REVOLUÇÃO DE 30
"Os primeiros boatos que circularam na cidade diziam que o movimento revolucionario
rebentara em Bello Horizonte.
Succederam-se outras noticias. O agitador Assis Chateaubriand, bem como o Sr. Nelson
Paixão, redactor do "Diario da Noite", teriam sido presos. Momentos após, a nossa
reportagem era informada que a policia havia effectuado mais a prisão de varios jornalistas
pertencentes aos jornaes "Diario da Noite", "O Jornal", "A Batalha", "Diario Carioca" e "A
Patria".
Em todos os quarteis da cidade, a promtidão era rigorosa. O quartel-general, do mesmo
modo, mantinha-se guarnecido por um grande numero de sentinellas. Em varios pontos da
cidade viam-se piquetes de cavallaria e a estação da Central do Brasil mantinha-se vigiada
por um grande numero de agentes policiaes, que fiscalisavam a entrada e sahida de
pessoas. (...)" A Crítica, 4 de outubro de 1930.
"Apesar do terrorismo dos fantasiados pela imaginação exaltada de certos derrotistas, o
rythmo normal da vida carioca não soffreu alterações de natureza alguma. O mesmo
movimento dos dias communs, a mesma calma imperturbavel que é caracteristica não se
modificou.
A cidade quase não commentou o que os boatos vehiculavam. Nas casa de diversões a
concurrencia foi normal. Os cafés e logares publicos apresentavam o aspecto de sempre,
algo mais vivo por ser sabbado - dia ordinariamente consagrado a expansões maiores.
A Avenida - mostruario da elegancia e da fitilidade do Rio - não se despovoou, nem, ao
menos, seu ruidoso movimento envolvente. Não se viam physionomias sobressaltadas, nem
se ouviam commentarios reciosos.
Estava sob a mais completa calma a cidade, hontem. E, o carioca, generoso, bom, nobre, e
respeitador, teve seu somno absolutamente tranquillo." A Crítica, 5 de outubro de 1930.
"Deante da situação anormal creadas pelos acontecimentos de Minas Geraes e do Rio
Grande do Sul, despertando os appetites de alguns retalhistas inescrupulosos, que
pretendiam explorar o povo, o governo da Republica resolveu tomar immediatas e energicas
providencias, tendentes a evitar o assalto á bolsa do povo.
Apezar das difficuldades de transporte entre os Estados de Minas e Rio Grande, nada
justificava o assalto dos "profiteurs" do momento (...)" A Crítica, 8 de outubro de 1930.
"A impressão causada no espirito publico pelo manifesto do presidente Washington Luis
prova a necessidade de um contacto permanente entre os governantes do paiz. Os moldes
da nossa republica isolaram do povo os seus dirigentes. Desse isolamento se aproveitam os
exploradores para a interpretação capciosa de certos actos governativos que permaneceriam
inattingiveis ao desvirtuamento si a palavra presidencial os defendesse perante a Nação. (...)
O presidente Washington Luis - si já tinha a confiança do Brasil que trabalha e deseja
prosperar em paz multiplicou, com o seu manifesto, a efficiencia do apoio que a Nação lhe
dava. Nada falará melhor do que esse documento sobre a indignidade do golpre desferido
contra o Brasil quando os beneficios de um quadriennio honesto e laborioso se reflectiam em
todas as classes.
A magoa do patriota não diminue, porém, a sua fé. Fortalece-a . Á politica do Rio Grande do
Sul coube, para maior sorpreza do administrador probo, o papel de Brutus. A unidade sulina
recebeu do governo Washington Luis os maiores auxilios e honrarias.
Escolhido para ministro da Fazenda neste Governo, o Sr. Getulio Vargas habilitou-se á
presidencia do seu Estado graças ao prestigio que lhe adveio dessa escolha. A sua lealdade
é conhecida do paiz. Passando por cima de um documento garantindo a sua colaboração na
questão da candidatura presidencial - elle candidatou-se á revelia dos compromissos
assumidos. Declarando acceitar o veredictum das urnas como epilogo da sua felonia, elle
armou, ou consentiu que se armassem, os seus correliogionarios.
