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REVOLTA DOS MARINHEIROS
Ano: 1910

"Terminou felizmente com a entrega dos navios ao domínio do governo a revolta de parte da nossa marinhagem na baía do Rio de Janeiro. Não obstante a terrível trucidação de alguns dos nossos oficiais de marinha e outros danos causados, não há como negar que os pobres marinheiros desesperaram, por insuportáveis, com os rigorosos castigos que lhes eram inflingidos a bordo, deprimentes do caráter humano e atentatórios dos princípios de humanidade, liberdade e justiça, garantidos pelas nossas leis disciplinares. São sempre assim os abusos do poder e autoridade, acabam por desorientar a razão e transformar o homem em fera. Foi-lhes concedida a anistia pelo Congresso como a condição sine qua non da rendição. De outra forma não poderiam de fato os revoltados se entregarem a menos que saíssem de bordo, presos em flagrante, para as prisões militares. Só anistiados poderiam os oficiais com eles se entender sem quebra do respeito à lei. A quantas humilhações mais desta natureza não nos levará o espírito de indisciplina reinante hoje em todas as classes?" - O Democrata, 4 de dezembro de 1910.

"Logo pela manhã do dia 23 foi o deputado Sr. José Carlos de Carvalho procurado por diversos políticos em evidência que, a pedido do Sr. Pinheiro Machado, lhe iam rogar fosse a bordo entender-se com os marinheiros.

Recebendo a comunicação de que fôra escolhido para desempenhar a delicada missão o Sr. Capitão de Mar e Guerra José Carlos de Carvalho vestiu o seu uniforme e dirigiu-se para o Arsenal da Marinha. Uma vez nessa praça de guerra, o Deputado riograndense dirigiu-se à Casa da Ordem visitando a cada um dos oficiais vítimas da revolta, que se achavam ali depositados. Em seguida S. Ex. procurou o Ministro da Marinha e, como este não se achasse, resolveu partir para o que tomou lugar em uma lancha em que foi arvorada a bandeira branca. (...)

A lancha, largando, tomou a direção do Minas Gerais. Avistando a lancha, os revoltosos relutaram se deviam ou não consentir que ela se aproximasse, respondendo finalmente pela afirmativa à pergunta que de bordo fazia o comandante José Carlos sobre se podia atracar. Recebido a bordo com todas as honras inerentes ao seu posto pelos marinheiros revoltosos, o Deputado José Carlos falou com o que assumira o comando da esquadra e que, segundo a versão corrente, é o marinheiro de 1a classe João Cândido. Disse-lhe o "comandante" da esquadra que os marinheiros se haviam desgostado com os maus tratos, com os castigos corporais, que lhe eram barbaramente infligidos, com a má alimentação e com o trabalho excessivo a que eram obrigados. À presença do do Deputado José Carlos foi mandada vir uma praça da guarnição do Minas, que havia sido chibateada dias antes, e que apresentava as costas cortadas de chibata. Essa praça tendo vindo para terra na lancha do parlamentar, foi recolhido ao Hospital da Marinha. (...)

Do Minas Gerais o Capitão de Mar e Guerra José Carlos de Carvalho passou-se para o São Paulo, onde foi recebido com as mesmas honras, ao som da banda de música de bordo. (...)" - O Universo, 23 de novembro de 1910.

"A Rua do Ouvidor compartilha sinceramente a justa e enorme dor que neste momento domina a briosa marinha nacional pela perda dos valentes oficiais que foram vítimas da revolta dos marinheiros das guarnições dos couraçados Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Deodoro, e que tanto emocionou a população desta capital.

Foi um deplorável acontecimento essa revolta que, enchendo do mais justificado pânico a quase todos os habitantes desta vasta e populosa cidade, pode em futuro não remoto, ter ainda mais lastimáveis conseqüências. (...)

Oxalá que os tristíssimos fatos de que foi teatro a baía de Guanabara nos tragam proveitosos ensinamentos.

Infelizmente, foi para nós crudelíssima a lição, não só pela própria revolta de parte da marujada nacional, o que já é bastante deprimente para os nossos créditos de povo adiantado e culto, como porque, arrebatando a vida a distintíssimos oficiais da nossa marinha de guerra, enlutou para sempre alguns lares até então plenos de alegria e ventura. (...)

É, pois, com o coração sangrando, com a alma profundamente abatida que escrevemos estas linhas lamentando a perda dos briosos oficiais de marinha vitimados pela revolta dos marinheiros." Rua do Ouvidor, 3 de dezembro de 1910.

"A cidade amanheceu com uma notícia tremenda: a revolta dos marinheiros. As guarnições de alguns navios de guerra, alegando maus tratos, castigos corporais, excesso de serviço, etc., revoltaram-se a bordo. A insubordinação começou pela guarnição do Minas Gerais, que logo teve adesão das do São Paulo e Bahia, seguindo-se durante a noite a adesão de outros vasos de guerra.

A causa da revolta foi sabida por um radiograma, passado pelos marinheiros revoltados ao Sr. Presidente da República e concebido nos seguintes termos:

- Não queremos volta chibata. Isso pedimos presidente, ministro marinha. Queremos resposta já e já. Caso não tenhamos, bombardearemos a cidade e navios que não se revoltarem. - Guarnição Minas, São Paulo, Bahia. - (...)

O governo fizera sentir aos revoltosos, - não sabemos se por meio de radiograma ou outro qualquer meio - que de modo nenhum atenderia as reclamações dos marinheiros, enquanto estes não deixassem a atitude revoltosa. No caso dos mesmos deporem as armas, seriam convenientemente estudadas essas reclamações para que o governo pudesse agir com justiça." A Notícia, 23 de novembro de 1910.

