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REVOLTA DO FORTE
Ano: 1922

"Desde a madrugada de ontem que entrou a cidade numa situação inquieta, com o pronunciamento militar iniciado pelo forte de Copacabana, que ficou sob a ação revolucionária do capitão Euclides Fonseca, logo seguido do levante na Vila Deodoro. As primeiras notícias eram desorientadas, e muitas vezes contraditórias, o que não permitiu se fizesse um juízo seguro dos acontecimentos que se desenrolaram. O noticiário refletiu, como não podia deixar de refletir, esse 'brouhahada', levando um pouco de confusão aos espíritos inespertos. (...)

Cerca de 1 hora da madrugada o general Bonifácio Costa, com o seu ajudante de ordens e o capitão Silva Barbosa, de artilharia, aproximou-se da porta das armas da fortaleza e anunciou-se ao oficial de dia, que foi chamado. Este, comparecendo, foi informado pelo general Costa que ia para falar com o capitão Euclides Fonseca sobre um caso oficial e urgente.

O capitão Euclides, que estava recolhido no seu aposento, mandou que o oficial de dia introduzisse o general e o capitão na sala de armas, pois recebel-os-ia logo. Poucos momentos após, o capitão Euclides aparecia na referida sala e recebia os dois oficiais, tendo o general Costa lhe comunicado a natureza de sua missão: receber a fortaleza e entregar o comando da mesma ao oficial que os acompanhava. O capitão Euclides Fonseca declarou estranhar tal procedimento, acrescentando que não entregaria o comando naquele momento.

Trocaram-se algumas palavras entre os dois interlocutores, até que o capitão Euclides declarou ao general Bonifácio Costa que se considerasse prisioneiro, bem como o capitão referido e o seu ajudante de ordens e ordenanças. Ato contínuo, o capitão Euclides designou um oficial para olhar pelos oficiais presos, sendo-lhes indicado aposentos.

Foi, então, 1 e 35 da manhã, que a fortaleza fez o primeiro disparo, de pólvora seca, sinal, ao que parece, convencional, para os outros elementos sublevados. Foram logo distribuídas vedetas para a avenida Atlântica e rua Nossa Senhora de Copacabana e, ao nascer do dia foi iniciado o serviço de abertura de trincheiras, trabalho que às 11 horas da manhã estava dado por terminado. O fosso aberto ocupa a extensão que fica em frente à rua Copacabana e ao meio dia já se achava guarnecido. (...)

O número de praças inferiores e oficiais sublevados atinge a 359 homens, incluindo o pessoal que estava no forte do Leme, e que pouco antes das 10 horas fora chamado e mandado recolher à fortaleza de Copacabana, aderindo, assim, ao movimento. Antes, porém, de deixarem o forte do Leme retiraram as culatras das peças. No forte de Copacabana há munição de bocca para um mês. (...) - O Brasil, 6 de julho de 1922.

"Foi às 21 horas de ante-ontem que o governo começou a receber informes sobre o projetado movimento de revolta na Vila Militar. Recebendo dos seus agentes todas as comunicações sobre o que ocorria, o governo imediatamente concertava as medidas de repressão. Assim que foi ouvido o primeiro disparo no Forte de Copacabana, estourou na Vila Militar a insubordinação de um pelotão do 1o Regimento. Estava este pelotão com alguma munição. A outra parte do regimento que se manteve com a legalidade, conseguiu sufocar a rebelião.

Conforme informações que temos, das proximidades da Vila Militar, reina desde ontem ali completa tranquilidade depois da rendição das praças da Escola Militar e do 1o de Cavalaria. As forças da Polícia Militar que seguiram para ajudar a dominar a rebelião, já regressaram para esta Capital, tendo também regressado a 3a companhia de metralhadoras. Esta força estacionou, depois de descer da Vila Militar em Cascadura. As novas notícias sobre o Forte de Copacabana declaram que o chefe dos revoltosos nesta praça de guerra pediu para parlamentar com o governo, informação esta que publicamos mais abaixo com os devidos esclarecimentos. (...)