Brutus em escala maior, o Sr. Getulio Vargas depois de apunhalar pelas costas o amigo,
apunhalou pelas costas o Brasil. (...)" A Crítica, 11 de outubro de 1930.
"O termo da intimação, dirigida ao presidente Washington Luis, estava redigido nos
seguintes termos:
Rio de Janeiro, 24 de outubro de 1930 - Exmo. Sr. presidente da República - A Nação em
armas, de Norte a Sul, irmãos contra irmãos, paes contra filhos, já retalhada,
ensanguentada, anseia por um signal que faça cessar a luta ingloria, que faça voltar a paz
aos espiritos, que derive para uma benefica reconstrução urgente as energias
desencadeadas para a entre destruição.
As forças armadas, permanentes e improvisadas têm sido manejadas como argumento civico
para resolver o problema politico e só têm conseguido causar e soffrer feridos, luto e ruina, o
descontentamento nacional, sempre subsiste e cresce, porque, vencida, não pôde
convencer-se de que, o que teve mais força, tenha mais razão. O mesmo resultado
reproduzir-se-á como desfecho da guerra civil, a mais vultosa que se viu no paiz. A solução
politica, a integridade da Nação, o decoro do Brasil e até mesmo a glória de v. ex. instam,
urgem e imperiosamente commandam a v. ex. que entregue os destinos do Brasil, no actual
momento, aos seus generaes de terra e mar.
Tem v. ex. o prazo de meia hora a contar do recebimento desta para communicar ao portador
a sua resolução e, sendo favoravel, como toda Nação livre o deseja e espera, deixar o poder
com todas as honras garantidas.
(aa.) João de Deus Menna Barreto, general de Divisão, inspector do I Grupo de Região;
João Fernandes Leite de Castro, general de Brigada, commandante do 1o DAC; Firmino
Antonio Borba, general de Brigada, 2o sub-chefe do EMB; Pantaleão Telles, general de
Brigada, e varios generaes e almirantes de que não houve tempo de colher as assignaturas.
Pela Avenida Rio Branco corria anormal o movimento. O povo - depois de longa tyrannia e
liberto, saltava, pulava, dando expansão á alegria immensa que o empolgava.
Automoveis, repletos de militares, em fraternal mistura com o povo, passavam aos gritos de -
Viva a Revolução! - Viva João Pessoa! - Viva Getulio Vargas!
É quando um carro passa, repleto de elemento civil. Ha um movimento geral de curiosidade.
O povo cala-se por instantes. Foi obra de um segundo. Immediatamente, um grito irrompe em
todas as bocas: - Mauricio! Era o Mauricio de Lacerda que passava.
O grande tribuno, notava-se sem sua phisionomia alegre, transpirando jubilo intenso, estava
cansado e mantinha-se ali, com custo porque (talvez effeito dos rudes golpes por que passou
nestas duas ultimas semanas) elle estava mais magro, e abatido, physicamente.
O povo pediu, em altos brados, que Mauricio, o seu estremecido tribuno, falasse.
Mauricio, entretanto, não poude fazel-o. Limitou-se a sorrir, enquanto dirigia um cumprimento
ao povo e acenava com as mãos pedindo-lhe calma.
Depois, a massa popular que cercava-lhe o auto abriu alas, dando-lhe passagem, aos gritos
de: - Viva Mauricio! Viva Getulio Vargas! Viva a Revolução!
Pouco atrás do carro em que vinha Mauricio, o povo agglomerava-se, aos gritos,
incessantes, de "Viva a Revolução", emquanto acenava com varios pedaços de pannos
vermelhos ao ar.
Approximámo-nos, e, então, pudemos comprehender a causa do enthusiasmo do povo. Ali
estava, parada, a "barata" n. 12.026. No seu interior uma moça gentil e bella rasgava o
vestido de côr rubra, para distribuir os pedaços entre o povo.
Quizemos falar-lhe, mas foi impossivel, tão compacta era a massa popular que cercava a
sympathica brasileira! (...)
