REVOLTA DA ARMADA
"Desde a madrugada de ontem começaram a circular notícias de graves acontecimentos.
Soube-se que estava interrompido o trânsito da estrada de ferro central e que a marinha se
puzera em atitude hostil ao governo do Sr. Marechal Floriano Peixoto. Depois foram, pouco a
pouco, aparecendo os verdadeiros pormenores. (...)
No Mar
Segundo estamos informados daí começaram pouco antes da meia noite pelo assalto ao
encouraçado Aquidaban, que apenas tinha a bordo o oficial de quarto, 1o tenente Mello
Moraes. Isso feito, foi atacada e tomada a Armação, e, em seguida, os outros navios da
esquadra e os vapores das companhias Lloyd Brasileiro, Lage e Frigorífica, que foram
armados em pé de guerra e incorporados à esquadra revolucionária,
Todos esses navios receberam grande quantidade de municão na Armação, colocando-se
depois em linha prolongada à terra. As torpedeiras foram também incorporadas à esquadra e
durante todo o dia percorreram a baía. Os navios revolucionários são: os encouraçados
Aquidaban, Javary, Sete de Setembro, cruzadores República, Trajano, Orion, corveta
Amazonas, canhoneira Marajó, torpedeiras de alto mar e de lança. (...)" - Jornal do Brasil, 7
de setembro de 1893.
"Às 9 horas da manhã uma lancha do cruzador República apreendeu uma das lanchas do
cruzador Almirante Tamandaré. Pouco depois, atravessando a baía e rebocador Emperor,
uma das lanchas que policiam o porto, deu dois apitos e, tendo aquele rebocador parado,
aprisionou-o, deixando fundeado um saveiro que aquele conduzia. Foi também aprisionado o
paquete Matilde, e mais tarde levados para a Armação os cruzadores Guanabara, Almirante
Tamandaré e a galeota Quinze de Novembro. O Júpiter foi incorporado à esquadra. (...)" -
Jornal do Brasil, 8 de setembro de 1893.
"(...) Ao amanhecer o Aquidaban embandeirou em arco e toda a esquadra revoltada içou a
bandeira nacional no topo do mastro grande em comemoração à data de 7 de setembro.
Depois das 7 da manhã, do cais do Arsenal da Marinha começou-se a observar os
movimentos da torpedeira Marcílio Dias, que por diversas vezes chegava à fala aos navios
estrangeiros, naturalmente para parlamentar, e do cruzador República, auxiliado por diversas
lanchas, para o ancoradouro dos paquetes de Lloyd, onde, depois de apreender diversas
embarcações pequenas, começou a apoderar-se dos vapores ali fundeados, os quais eram
conduzidos para junto da esquadra revoltada, por diversos rebocadores. O Júpiter foi tirado
do lugar em que estava e encorporado à esquadra, encarregando-se desse trabalho o 1o
tenente Camisão de Mello. (...) Jornal do Commércio, 8 de setembro de 1893.
"Eis o que ontem se passou. Às 6 horas da manhã o Júpiter levantou ferro e foi fundear no
canal do Engenho. Na passagem foi hostilizado pela bateria da Ilha do Governador. O
Aquidaban recebeu carvão, que lhe levaram um saveiro e uma lancha da Ilha das Enxadas.
Da Ilha do Governador foram disparados alguns tiros contra o Tamandaré.
À tarde o forte de Gragoatá bombardeou a fortaleza Villegaignon. Informam-nos que em
Campos estãp prontos para o serviço dois batalhões da guarda nacional, o 11o e o 39o, com
os oficiais já fardados e as companhias completas. Muitos oficiais de outros corpos também
se fardaram e esperam ordem." Gazeta de Notícias, 9 de fevereiro de 1894.
"O Dia de ontem raiou ao som estridente do forte canhoneio que houve de madrugada entre
as fortalezas da barra, Gragoatá, baterias do morro de S. João em Niterói e da Armação de
um lado, e alguns navios da esquadra revoltosa e Villegaignon de outro.
Foi uma luta renhida que se prolongou até cerca das 9 horas da manhã. Cerca das 2 horas
da manhã quatro lanchas dos revoltosos largaram do Aquidaban e dirigiram-se para os lados
da Armação, disparando para ali os seus canhões de tiro rápido e metralhadoras, e neste
posto tiveram luta com as forças que guarnecem aquele estabelecimento e as da Ponta da
Areia.
Naquela ocasião deixaram os seus ancoradouros e aproximaram-se também da Armação o
Aquidaban, o Liberdade e o frigorífico Júpiter, que tomaram parte no combate. As forças da
Armação e Ponta da Areia atacaram com vivo fogo os navios e lanchas, atirando às 6 horas
da manhã as fortalezas de Santa Cruz e da Lage para Villegaignon, e S. João para a Ilha das
Cobras.