O despertar dos moradores dos lindos bairros atlânticos de Copacabana, Leme e Ipanema foi, na madrugada de ontem, terrível. As famílias dispunham-se a abandonar as suas residências apressadamente, na imminência do forte que estava revoltado, ser bombardeado pelas tropas legais. Desde as primeiras horas do dia, um inumerável cortejo de todas as características sociais, em automóveis, bonds, caminhões do Corpo de Bombeiros e carroças, desfilava pela rua Barroso, direção a Botafogo, pelo Tunel Velho.

Os moradores do Leme cujo bairro estava sendo alvejado pelos 7 1/2 do forte de Copacabana retiravam-se a conselho da própria autoridade. O forte de cinco a cinco minutos disparava para a antrada do Tunel Novo, onde estavam alojadas as tropas do 3o Regimento de Infantaria. O trânsito ficou, então, interrompido neste trecho. Os bonds passaram a circular pelo Tunel Velho, até as 15 horas, quando não mais atingiram o bairro atlântico, por estar o mesmo sitiado pelas tropas e, na iminência de ser bombardeado pela esquadra, pela aviação naval e pelas tropas de terra - o que talvez se dê esta manhà, segundo informações que tivemos. (...)

O Forte de Copacabana, o iniciador da rebelião, hontem, até a tarde, continuava atirando a esmo. Em certo momento os disparos passaram a ser feitos em direção do bairro de Copacabana, o que estava causando prejuizos aos prédios da Avenida Atlântica. (...)

O governo tendo recebido uma intimação do forte de Copacabana respondeu a este documento dos revoltosos com a decisão tomada de que se a guarnição do forte nào se render, dentro de um determinado prazo de horas, mandará o governo bombardeal-o por forças de mar e terra, sendo a rendição sem condições. (...)

Ao assinar do decreto de estado de sítio, ontem aprovado pelo Congresso Nacional, o sr. presidente da República proferiu as seguintes palavras:

- Nunca desejei e nunca pensei ter de assinar um ato como este, mas agora o faço gostosamente, certo de que estou prestando um serviço à República e às instituições." A Pátria, 6 de julho de 1922.

"Lamentamos o desvario dos espiritos que, por criminosa ambição política, arrastou homens de responsabilidade como os Srs. Nilo Peçanha e marechal Hermes à revolução contra o governo constituído do país; limitamo-nos a nomear alguns fatos do movimento, felizmente dominado pelo governo, que teve a seu lado as forças armadas e a opinião conservadora do país. (...)

O movimento explodiu quase simultaneamente na Escola Militar do Realengo e na fortaleza de Copacabana. Os revoltosos acreditavam que o resto das forças da guarnição militar aderisse à revolução, mas essas esperanças felizmente fracassaram. As tropas, em sua grande maioria, conservaram-se fiéis ao Governo e à legalidade. Aquela Escola, sob o comando do tenente-coronel Xavier de Brito e tendo como oficiais vários capitães e tenentes revoltosos que, na noite de 4, iludindo a vigilância da Polícia Militar conseguiram atingir o Realengo, saiu para o 1o batalhão de engenharia, certo de ser este o único obstáculo que encontrariam para chegar ao contato com as tropas da Villa Militar, supostos também em estado de sublevação.

O 1o batalhão de engenharia, reforçado imediatamente pelo 15o regimento de cavalaria, repeliu os revoltosos que se instalavam nas alturas que dominam, pelo lado de oeste, a Villa Militar, e aí colocando seus canhões, abriram intenso fogo contra os quartéis do 1o artilharia, 1a brigada de infantaria, Escola de Sargentos etc. A esse tempo, o general de brigada Ribeiro da Costa, na sua qualidade de chefe mais graduado da Villa Militar assumiu o comando de todas as forças e dispôs a defesa. (...)

Na Villa Militar só houve um pequeno movimento subversivo, imediatamente abafado. Um pelotão, às ordens de um tenente, atirou contra a sala onde estavam reunidos os oficiais. O capitão da companhia a que pertencia esse pelotão, de nome Barbosa Monteiro, oficial de extraordinário valor moral e intelectual, saiu ao encontro dos soldados sublevados e recebeu uma descarga que o fez tomar morto. O pelotão, imediatamente cercado pelo resto da companhia, que acudiu, foi, com seu comandante, feito prisioneiro e desarmado. (...)" A União, 9 de julho de 1922.