O povo suburbano, constituido na sua grande parte pelos menos favorecidos da fortuna,
explodiu em vibrantes e enthusiasticas manifestações, dando expansões ruidosas ao seu
incontido jubilo pela victoria dos ideaes revolucionarios.
Os sentimentos de revolta do povo, por tanto tempo suffocados pelos actos da mais torpe
prepotencia, romperam tumultuosos, enthusiasticos e delirantes. (...)" A Esquerda, 24 de
outubro de 1930.
"Neste instante é difficil fixar no papel, no torvelinho da hora historica que a Nação
atravessa, as impressões extraordinarias que nos envolvem. O aturdimento da victoria
inebria o povo. Defronte á nossa redacção, povo e exercito, povo na sua mais ampla
expressão, senhoras e crianças, em verdadeiro delirio, acclamam a liberdade.
A Avenida é toda uma visão alucinante. Os aviões cortamn-a sob a vibração das massas. As
sirenes atordoam. Em outros pontos, defronte do Paiz e da Noticia as fogueiras improvizadas
pelo povo consomem jornaes velhos, livros, escrivaninhas, cadeiras, tudo quanto o povo, no
primeiro impeto arrancou de dentro daquelles jornaes atirando para a rua.
Pelas ruas desfilam multidões inebriadas. O espetaculo é emocionante. A cidade está sob a
impressão de desafogo. Apparecem retratos de Getulio Vargas, em quadros estampados,
deante dos quaes o povo prorompe em vivas.
Era de causar funda impressão o verem-se senhoras quando mais viva era a agitação
distribuirem flores ao povo. Lenços vermelhos, bandeiras vermelhas, um delirio vermelho
vermelho empolgou a capital. O povo victorioso explodia em vibrações permanentes. São
11,30. (...)
Diário da Noite publica com o jubilo natural o documento abaixo, dictado nesta redacção, á
hora em que chegava á Avenida Rio Branco noticia da quéda do governo, pelo capitão
Raymundo da Silva Barros, do Corpo de Intendencia, a valorosa corporação que se associou
immediatamente á causa do povo.
São as seguintes as palavras do valoroso militar que falou ao povo de uma das janellas
deste jornal, o primeiro militar que falou sobre o golpe definitivo da Revolução.
Pela madrugada de hoje, ás 5,30, os officiaes, general Menna Barreto, Firmino Borba e Leite
de Castro e João Gomes Ribeiro Filho, apoiados pelo 1o C/P de São Christovam lançaram
um manifesto aos militares da 1a Região, convidando para o pronunciamento militar que
fizesse para de uma fez para sempre o modo impatriotico de governar o Brasil.
Nesse momento o coronel Bastos, da Intendencia da Guerra, parlamentou com o 1o grupo
para saber se se tratava de uma resolução definitiva e não de um embuste.
Á adhesão do grupo depuzemos immediatamente o general Xavier de Barros que não oppoz
resistencia. Esse official general tinha em seu poder um documento pelo qual lhe haviam
sido adiantados para operações 1.000 contos de réis pelo Banco do Brasil.
Reuniu-se immediatamente o Conselho de Administração para tomar conta dos dinheiros
publicos, sendo presos e desarmados, quando se hasteavam a bandeira brasileira e
revolucionaria o coronel Heitor Abrantes e tenente Ravedutti.
o 1o de Cavallaria fez a guarda da revolução, reaffirmando o valor patriotico de seus homens
que vivavam a causa do povo e mantendo as suas tradições de heroismo, apoiados pelo 1o
Grupo de Artilharia Pesada, disposto e prompto a proteger a marcha revolucionaria sobre a
capital.
São essas as palavras que nos ditou, entre vivas e acclamações o capitão Silva Barros que
o povo pediu que falasse e que depois saiu carregado pela multidão para reunir-se aos seus
companheiros." Diario da Noite, 24 de outubro de 1930.
"Após um periodo de 21 dias de allucinante expectativa e fundas appreensões, os
imperativos da alma popular determinaram os memoraveis acontecimentos que culminaram,
hontem, nessa apotheose á liberdade coroando a redempção de um povo nobre e altivo, que
parecia pequeno porque permanecia de joelhos.
