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ATENTADO CONTRA PRUDENTE DE MORAES
Ano: 1897

" (...) O crime político está, enfim, implantado nos costumes brasileiros. O assassinato de hoje, sem precedentes na nossa história por isso mesmo, lançando profunda consternação no seio da sociedade, provoca a mais justa indignação. O braço que se estendeu contra a pessoa venerada de sr. presidente da República; que assassinou os sr. marechal ministro da Guerra, e que feriu quase mortalmente o sr. coronel Luiz Mendes de Moraes, é simplesmente o instrumento inconsciente dessa agremiação política que se quer impôr ao país pelo terror, pela anarquia."

Narremos Os Fatos :

"Acabavam de desembarcar na ponde do trapiche do Arsenal de Guerra o sr. presidente da República, ladeado pelo sr. marechal ministro da Guerra e coronel Luiz Mendes de Moraes, chefe da casa militar. Grande número de oficiais de todas as patentes o acompanhavam. O povo abria alas à passagem do venerado chefe da nação. Os vivas esturgiram nos ares e as bandas de música fizeram ouvir o hino nacional. As últimas notas deste acabavam de soar, quando um clamor se elevou do grupo de que fazia parte o Sr. Dr. Prudente de Moraes.

O soldado Marcellino B. de Miranda, 3a companhia do 10o batalhão de infantaria, armado de uma pequena faca, investira contra o Sr. Presidente da República. Neste momento o S. Marechal Ministro da Guerra, em um rasgo de sublime heroicidade colocou-se entre o soldado e a cobiçada vítima dos furores jacobinos, protegendo-se com o seu corpo e com a sua espada.

A arma homicida penetrou fundo no coração do bravo e leal ministro. O coronel Mendes de Moraes, procurando também defender o Presidente da República, recebeu grave ferimento no baixo ventre esquerdo.

As espadas dos oficiais sairam das bainhas e ameaçaram de morte o miserável assassino, que deveu a sua vida ao Sr. Presidente da República, que declarou que o assassino pertencia à Justiça.

Era uma hora e cinco minutos da tarde. Toda essa cena, rápida, mais rápida do que o tempo que gastamos em descrevê-lo, passou-se sob uma amendoeira que defronta com o portão da Minerva.

Três minutos depois era cadáver o Sr. Marechal Carlos Machado Bittencourt que foi conduzido nos braços de diversos oficiais e paisanos para a sala das entradas, da Intendência da Guerra, de onde mais tarde foi transportado para a capela do Arsenal. O seu cadáver está coberto com a bandeira nacional, e diversos amigos e parentes velam à sua cabeceira.

O Sr. Coronel Mendes de Moraes foi conduzido para a sua casa em padiola, carregado por 4 oficiais e acompanhado por uma força do 10o batalhão.

O assassino, bastante machucado, em conseqüência da resistência oposta no ato da prisão, foi recolhido ao xadrez do arsenal, onde está incomunicável." - Cidade do Rio, 5 de novembro de 1897.

"A 1 hora da tarde foi apunhalado no Arsenal de Guerra, por ocasião do desembarque do general Barbosa e dos batalhões que voltavam de Canudos, o Sr. Marechal Carlos Machado Bittencourt, Ministro da Guerra. A notícia foi transmitida logo para o quartel-general, de onde partiu imediatamente o Sr. Cantuária.

O agressor foi um aspençada do 10o de infanteria. O golpe fora dirigido ao sr. Presidente da República.

O Sr. Ministro da Guerra, porém, antepondo-se ao agressor, foi vítima da fúria deste, que lhe cravou três vezes a arma, uma faca de lâmina fina, no peito, na virilha e em uma das mãos.

Os oficiais do estado-maior do Sr. Presidente da República atiraram-se sobre o soldado e espaldeiraram-no, sendo este preso pelo alferes Murat. Seguiu-se um tumulto extraordinário. Consta ter sido ferido o coronel Mendes de Moraes.

O marechal Bittencourt foi transportado para a arrecadação do Arsenal pelo tenente-coronel Bittencourt do 1o e alferes Gonçalves, do 23o, onde expirou momentos depois; sendo conduzido mais tarde para a capela do mesmo edifício.