"As forças que estão sitiando o forte de Copacabana, sob o comando do general Menna Barreto, tiveram ordem do governo para enviarem um 'ultimatum' à fortaleza, intimando-a a render-se dentro de uma hora. Em caso contrário será bombardeada por forças legais de terra e navios de guerra." O Combate, 5 de julho de 1922.

"Por ordem do governo, a fortaleza de Santa Cruz e o forte de Imbuhy desde ontem às 6 1/2 até hoje pela manhã, que estão fazendo disparos contra o forte de Copacabana. (...)

O Diário Oficial publicou a seguinte nota: - Tendo se revoltado na madrugada de ontem a guarnição do forte de Copacabana, que se achava sob o comando do capitão Euclides Hermes da Fonseca, e havendo aderido a esse movimento a Escola Militar, o sr. Presidente da República adotou prontas e energicas providências, fazendo cercar imediatamente aquela fortaleza e ordenando que as forças legais fossem ao encontro da Escola Militar. Entrando em contato com a Escola, as forças legais travaram com esta um tiroteio conseguindo em pouco tempo dominar inteiramente os sediciosos, que se renderam à discreção do governo, sendo todos presos e desarmados e conduzidos para a Capital. Todos as demais forças da guarnição estão com o governo, estando a cidade em completa calma. (...)

O Sr. Presidente da República, no momento em que assinava a decretação do estado de sítio, recebeu uma comunicação telefônica do Ministério da Guerra, anunciando que os revoltosos do forte de Copacabana acabavam de solicitar a admissão de um parlamentar, ao que o Sr. Presidente da República se negou terminantemente, adiantando mais, que só aceitaria a rendição discrecionária. (...)

Hoje pela manhã sob a serenidade do azul do céu passou, com destino a Copacabana, uma esquadrilha de aeroplanos 'Breguet' a fim de cooperar com as forças legais no assalto ao forte. É bem possível que as possantes máquinas do novo poder aéreo tenham entrado em ação com as suas bombas de assalto. (...)

O governo intimou o forte de Copacabana a, dentro de um certo número de horas, render-se incondicionalmente, sem o que, bombardeal-o-á por forças de mar e terra." O Combate, 6 de julho de 1922.

"Segundo declarações dos soldados presos, o tenente Siqueira campos e seus colegas resolveram enfrentar peito a peito os legalistas, não querendo bombardear a cidade, como tencionavam pela manhã enquanto aguardavam a resposta do governo sobre as condições de rendição da praça. Rasgaram então a bandeira do Forte, distribuindo um pedaço a cada praça, colocando-o no peito, desceram do Forte, para virem atacar os 2000 legalistas que os sitiavam." O Combate, 7 de julho de 1922.

"A cidade acordou tranquilla, tendo adormecido na sciencia de que o governo estava resolvido a fazer emmudecer, e render-se, o forte de Copacabana. Parte do commercio central abriu suas portas, num começo de normalisação. Por volta das 8 horas, porém, senào precisamente entre ás 7 1/2 horas e ás 8, a população ficou um pouco desorientada com a successão de uma meia duzia de fortes disparos, que abalavam os moradores. Os habitantes das vizinhanças, do mar notaram o movimento de navios de nossa esquadra que se dirigiam para o forte de Copacabana, regressando depois ao porto, para novamente tomar aquelle rumo, chegando mesmo o S. Paulo a transpor a barra.

Por volta das 10 horas foram vistos alguns apparelhos de aviação voar na direcção do forte de Copacabana, e logo depois se soube officialmente da rendição do forte, noticia esta que circulando, celere, por toda a cidade a attingindo, logo, todos os bairros, tranquilisou a familia carioca. Mas os suburbios, desde hontem á noite se achava relativamente tranquillos, á vista da retirada das forças, que protegiam a linha ferrea. E o Cattete, depois das 10 horas da manhã, ficou tambem desguarnecido, o que produziu immediatamente uma impressão de que a cidade retomava de certo a sua normalidade completa. (...)