Trazendo no peito o fogo sagrado que levou João Pessôa ao sacrificio supremo da vida,
abalado pelo enthusiasmo santo que o patriotismo communica a todas as almas bem
formadas, o povo carioca saiu hontem para a rua, realizando galhardamente a conquista de
seus direitos conspurcados.
Vibrando em estos de civismo, delirante de alegria, na qual tomaram parte senhoras e
creanças, ao tremular do Pavilhão Nacional a ao aceno dos lenços vermelhos, symbolos e
distinctivos da revolução redemptora, soube o povo, usando de suas prerogativas de conscio
de seus deveres, dar o merecido castigo a todos quantos tripudiavam sobre a caudal de
sangue patricio, generoso e bom que a caricata de um Cesar de papelão desencadeára
sobre o solo da Patria.
Castigou e purificou a fogo o ambiente emprestado pela covardia inonimavel dos lacaios
agachados por traz dos communicados officiaes, supremo escarneo atirado ás faces de um
povo, cuja capacidade de soffrimento se esgotou, emfim.
E no momento justo em que a Nacionalidade reclamava a sua collaboração decisiva, eil-o
que entra em acção vibrando o golpe de misericordia, na tyrannia inconsciente e moribunda.
Da sua actuação na jornada gloriosa de patriotismo e redempção, que hoje inicia a sua
primeira etapa vitoriosa, damos a seguir detalhados informes. (...)
Desde as sete horas da manhã, que a aristocratica Avenida Atlantica, se encontrava em
verdadeiro delirio e sob os impulsos incontidos de alegria sem par, que a todos causou a
victoria da revolução brasileira.
Nas immediações do Forte de Copacabana - o tradicional forte da immortal epopéa dos
dezoito heróes - a massa popular era consideravel.
Ali, como em todo o percurso da elegante praia, o enthusiasmo dos moradores, attingiu ao
auge, e, á passagem de carros conduzindo praças revolucionarias, todas com um laço
vermelho no fuzil ou na farda, o povo prorompia em vivas ardorosos ao "Brasil Livre" e á
"Revolução Victoriosa". Senhoras e crianças, populares e militares viveram horas da mais
completa confraternização.
Foi um brilhante espetaculo, o da manhã de hontem, na aristocratica avenida, espetaculo
que se prolongou até á noite.
O povo na sua incontida expansão de vindicta contra os conspurcadores de sua liberdade,
praticou varias depredações. Os mais sacrificados com a ira do povo foram os jornaes que
apoiaram o governo derrubado.
Assim as sédes dos jornaes "A Noticia", "A Critica", "Vanguarda", "Gazeta de Noticias", "A
Ordem", "O Paiz, "Jornal do Brasil" e "A Noite" foram violentamente alvejados.
Destes, as redacções do "Jornal do Brasil", "A Noite" e "O Paiz" e as officinas da "Gazeta de
Noticias", chegaram a ser incendiadas, sendo necessario o comparecimento do Corpo de
Bombeiros para abafar as chammas. O edificio da "A Noite" ficou damnificado até ao 4o
andar, alem das avarias da redacção.
Enquanto isso, o povo victoriava "A Esquerda" e "A Batalha" e outros orgãos das sympathias
populares eram victoriados. (...) A Batalha, 25 de outubro de 1930.
"Triumphou hontem em toda a linha, pela intervenção dos generaes que intimaram o
Presidente da Republica a deixar o poder, triumphou desde as primeiras horas nesta capital
e pode-se considerar victoriosa em todo o paiz, a revolução desencadeada por Minas
Geraes, Rio Grande do Sul, Parahyba e elementos de outros Estados, contra o governo da
Republica.
Movimento de reivindicações legitimas, necessarias á normalização do paiz, perturbado
pelas injustiças do poder - foi uma revolução eminentemente civil, dos elementos politicos e
populares dos governos estaduaes irmanados com o povo, a que as forças armadas do
Exercito e da Marinha, confraternizadas com a Nação, como sempre, em todas as phases
graves da nossa historia, déram o concurso indispensavel a uma decisão mais rapida.
