>> Matéria Anterior:
     Revolta dos Anarquistas
>> Próxima Matéria:
     Campeonato Sulamericano

OLAVO BILAC
Ano: 1918

"A cidade despertou sob a emoção de uma notícia triste: Olavo Bilac, um dos seus filhos mais dilectos, poeta soberano, artista impecável, acabava de falecer às 5.30 da manhã. Uma pneumoccocia impenitente, agravada pelos maléficos da miocardite crônica, de que sofria o autor de elevado número de obras scintilantes, fazia abater o o organismo do insigne patrício. Diante do esquife que encerra os despojos de Olavo Bilac, sob a tristeza que suscita a sua morte, avulta-se o apreço ao príncipe da poesia brasileira, por ele elevada e dignificada em surtos de aprimorado gênio artístico.

Ourives do verso, são jóias de subido valor os "Panoplias", a "Via Láctea", a "Alma Inquirta", as "Sacras de Fogo", as "Viagens", o "Caçador de Esmeraldas". Precursor da Escola Parnasiana no Brasil, teve como Leconte de Lisle e Hereclia, o brilho, a cor, o rítmo, a suprema beleza, a intuição do maravilhoso Tivesse nascido em França e escrito em francês e o seu nome seria universal. Mas, nascido no Brasil, expressando-se em português, idioma que ele cultuava com requintes não comuns, nem assim amesquinhou-se o seu prestígio. Dentre os quatro maiores poetas que introduziram o parnasianismo em nosso mundo literário, é o mais sugestivo, o mais brilhante, o mais impecável. (...)

A noite de ontem para hoje, passou-se mal. A morte avizinhava-se do poeta. Foram baldados todos os recursos médicos adotados com proficiência pelo Dr. Henrique Roxo. Pela madrugada, instantes antes de morrer, o artista de muitos versos de ouro, levantou-se do leito. Suas pupilas brilhavam.

- Dei-me café; eu quero escrever! - exclamou com voz firme, mas um tanto fraca. Às 5,30 da manhã, em companhia da sua família, isto é, de Alexandre Guimarães, seu cunhado, de sua irmã, de Corrêa Guimarães e de seus sobrinhos Ernani e mademoiselle Corina, bem como de vários amigos, cessou o último alento do maior poeta patrício.

Poeta dos mais ardentes, Olavo Bilac celebrava com filosofia a volúpia da vida. Morrer num dia cheio de sol, em terra moça regorgitante de flores, tendo ao seu lado uma mulher formosa, pareceu-lhe o horror da maior tortura espiritual (...)" A Rua, 28 de dezembro de 1918.

"Morreu Olavo Bilac, o príncipe dos poetas brasileiros! A notícia assim dada desdobra logo à imaginação de quantos a lê os painéis de uma vida toda voltada ao culto da Arte, à Beleza e aos ardores de um patriotismo ardente e fecundo. Não há, entre os poetas contemporâneos patrícios, nenhum que tenha logrado o renome e a popularidade de Olavo Bilac.

Nascido em 1865, o seu talento nasceu precisamente num período de transformações literárias, filosóficas e políticas, tendo Olavo Bilac conquistado a situação de maior relevo. Seus primeiros versos, que constituem a parte inicial das "Poesias", produziram sucesso excepcional (...)

A sua poesia, aproveitando a plástica, proclamada pela escola, não perdeu a vivacidade, a exuberância, o fervor que constituem a eminência essência dos nossos pendores artísticos. "Sarças de Jogo" são um formoso exemplo. O seu "Julgamento de Phynéa" é uma obra prima, nessa feição. O aparecimento dessas poesias marcou desde logo rumo novo nas letras nacionais. Por aqueles tempos, obstinadamente românticos, os escitores e poetas novos guardavam ainda a maneira boêmia, aprendida nos romances de Murger. O grupo era numeroso. Fazia-se Arte no fundo dos botequins e cervejarias. Coelho Netto, Patrocínio, Aluisio Azevedo, Raul Pompéia, Olavo Bilac, Guimarães Passos, Luiz Murat, Arthur Azevedo, Valentim Magalhães e outros, compunham jornais e revistas boemiando. (...)

