara Municipal. À família enlutada apresentamos as nossas condolencias." A Imprensa, 12 de abril de 1900.

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