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VARGAS DEPOSTO
Ano: 1945

"O Brasil viveu ontem horas de intensa agitação provocada pela atitude de intransigência do Sr. Getúlio Vargas. O ditador, apoiado pelos "queremistas", planejou e executou o seu último golpe, com a nomeação de seu irmão Benjamin, para a Chefatura de Polícia. Indiretamente, fez-se sentir um grande movimento de repulsa, que culminava com a sua renúncia ao poder, consequência de seu "ultimatum" que lhe foi feito pelas classes armadas.

Logo após ter transmitido a chefia de Polícia ao Sr. Benjamin Vargas, desde ontem titular do posto em substituição ao antigo coordenador, o Sr. João Alberto esteve no Ministério da Guerra tendo-se feito acompanhar pelo comandante da Polícia Especial, o Sr. Eusebio de Queiroz. Ali estiveram em demorada conferência com o general Góes Monteiro.

Ao terminar a reunião, que durou mais de uma hora, pôde ser notado intenso movimento naquele Ministério, fato que ainda mais chamou a atenção em virtude de terem sido trancados os portões fronteiros e laterais, não sendo permitido, portanto, nem a entrada nem a saída de civis. Imediatamente foi proclamada rigorosa prontidão para todas as tropas que servem ali. Enquanto isso, a cidade se enchia dos mais alarmantes boatos, e os nossos telefones não cessavam de tilintar todos ávidos de informações.

Por volta das 18 horas, tropas do Exército ocupavam a praça da República, colocando imediatamente nos principais entroncamentos metralhadoras. O trânsito ficou desde logo impedido para veículos, salvo os de caráter forçado. E quanto aos pedestres, só podiam passar os que se destinassem a suas residências.

Às 18,30 horas, tivemos informações de que as tropas motomecanizadas sediadas no Derbi Clube compostas de tanques, se dirigiam para o centro da cidade, certamente para reforçar as que já se encontravam na Praça da República. (...)

Pouco depois das 19 horas, três caminhões do Exército, com soldados armados, saiam do Ministério da Guerra em direção ao Palácio do Catete, a fim de guarnecê-lo. Também o Palácio Guanabara estava guarnecido por tropas que imediatamente interditaram o trânsito pelas ruas Paissandú e Álvaro Chaves. (...)

A Avenida Presidente Vargas, em toda a sua extensão, ficou desde cedo ocupada por tropas do Exército, constituídas do 3o Regimento de Carros de Combate e, às 20 horas, chegava ao mesmo local o 1o Grupo de Obuzes. (...)

Depois de tomarem conhecimento da exoneração do Sr. Henrique Dodworth, os secretários da Prefeitura solicitaram também exoneração coletiva. Foi oficialmente noticiada a nomeação do Sr. João Alberto, novo prefeito do Distrito Federal. A comunicação da exoneração do Sr. Henrique Dodworth lhe foi dada por telefone pelo Sr. Agamenon Magalhães. (...)

Às 11,30 da noite de ontem, depois dos acontecimentos que são do domínio público, o Sr. Getúlio Vargas renunciou, entregando o Governo ao presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro José Linhares.

Às duas horas e meia, realizou-se, no Ministério da Guerra, perante os chefes militares, a posse do Ministro José Linhares, como Presidente da República

Perguntado pelo representante de Resistência, se haveria restabelecimento de censura à imprensa, o Ministro João Alberto exclama:

Os senhores estão proibidos de falar sobre esse assunto. Não há, e jamais haverá censura à imprensa. Peço a todos, pois, uma colaboração leal e de sentido construtivo, dentro da mais ampla liberdade." Resistência, 30 de outubro de 1945.

"O general Pedro Aurélio de Góes Monteiro, em nome das Classes Armadas, declara que o Exmo. Sr. Presidente da República, diante dos últimos acontecimentos e para evitar maiores inquietações, por motivos políticos se afastará do Governo, transmitindo o poder ao Presidente do Supremo Tribunal Federal (...)

Cumprindo a 1a Região Militar assegurar a ordem na Capital Federal e evitar qualquer exploração de elementos indesejáveis, previne-se à população que, por medida de ordem, foi determinada a prontidão rigorosa de todas as unidades. Medidas de segurança estão sendo tomadas, de combinação com a Marinha, Aeronáutica e Polícia Civil e Militar. Todos os oficiais, sargentos e demais praças, ao terem conhecimento desde aviso deverão se recolher aos respectivos quartéis.

No Ministério da Guerra, ontem à noite, o general Cordeiro de Farias, por incumbência do general Góis Monteiro, falou aos jornalistas, informando-os a respeito dos acontecimentos do dia.

O general Cordeiro de Farias começou dizendo que ao serem informados da nomeação do Chefe de Polícia do Distrito Federal, os generais estiveram reunidos no Ministério da Guerra, examinando a situação. A reunião foi presidida pelo general Góis Monteiro, ministro da Guerra, que se manifestou solidário com os seus camaradas de armas, enviando ao presidente da República o seu pedido de exoneração do cargo que vinha ocupando no seio do governo. Os generais dirigiram então um apêlo ao general Gois Monteiro para que, não já como ministro da Guerra, mas como Comandante Supremo do Exército, se colocasse à testa do mesmo, tendo em vista os altos interesses da nação brasileira e da tranquilidade nacional. (...)