As autoridades militares, pela manhã, conseguiram, após o ataque que foi dirigido contra o forte de Copacabana, communicar-se com o respectivo commandante, capitão Euclydes da Fonseca, intimando-o a entregar-se, pois a sua resistencia seria inutil, uma vez que todas as forças, quer do exercito, quer da Marinha, estavam ao lado do Governo.

O capitão Euclydes, ante a evidencia desses factos, declarou que se entregaria; mas com a condição de ser respeitada a vida daquelles que com elle se achavam na fortaleza. Promettido ser atendido nesta imposição, o forte de Copacabana entregou-se ás forças legaes, sendo o capitão Euclydes preso, assim como os 18 homens que constituiam a guarnição do forte, pois as demais ja o haviam abandonado, no correr da noite. (...)" A Noite, 6 de julho de 1922.

"Os graves sucessos da noite anterior foram o prenuncio de um movimento revolucionario que estalou, pela madrugada de hontem e que deixou a cidade grandemente alarmada.

Conforme é sabido, o movimento teve origem na Escola Militar, e as primeiras noticias para aqui transmittidas davam como à frente da tropa revolucionaria o marechal Hermes. E, durante toda a noite, os boatos mais desencontrados corriam, deixando toda gente apprehensiva deante dos acontecimentos que se desenrolariam. O que se passou durante o dia no Cattete e no quartel-general, a imprensa relatou minuciosamente e a noticia do levante soube-se depois pela intercepção do Centro Telephonico de diversas communicações para corpos da Villa, marcando o movimento para determinada hora.

De posse de taes revelações, facil foi ao governo organizar o seu plano de resistencia, entendendo-se antes com o general Carneiro da Fontoura e com o titular da pasta da Guerra.

As notícias sobre os acontecimentos chegaram aqui desencontradas, sem que se soubesse ao certo o que de positivo havia ocorrido.

Na cidade conhecia-se do plano apenas a adhesão em definitivo do forte de Copacabana, de onde, de quando em quando, se ouviam disparos, que mais se accentuaram á tarde quando circulou a notícia de que o 3o regimento iria tomar o forte de assalto, á noite.

Algumas baterias de canhão de tiro rapido faziam disparos em direcção ao Tunel Novo, na supposição de que as tropas legaes ali se encontrassem. O éco formidavel dos disparos de tiro rapido, em Copacabana, dava a impressào de que o bairro todo estava sendo arrasado e, dahi, o exodo das familias que foram procurar outros pontos da cidade. (...)

Ao que sabemos, até á ultima hora o forte de Copacabana não se havia rendido ainda. Dizia-se que o commandante propuzera uma rendição com condições, mas que o governo a recusara. O ataque ao forte, por este motivo, fôra resolvido e se realizaria pela madrugada simultaneamente pelas fortalezas proximas, por navios da esquadra e por forças do exército." Correio da Manhã, 6 de julho de 1922.

AS MANCHETES

A Revolta Do Forte De Copacabana E O Movimento Da Escola Militar
O Congresso Concede A Medida Do Sitio, Pedido Com Urgencia, Pelo Governo - Varias Prisões - Mortos E Feridos (Correio da Manhã)

Pronunciamento Militar - O Governo Informa A Rendição Discrecionária da Escola Militar E Do 15o Regimento De Cavalaria Da Villa Militar - O Estado De Sítio Foi Ontem Mesmo Sancionado - O Forte De Copacabana É Intimado Pelas Forças Legaes A Render-se Incondicionalmente - O Que Foi O Encontro De Tropas Em Deodoro - Algumas Granadas Caem Sobre O Quartel General Fazendo Vítimas (O Brasil)

A Situação - Os Sucessos De Hoje - A Rendição Do Forte De Copacabana (A Noite)

A Escola De Guerra Rendeu-se - O Levante Na Villa Militar Foi Dominado
Esperava-se A Rendição Do Forte De Copacabana -
Foi Decretado O Estado De Sítio Por 30 Horas (A Pátria)

Copacabana Prestes A Capitular! (O Combate)

O Movimento Revolucionário Que Explodiu Nesta Capital
A Legalidade Vitoriosa (A União)


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