Surgira a questão formidável da Abolição, empolgando os espíritos. Não havia hesitar e Bilac, com seus companheiros, foi colhido no tumulto libertário. (...) Republicano por temperamento, Olavo Bilac via na proclamação de 15 de novembro a realidade num sonho seu. Daí empenhar-se nas lutas consequentes da Revolta de 6 de Setembro, fugindo - sob ameaça de prisão, ou ainda pior - para Minas, de onde mandava logo depois as lindas crônicas que formam a melhor parte do seu livro "Crônicas e Novelas" e onde colheu o tema para esse admirável, esse legítimo poema nacional "O Caçador de Esmeraldas". (...)

Cronista, Olavo Bilac deu à "Notícia" o brilho inexcedível da sua colaboração durante anos, escrevendo diariamente "O Registro". Ultimamente afastara-se de imprensa. Estavam errados os que acreditavam que a atividade maravilhosa de Olavo Bilac calara-se. No silêncio do seu gabinete, o poeta admirável comounha sem tréguas. (...) Recordando aqui, nas atropeladas palavras que a notícia da morte de Olavo Bilac nos permite escrever, a personalidade excepcional desse grande poeta, queremos deixar nas páginas do jornal que ele tanto ilustrou com o ouro admirável de seu talento, as provas legítimas da nossa dor e da nossa grande e irreparável saudade. (...)" A Notícia, 28 de dezembro de 1918.

"Aquela célebre frase de "vão-se os deuses!" o destino quiz contrapor, na maior das crueldades, a de "vão-se os poetas!". Hontem, foi Rostand que, com a sua morte, enlutou toda a França, que tão gloriosamente cantara; hoje foi Olavo Bilac, que, no seu leito mortuário, enche de sombras os céus da literatura brasileira, onde, com os fulgores do seu talento privilegiado, figurava como astro de primeira grandeza, intangível e inconfundível.

Ourives da forma, esmerilhador de idéias, lapidador de conceitos, era a sua cerebração uma das mais raras que a poesia contemporânea nos podia oferecer. Os seus versos correm de boca em boca, em língua portuguesa e em várias traduções, e os sonetos que o seu estro brilhante soube transmitir à posteridade, envoltos em uma aureola de incomparável esplendor e perfeição, serão o eterno movimento erguido à sua memória, levantado por suas próprias mãos, para seu maior renome e orgulho das letras patrias. (...)

Foi realmente fecunda a vida do glorioso poeta. No verso como na prosa, na tribuna das conferências como nas colunas dos jornais e ainda na fiscalização do ensino - em tudo foi uma existência brilhante e encantadora. (...) Bilac, sabe-se, trabalhava há dezesseis anos, em um dicionário analógico, do qual, dizia o poeta, seria a sua grande obra final de poeta. (...)

Estava resolvido hoje, pela manhã, que a Academia de Letras faria o enterro. No entanto falava-se que também a Liga de Defesa Nacional tencionava oferecer-se para tal, como uma homenagem a quem despertou o coração da mocidade brasileira em S. Paulo, depois pronunciando discursos de pura fé patriótica e entranhado amor ao Brasil." A Noite, 28 de dezembro de 1918.

"Embora esperada, pois de há muito se conhecia a extrema gravidade da moléstia do grande poeta, a morte de Olavo Bilac, ocorrida na manhã de hoje, causou uma impressão dolorosíssima. Não foram os meios propriamente literários e jornalísticos aqueles em que a triste nova repercutiu de maneira mais consternadora. Toda a cidade sentiu, sinceramente, o desaparecimento do grande poeta, que era orgulho de sua geração e que soubera incarnar, na última etapa de sua vida, todo o admirável surto de renascimento cívico que se operou no Brasil. (...) Portanto, Olavo Bilac não foi apenas o poeta incomparável, cuja obra aí fica, como uma das mais ricas, e das mais belas da nossa literatura. Foi também, em um momento decisivo da vida nacional, o intérprete eloquentíssimo das aspirações brasileiras. A sua conferência na Academia de Direito de S. Paulo, primeira de uma série em prol da difusão do serviço militar, foi um hino entusiástico à grandeza do Brasil. Bilac pregou então a união de todos os moços sob o ideal magnífico da Pátria renovada e forte. E o seu luminoso apostolado não foi em pura perda. O seu exemplo frutificou. Em pouco tempo, a semente que o seu gênio semeou se desdobrava. (...)