O general Góis Monteiro, como Comandante do Exército, designou para chefe de seu Estado maior o general Cordeiro de Farias. mais tarde o general Cordeiro de Farias, em companhia do ministro Agamemnon Magalhães e do general Firmo Freire, dirigiu-se ao Palácio Guanabara a fim de informar o presidente Getúlio Vargas, a cerca do que se estava passando. O presidente autorizou então o general Góis Monteiro a dirigir ao país a proclamação cuja cópia o general Cordeiro de Farias deu ali mesmo aos jornalistas. Nessa proclamação se anuncia que o presidente Getúlio Vargas declarou que se afastaria do governo, transmitindo-o ao presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro José Linhares.

O general Cordeiro de Farias comunicou ainda que o Ministério da Guerra manteve constante entendimento com os comandantes de todas as Regiões Militares, as quais se manifestaram solidárias com a decisão dos generais nesta capital. O ministro João Alberto reassumiu a Chefatura de Polícia." A Manhã, 30 de outubro de 1945.

"O general Cordeiro de Farias reuniu os jornalistas, na madrugada de hoje, para expor os vários fatos que de desenrrolaram ontem, nesta Capital, e que terminaram com a renúncia do Presidente da República, que passou o poder ao Presidente do Supremo Tribunal Federal. O general Cordeiro de Farias disse de início:

O general Góis Monteiro, quando se tornou pública a nomeação do chefe de Polícia do Distrito Federal, deliberou renunciar ao cargo de Ministro da Guerra, dirigindo uma carta ao Sr. Presidente. No entanto, atendendo a um apelo dos generais, inclusive em radiogramas dos comandantes das diversas Regiões Militares que secundaram com o seu apoio os colegas que aqui se reuniram, resolveu permanecer como Comandante Em Chefe do Exército Brasileiro, nomeando-me para Chefe de seu Estado Maior.

Nesta ocasião - continuou Cordeiro de Farias - foram dadas ordens às Unidades do Exército para se deslocarem para as proximidades do Quartel General, o que teve início aproximadamente às 18 horas. Estas forças ficaram em situação de poder executar qualquer ordem que se fizesse necessária.

Continuando, disse:

Desde o início, estiveram presentes no Ministério da Guerra os Srs. general Eurico Gaspar Dutra e brigadeiro Eduardo Gomes, tendo também comparecido o ministro Agamemnon Magalhães e o Chefe da Casa Militar do Presidente da República, general Firmo Freire.

Às 21,30 horas - continuou o general Cordeiro de Farias - acompanhado do ministro Agamemnon Magalhães e do general Firmo freire, dirigi-me para o Palácio Guanabara, onde, em nome do general Góis Monteiro, dei conhecimento ao Presidente dos acontecimentos que estavam se desenrolando. Por essa ocasião, transmiti ao Sr. Presidente o apelo do general Góis Monteiro que, já nesse momento, falava em nome do Exército, Aeronáutica e Marinha, para que, com o seu espírito de patriotismo, evitasse o ensanguentamento da família brasileira - declarando-lhe também a firmeza da decisão das classes armadas - que não desejavam a luta, principalmente nas regiões onde estava sediado o Governo. Atendendo a esse apelo o Sr. Presidente da República acedeu, dizendo-se pronto a entregar as funções do Governo ao Presidente do Supremo Tribunal Federal e dizendo que neste sentido poderia o general Góis Monteiro fazer uma proclamação ao país. (...) - O Radical, 30 de outubro de 1945.

"Apesar das desesperadas tentativas dos políticos das oposições coligadas, que, com a constante confusão que estabelecem no espírito público, procuram insinuar que o país está sendo governado por uma ditadura militar, o povo não deve iludir-se com essa manobra. O Chefe do Governo é o Sr. Getúlio Vargas e com ele estão as nossas forças armadas e Nação." Correio da Noite, 29 de outubro de 1945.

"Resolveu-se em poucas horas, com a rapidez dos acontecimentos cósmicos, a crise que nos últimos meses ensombrava os horizontes da Nação, ameaçando, na tarde de ontem, degenerar em guerra civil.

A mudança de altos dignatários do governo foi sinal decisivo para a mudança de ritmo nos fatos cujo lento desenrolar era um cauterio permanente sobre os nervos tensos da população.

A ação do Exército foi rápida. As tropas motorizadas desceram para a Cidade e tomaram posição nos pontos estratégicos, foram guardados os palácios do governo, ocupadas as estações radiotelegráficas, alinhados os tanques ao longo da Avenida Presidente Vargas e ficaram de prontidão as tropas no Campo de Santana.