Minas Geraes teve, por seu governo e pelo seu povo, um papel preponderante nesta grande
jornada civica.
Ainda ao Rio Grande do Sul e a Parahyba, foi o nucleo central da resistencia e da offensiva
contra o governo que, transviado da sua missão, tendo enveredado para os caminhos da
prepotencia e da injustiça, interveiu nos dissidios politicos, empregando em favor de um
grupo todos os recursos que ao poder foram dados para garantia de todos, para
tranquillidade e progresso da Nação.
É cedo nesta primeira hora, de paixões ainda candentes, é cedo para julgar definitivamente
da conducta que entendeu observar o ex-presidente, homem honrado, de qualidades sem
duvida apreciaveis, probidade, caracter e patriotismo, mas violento e obstinado, que a
ninguem ouvia, ou antes só obedecia ás inspirações da sua vontade discrecionaria.
Não lhe falaram com franqueza seus ministros e conselheiros, ou não os escutou.
De que a norma por elle adoptada no exercicio da sua magistratura, que desviou de sua
verdadeira missão pacificadora - prova a revoluçÃo, ora victoriosa em todo o paiz e nesta
Capital, por entre demonstrações de regosijo popular bem maiores do que as que
assignalaram o advento da Republica.
É o regimen que sahe victorioso desta provação, a que o paiz inteiro se associou orientado e
dirigido por um pugilo de patriotas destemerosos civis e militares, cujos nomes estão já
inscriptos no kalendario republicano como regeneradora de uma época, descortinando o
futuro.
Getulio Vargas, Olegario Maciel, Antonio Carlos, Arthur Bernardes, Oswaldo Aranha, Juarez
Tavora, e seus bravos companheiros de armas, Flores da Cunha, João Neves, e tantos
outros heroes, civis e militares, desta jornada de altivas repulsas e corajosas affirmações,
com os generaes e almirantes que hontem déram o golpe final da campanha, assumiram
grandes compromissos com a Nação.
Estamos seguros de que vão abrir para o Brasil um novo acto de garantias effectivas, de
trabalho, de progresso, e civilização.
Liberdade e Justiça sejam o lemma desse periodo historico, que se abre para a nossa patria,
deante do olhar vigilante do continente e do mundo.
Liberdade, autoridade, direito, justiça - tudo isso temperado pela equidade, emanação da
bondade constructora.
Bondade que desarma e pacifica, fundando os alicerces do edificio social no coração do
povo, fraternisado e feliz. Viva a Republica! Viva o Brasil unido e forte!" A Patria, 25 de
outubro de 1930.
"A população do Rio de Janeiro sabe que o edificio da A Noite foi assaltado, que as suas
officinas foram quasi totalmente destruidas, que os escriptorios e empresas installados no
arranha-céu foram roubados, mas ainda não conhece os autores dessas brutalidades, que
surprehenderam a todos, e ninguem attribuiu, nem poderia logicamente attribuir, ao
generoso, ao culto povo carioca.
As attitudes da A Noite no momento que passava não explicariam taes crimes, que tiveram
origem no odio e na inveja, procurando aproveitar-se de uma situação anormal para destruir
um jornal em cujas columnas têm amparo todos os desgraçados e que despende uma média
mensal de trinta contos para soccorrer os necessitados que batem á sua porta.
O jornal que tem aberto em favor dos humildes as subscripções mais vultosas, que dá conta
minuciosa, aos doadores dos donativos que lhe são entregues, que tem collocado nos
hospitaes milhares de enfermos pobres, que levanta das ruas os infelizes sem tecto, que
affronta os poderosos na defesa dos fracos, nunca seria, e não foi atacado pelo povo a que
se devotou.
Conforme declarações espontaneamente feitas deante das novas autoridades, alguns
communistas, auxiliados por individuos despedidos da A Noite, no momento em que se
atacava O Paiz, conseguiam arrastar os elementos communistas e grupos de individuos
fluctuantes, sem classificação,, nem idéas, para atiral-os contra a nossa folha, cujos
empregados, em grande parte, como adiante demonstraremos, estavam nas fileiras da
revolução, enfrentando os corpos que ainda não se haviam definido contra o governo.