"A precipitação com que se pode apreciar, tarde da noite, o espetáculo sinistro de uma ameaça mortífera voltada contra a cidade entregue ao sono descuidado, a deficiência de detalhes resultantes da falta de comunicação com os navios revoltados não permitem um juízo completo sobre as origens desses sucessos lamentáveis. (...)

A primeira vítima da sedição naval foi o tenente Alvaro Alberto da Silva. Esse oficial acompanhava o comandante Batista das Neves quando esse foi desacatado ao chegar a bordo do Minas. O tenente Alvaro Alberto foi esfaqueado pela marinhagem de depois de tombar esvaído em sangue foi posto a bordo de um escaler e mandado levar para o dreadnought São Paulo. Ali o tenente Alvaro Alberto recebeu um grande curativo feito pelo Dr. Catanheda, sendo remetido para o Arsenal da Marinha. Seu estado é gravíssimo." Folha do Dia, 23 de novembro de 1910.

"Não houve exagero nos meios de que lançaram mão os marinheiros nacionais, para extinguir o execrando e inveterado uso de casigos ilegais. Foi transportado ontem para o Arsenal da Marinha, horrivelmente martirizado por 250 chibatadas, o marinheiro que deu causa à revolta. - Gama Rosa -" Folha do Dia, 24 de novembro de 1910.

"Pelas folhas da manhã ficou toda a população sabedora dos primeiros fatos ocorridos a bordo dos grandes couraçados Minas Gerais e São Paulo e de mais navios da armada nacional.

A causa predominante, única, assinalada pelo desenrolar dos graves acontecimentos, conhecidos nas suas primissas, emana do rigor excessivo que imperava a bordo do primeiro couraçado, onde a marujada era obrigada a trabalhos excessivos, tendo de dobrar e triplicar todo o serviço, devido à falta deplorável de tripulação.

Os castigos eram por demais pesados, sendo a chibata a arma predileta de que usavam e abusavam alguns oficiais.

Não se fizeram esperar os resultados: homens, os marinheiros revoltaram-se, facilmente conseguindo a solidariedade de todos os camaradas." A República, 23 de novembro de 1910.

"(...) Hoje pela manhã novos radiogramas: Ao governo:

- Queremos solução imediata sobre a abolição dos castigos corporais e aumento de soldo. Do contrário arrazaremos a cidade.

- Queremos a nomeação de um parlamentar que venha a bordo para se estabelecerem as condições de rendição.

O governo intimou a rendição imediata e incondicional. Em caso de resistência, fará torpedear os couraçados. (...)

Também sobre o palácio do governo foi feito um disparo, sem mais consequências, além de algumas palmeiras do parque destruídas. (...)

Além do S. Paulo aderiram também à revolta o "scout" Bahia, os cruzadores Timbira e Tamoio, tendo as oficialidades desses navios se retirado para terra, apresentando-se às autoridades navais. (...)

Por uma notícia chegada ao gabinete do Dr. Belisário Távora, sabe-se que toda a oficialidade do Minas Gerais que se achava a bordo quando se deu o levante está morta. Essa notícia terrível causou, como era natural, a mais dolorosa impressão entre as pessoas que se achavam na repartição central de polícia." A Tribuna, 23 de novembro de 1910.

"O governo, convencido embora de que, no fundo das reclamações repousavam motivos justos e disposto a atender a essas reclamações, precisa salvar, entretanto, a sua honra e a honra da nação constituida. Pode prometer aos revoltados que lhes fará o que eles pedem, mas não pode prometer que o fará porque eles o exigem sob pena de bombardeamento da cidade." A Tribuna, 24 de novembro de 1910.

"Decreto Legislativo N. 2280 de 25 de novembro de 1910 -

O presidente da República dos Estados Unidos do Brasil faz saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte resolução:

Art 1o É concedida anistia aos insurretos de posse do navio dos navios da Armada Nacional se os mesmos dentro do prazo que lhes for marcado pelo governo, se submeterem às autoridades constituidas;

Art 2o Revogam-se as disposições em contrário.

- Presidente Hermes da Fonseca" - A Tribuna, 26 de novembro de 1910.

"Agora, porém, julgamos poder assegurar que o movimento, iniciado a bordo do Minas Gerais, com o cruel assassinato do bravo comandante Batista das Neves, vítima do dever militar, é caracteristicamente e exclusivamente uma sublevação da marinhagem, acusando os oficiais de maus tratos, de excesso de trabalho, de insuficiência de alimentação, tornando-lhes, dess'arte, insuportavel a vida e levando-os a essa explosão de desespero. A autoridade pública não foi, de nenhum modo, contestada pelos sublevados: antes a ela se dirigiram, explicando-lhe que eram esses os moveis da sua conduta." A Imprensa, 24 de novembro de 1910.

AS MANCHETES

Revolta No Mar - Os Boatos da Tarde - Causas Prováveis - A Indisciplina na Marinha - Oficiais esfaqueados - Oficiais ao Mar - (Folha do Dia)

Marinheiros Revoltados Assassinam O Comandante do Minas Gerais e o Capitão- Tenente João Claudio Junior (A Notícia)

Marujada em Revolta em Plena Baía nos Grandes Couraçados - A População Não Se Alarma - Os Fatos Principais (A República)

Sublevação da Esquadra (A Tribuna)


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