Olavo Bilac guardava o leito há muitos dias, tendo, agora, seus antigos padecimentos agravados, por um ataque de "gripe", vindo, em consequência, falecer, depois de esgotados todos os recursos da ciência, miraculosamente procurada pelo seu médico assistente, Dr. Henrique Roxo, de quem o poeta era grande amigo.(...)

Poeta por vocação, trovador por índole, o morto ilustre deixa precioso acervo de poesia, das melhores que existem em nossa língua. Pouco produziu, mas tudo quanto saiu da sua pena teve, desde logo, o caráter de perpetuidade. (...) Além de poeta-mestre, Bilac era também prosador elegante e, sobretudo, conferencista sem muitos competidores. (...) Suas obras literárias são: "Poesias Infantis e Poesias"; "Crítica e Fantasia"; "Conferências Literárias". Em colaboração: "Cantos Patrios", "Livros de Leitura", "Teatro Infantil", "A Pátria Brasileira", "Tratado de Versificação", "Livro de Composições", "Através do Brazil". (...) Olavo Bilac pertencia a várias instituições e academias. Era membro fundador da Academia Brasileira. Era também inspetor escolar aposentado." A Tribuna, 28 de dezembro de 1918.

"O passamento de Olavo Bilac registrado às primeiras horas do dia de ontem era previsto por alguns dos seus amigos íntimos. Moléstia impenitente vinha minando o seu organismo, asuumindo nestes últimos dias uma feição de extrema gravidade. Lúcido de espírito, calmamente esperou a morte redentora e, antes do derradeiro alento físico, ainda se via deslumbrado pelas miragens de algum sonho de arte, que ele desejou exteriorizar em versos. Pediu, então, café e pretendeu escrever. (...) A obra de Bilac, é sem dúvida, comparativamente à dos grandes poetas brasileiros, uma das mais brilhantes. Sua primeira série de "Poesias", apesár das influências flagrantes do parnasianos franceses, principalmente Theophile Gauthier, François Copée, Heredia Baudelaire, apresenta-nos páginas verdadeiramente fulgurantes, como as do Ïn Extremis", "Inania Verba", as de muitos sonetos das "Viagens" e do "Caçador de Esmeraldas", poemeto verdadeiramente modelar, pela harmonisação estética da Forma e do Fundo. Mas de todos os parnasianos brasileiros, foi Olavo Bilac o que menos seguiu os preconceitos da impossibilidade característica do espírito da escola decaída. O seu verso, pessoal pelo estilo fundia o fundo e a forma numa liga perfeita de idéias fortes, esplendidamente exteriorizadas. A "Tarde", volume de sonetos é, porém, o mais expressivo da personalidade literária do poeta brasileiro. Em sua última obra revela-se Bilac liberto dos preceitos escolásticos, dentro do seu próprio sonho e para ele vivendo. É certo, infelizmente, que o vício da factura do soneto privou-o de expandir o talento a mais vastos surtos. Mas o artista revela-se columnal num país que ainda não produziu um gênio primordial a Victor Hugo... (...) A sua campanha em pról do levantamento cívico da nossa nacionalidade foi uma das mais brilhantes e mais dignas. Está na sua vida social na razão direta dos seus sonetos com laivos de espiritualidade e pureza. (...)" A Razão, 29 de dezembro de 1918.

AS MANCHETES

Morreu Bilac - "Dêem-me Café! Quero Escrever!" - Foi A Sua Última Frase - A Resurreção Cívica Do Brasil E O Seu Otimismo (A Rua)

Olavo Bilac Morreu - Já Raia A Madrugada; Dêm-me Café, Vou Escrever! - As Últimas Palavras Do Príncipe Dos Poetas Brasileiros (A Noite)

O Passamento De Olavo Bilac - O Patriota, Seu Momento Extremo E A Sua Obra (A Razão)



Página inicial