Na A Noite, á hora do assalto, estavam, apenas, um dos directores da Sociedade Anonyma,
o gerente, o redactor-chefe, alguns empregados do escriptorio e parte do pessoal das
officinas.
Quando os aggressores se aproximaram, suppondo-os revolucionarios, recebemol-os como
amigos janellas e portas abertas. Um delles, porém, destacando-se exigiu que arriassemos a
bandeira nacional, hasteada no terceiro pavimento, gritando-nos: - Arrie a bandeira
burgueza! Outro exigiu: - Levanta a bandeira vermelha!
Fizemos então baixar as portas exteriores de aço. Uma dellas foi arrebentada com auxilio de
um caminhão. Arrancada de nosso fachada a bandeira do Brasil, foi pisada pelos
communistas, que a rasgaram, levando um de seus pedaços como um trophéo, a redacção
do "Diario da Noite", como noticiou esse vespertino.
Assistimos depois á invasão do nosso edificio e á depredação do nosso material. Pensamos
no primeiro momento que soffriamos, apenas, a "revanche" do communismo e só mais tarde
viemos a saber que outros elementos por despeito e inveja tinham-se reunido aos
subversores da sociedade. (...)" A Noite, 4 de novembro de 1930.
AS MANCHETES
As Ultimas Informações Sobre O Movimento Subversivo De Minas Geraes e Rio Grande - Foi
Decretado O Estado De Sitio Para Minas, Rio Grande, Parahyba, Districto Federal E E. Do
Rio (A Critica)
As Tropas Federaes Estão Senhoras Da Situação - Reina Completa Calma Em Todo O
resto Do Paiz - Todas as Altas Patentes Do Exercito Solidarias Com O Governo (A Critica)
Como Será Feito O Abastecimento De Generos Alimenticios Á Cidade - O Governo, Attento,
Ao Bem Estar Publico, Toma Energicas E Efficazes Providencias Para O Abastecimento De
Generos Á População (A Critica)
Brutus (A Critica)
Num Gesto Que Bem Define A Sua Mentalidade E Tanto Ennobrece Os Seus Sentimentos,
O Povo Da Capital Da Republica Acaba De Vibrar O Golpe Decisivo Nesse Montão De
Miserias E Sordices Que Era O Governo Que Acaba De Cair, Afogado Na Propria Ignominia.
Precipitando Os Acontecimentos E Dando A Victoria Á Causa Sagrada Da Patria, O Povo
Carioca Pôz Um Dique, Á Caudal De Sangue Desencadeada Pelos Moribundos E Avultou,
Aureolado, No Coração Do Brasil - Salve Povo Carioca! (A Esquerda)
Viva O Brasil ! Viva A Republica Nova E Redimida ! Os Ideaes Da Patria Venceram ! (Diario
da Noite)
O Sr. Washington Luis Que, Diziam Os Seus Amigos, Era Destemido E Bravo, Teimoso E
Valente, capaz De Morrer No Seu Posto, Sem Recuar, Teve Medo Do Povo. Teve Medo E
Até Ás 14 Horas De Hontem Permanecia No Palacio Guanabara, De Onde Teimava Em Não
Sair, Porque O Povo Estacionava Nas Immediações. Doloroso Epilogo De Uma Farça; Triste
Fim De Um Regabofe Indecoroso Que Se Esvae Por Entre Arrepios De Pavor E Temores De
Medo... (A Batalha)
Alliando-se Á Republica Triumphante, Os Generaes De Terra E Mar Apressam A Victoria. O
Povo Carioca, Numa Confraternização Commovedora, Tomou Parte Na Arrancada Final Em
Que As Forças Armadas Depuzeram O Governo Que Nos Infelicitava E Desagradava. O
Ex-Presidente Foi Conduzido, Preso, Para O Forte De Copacabana. A Victoria Da Revolução
(A Patria)
As Attitudes Da "A Noite" (A Noite)