Ao saber-se na Câmara do acontecimento em virtude do qual faleceu o Sr. Ministro da Guerra, a sessão foi suspensa e mais tarde levantada, depois de falarem os srs. Irineu Machado, Nilo Peçanha, Serzedello, Augusto Montenegro e Arthur Rios.

Foi nomeada uma comissão de vinte e um membros, representando os estados da União, para comparecer aos funerais. Não haverá sessão noturna." Folha da Tarde, 5 de novembro de 1897.

"Não podia ser mais profunda nem mais dolorosa a impressão produzida no espírito público pelo ignobil atentato que teve ontem por teatro o arsenal de Guerra. Um grito de justa indignação percorreu a cidade, e cobriu-se a alma nacional de luto diante do pavoroso crime.

Um soldado, mentindo à honra de sua farda e conspurcando as tradições gloriosas do exército brasileiro, ousou erguer o braço homicida contra o honrado chefe do Estado, que encarna a soberania nacional, e, como lhe falhasse este golpe, tirou a vida ao ilustre general Carlos Machado Bittencourt - um benemérito da pátria, brasileiro dos mais dignos do respeito e da estima de seus cocidadãos. (...)" Gazeta de Notícias, 6 de novembro de 1897.

"Num só movimento de surpresa e de indignação o povo brasileiro estremece ante a pungentíssima tragédia de ontem. A mesma dolorosa impressão fere de sul a norte todos os corações, abatendo todos os espíritos, mergulhando-os na mesma treva de dor e de apreensões. (...)

A atitude da imprensa, unânime hoje em protestar contra os crimes ignóbeis que ontem ensangüentaram o Brasil, é a melhor expressão do quanto é profunda a revolta que em todas as almas bem formadas vieram eles provocar."

"A Gazeta da Tarde, externando o seu doloroso pezar pela morte do bravo e dedicado marechal Machado Bittencourt, associando-se ao luto justíssimo do exército e de toda a nação, congratula-se ao mesmo tempo com o Brasil por ver ileso no seu alto posto o Sr. Dr. Prudente de Moraes, o velho e honrado republicano, que desde os mais árduos tempos da propaganda toda a gente se habituou a respeitar."

"Continuaram hoje as manifestaçòes de pezar pela morte do marechal Machado Bittencourt. Todas as classes sociais têem demonstrado o seu sentimento; é geral o luto na cidade. Muitas casas comerciais cerraram as suas portas; as repartições públicas encerraram o expediente, conservando-se hoje fechadas; as redações de todos os jornais içaram bandeiras a meio pau; deixaram de funcionar os teatros." Gazeta da Tarde, 6 de novembro de 1897.

"Escrevemos ainda sob a emoção da tragédia que ontem se desenrolou diante da sociedade fluminense, enchendo-a de indignação e luto. O que se passou no Arsenal de Guerra foi tão rápido, tão imprevisto, tão fulminante que não há talvez espírito que não se sinta atordoado ainda pela violência do golpe e do absurdo da catástrofe. (...)

O que moveu o braço desse obscuro soldado e transformou em miserável assassino um defensor da bandeira nacional, é ainda para o povo um mistério que precisa ser completamente esclarecido, para honra da Pátria, a bem da segurança social, a bem da dignidade do poder."

À NAÇÃO:

"`As 2 horas da madrugada foi para o Diário Oficial o manifesto do Sr. Presidente da República à nação. S.Ex. declara que, ferido profundamente nos seus sentimentos de homem e de brasileiro pelo atentado contra a sua pessoa premeditado e que vitimou um dos mais dedicados servidores da Nação, o Marechal Carlos Machado Bittencourt, afirma do modo o mais solene que esse horroroso crime não terá o efeito de demover uma só linha do caminho do dever e da defesa da lei, do princípio da autoridade e das instituições republicanas." O Paiz, 6 de novembro de 1897.

"Se o abismo tem o encantamento da atração, o crime é um ensinamento e um incitamento para outro crime. Oxalá que o nefando atentado de ontem encerre com o seu pesado luto este ano nefasto em que nas ruas desta capital assaltaram-se e saquearam-se casas particulares, se tinha opiniões adversas às instituições, era garantido em seu direito de trânsito pelas leis da República. (...)" Jornal do Commércio, 6 de novembro de 1897.

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