É de justiça ressaltar nesse momento o espírito de renúncia e o bom senso com que o Sr. Getúlio Vargas aceitou os acontecimentos, evitando com a sua pronta aquiescencia à declaração dos generais, momentos de intranquilidade e de desordem na capital da República. (...)

Segundo informações oficiais reina a mais completa tranquilidade em todo o pais. Nenhuma modificação foi feitas nas administrações estaduais, salvo no Pará, onde o interventor Magalhães Barata havia se demitido, a fim de concorrer às eleições. Para não ficar o governo acefalo o gal. Alexandre Zacharias de Assunção, comandante da Região, tomou posse interina daquelas funções acumulativamente.

Às 11 horas esteve no Palácio da Guerra, onde conferenciou com o General Góes, o Ministro José Linhares. O novo presidente da República deverá tomar posse ás 15 horas, no Palácio do Catete.

O general Góes Monteiro, na manhã de hoje, convidou a todos os generais para assistirem á cerimonia de entrada em exercicio do ministro José Linhares no cargo de Presidente da Republica, que terá lugar ás 15 horas de hoje, no Palácio do Catete.

Ás 11 horas de hoje, chegou ao Palacio do Exercito o ministro José Linhares, novo chefe do Governo. S. Excia. entrou logo em conferencia com o general Góes Monteiro e outras altas autoridades ali presentes. Essa conferencia prosseguia ainda ás 12 horas. (...) Correio da Noite, 30 de outubro de 1945.

"Após a cerimônia de posse, no Ministério da Guerra, A Noite procurou o presidente José Linhares. (...)

A finalidade de minha missão é fazer realizar as eleições já marcadas para 2 de dezembro próximo.

E depois de tecer considerações em torno da hora que o país está vivendo, concluiu:

A minha responsabilidade é muito grande mas a das Forças Armadas é ainda maior.

Pouco depois da meia noite, o Sr. Getúlio Vargas já havia assinado, no Palácio Guanabara, o ato de sua renúncia formal. O ministro da Justiça, Sr. Agamemnon Magalhães tomando-a em màos, deixou imediatamente o Palácio, dirigindo-se, de automóvel, ao Quartel General, onde se encontravam reunidos os generais. O documento histórico foi entregue ao general Góis Monteiro alguns minutos depois. (...)

Cerca de duas horas da madrugada ainda era bem grande o movimento de militares, autoridades e jornalistas no Palácio da Guerra, pois corria a notícia de que o ministro José Linhares, novo presidente da República, dentro de poucos minutos tomaria posse no mais elevado cargo na administração do país e que a mesma teria lugar no gabinete do ministro da Guarra. (...)

Antes de falar à imprensa, por intermédio do general Oswaldo Cordeiro de Farias, o general Góis Monteiro, lançou a seguinte nova proclamação:

O general Pedro Aurélio de Góis Monteiro, em nome das Classes Armadas, declara que o Exmo. Sr. Presidente da República, diante dos últimos acontecimentos e para evitar maiores inquietações, por motivos políticos se afastará do Governo, transmitindo o poder ao presidente do Supremo Tribunal Federal. O Sr. Presidente fará uma proclamação ao povo brasileiro, concorrendo com sua renúncia e alto patriotismo para que a ordem publica não sofra a solução de continuidade e se mantenha inalterável o prestígio do Brasil." A Noite, 30 de outubro de 1945.

AS MANCHETES

Nosso Governo É Civil (Correio da Noite)

Reina Ordem Em Todo O País (Correio da Noite)

A História E O Tempo Falarão Por Mim, Discriminando Responsabilidades
Despedindo-se Do Povo Brasileiro, Em Mensagem Antes De Embarcar O Ex-Presidente Getúlio Vargas Diz Que Não Guardará Nem Ódios Nem Prevenções Pessoais - A Integra Do Documento (Correio da Noite)

Getúlio Vargas Lançará Uma Proclamação Ao Povo Brasileiro - A Renúncia Do Chefe Do Governo Para Evitar O Ensanguentamento Da Família Brasileira
O Ministro José linhares É O Novo Presidente - Volta À Chefia De Polícia O Ministro João Alberto - O General Góis Monteiro Aclamado Chefe Do Exército - Empossado O Novo Governo - Outras Notas (O Radical)

Os Acontecimentos De Ontem - Com A Renúncia Do Sr. Getúlio Vargas, Assumirá O Governo O Presidente Do Supremo Tribunal Federal - A Reunião Dos Generais No Ministério Da Guerra - O General Góis Monteiro No Comando Do Exército - O General Dutra E O Brigadeiro Eduardo Gomes Na Reunião (A Manhã)

Deposto Getúlio Vargas (Resistência)

Deverá Deixar O Rio, Amanhã, O Sr. Getúlio Vargas
Empossado No Governo O Ministro José Linhares
O Presidente Linhares Fala A A Noite (A Noite)

Hoje No Catete O Novo Presidente (A Noite)

Empossado No Governo O Ministro Linhares (A Noite)

Partiu Para São Borja O Sr. Getúlio Vargas (A Noite)


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