Villegaignon respondeu atirando para Gragoatá. Este forte trocou disparos com o
encouraçado Aquidaban. Depois das 10 horas retiraram-se os navios e lanchas.
O sr. general Argolo, chefe das forças que guarnecem Niterói, dirigiu ao sr. Ministro da
Guerra o seguinte telegrama: "As forças legais destroçaram os revolucionários, que tentaram
desembarque na Armação. Morreram três oficiais e muintos marinheiros. Os revolucionários
refugiaram-se no fundo da baía." Consta que por notícias oficiais sabe-se que foram
aprisionados 55 marinheiros e três oficiais, um dos quais de nacionalidade estrangeira.
Às 5 horas a Ilha das Cobras atirou para terra. Nesta ilha houve ontem un incêndio em um
galpão. Pouco depois foi extinto. Da Ilha do Governador fizeram de manhã alguns disparos
contra o Tamandaré , que pouco depois respondeu." Gazeta de Notícias, 10 de fevereiro
de 1894.
"Muito semelhante ao anterior foi o dia de ontem. A população ainda se manteve tranqüila,
esperando os acontecimentos, com a máxima confianá no governo e na vitória da República.
Nas ruas notou-se a animação dos dias normais. O comércio conservou francamente abertas
as suas portas, manifestando um total sossêgo e despreocupação da revolta como se
estivessem em época de paz mais absoluta." Diário de Notícias, 9 de fevereiro de 1894.
Grande Vitórias das Forças Legais:
"Na madrugada de ontem a população da nossa capital foi despertada por um vivíssimo
tiroteio, entrecortado de sucessivos tiros de canhão, anunciando um grande combate para os
lados de Niterói.
Efetivamente os revoltosos levados ao desespero em nossa baía pelo heroísmo das forças
legais e pela falta de viveres e disciplina a bordo, imaginaram dar um combate decisivo,
pondo em movimento todas as suas forças e atacando simultâneamente Maruí, Ponta da
Areia e sobretudo a apetecida Armação. O combate nesses três pontos tornou-se
renhidíssimo, trocando a todo momento a artilharia de parte a parte e ouvindo-se
continuadas descargas de fuzilaria.(...)
Mal clareava o dia e em todos os pontos da cidade, de onde se podia divisar a luta travada,
a população aglomerava-se, anciosa de saber o que se passava, e confiada na bravura dos
que defendiam a heroica Niterói. O combate ia muito renhido quando de repente as baterias
da Ponta da Areia e da Armação cessaram o fogo, apriximando-se as lanchas e havendo
todos os indícios de um desembarque. (...)
Muito provavelmente por tática, as guarnições desses pontos tinham-se concentrado e a
marinhagem desenfreada julgava-se já senhora das posições, quando a ofensiva foi tomada,
com valor, as forças desembarcadas foram cercadas pela infanteria e expulsas do território
fluminense, deixando muitos mortos e feridos e fugindo vários marinheiros a nado.
Desalojados das posições, as bandeiras brancas foram arrancadas em meio aos vivas à
República, e a esquadra revoltada, com menos duas lanchas, que foram a pique, fez-se ao
largo, custando-lhe mais uma tremenda derrota, que certamente levará o ex-neutro da Ilha
das Cobras a não tentar outro desembarque." Diário de Notícias, 10 de fevereiro de 1894.
"Pouco antes das 4 horas da manhã de ontem fomos surpreendidos por vivas descargas de
grosso canhão, que repercutiam com grande estrondo no silêncio profundo em que se
achava mergulhada a cidade.
Acudindo ao nosso posto de observação, vimos o Aquidaban e um dos frigoríficos em serviço
da revolta restauradora, que haviam levantado ferro e aproavam bara a barra, achando-se já
próximos de Villegaignon. Os holfotes de S. João e da Glória tinham, porém, projetado pouco
antes os seus focos de luz sobre os dois vultos que se esgueiravam rapidamente pela treva
densa, e das baterias legais e das fortalezas da barra, sempre vigilantes, rompeu desde logo
vivíssimo fogo sobre os dois navios. Assim descobertos e debaixo de um chuveiro de balas,
ambos voltaram rapidamente para os ancoradouros que pouco antes haviam deixado,
naturalmente no intuito de forçar a saída da barra. E cessou assim o canhoneio." O Tempo,
9 de fevereiro de 1894.
"Depois de longos dias de quse completa apatia em que estiveram mergulhados os
revoltosos restauradores resolveram ontem operau uma ação séria e decisiva, que os
arrancasse do estado de aniquilamento em que se acham. Custou-lhes, porém, caro a
audácia. Mais uma derrota formidável lhes foi infligida e mais uma vitória cheia de heroísmo
coube à mocidade entusiástica, às hostes nibilíssimas dos bravos que defendem a república.
(...)
Os revoltosos atacaram hoje pela madrugada, simultaneamente, diversos pontos do litoral de
Niterói, desembarcando em alguns deles, de onde foram no fim de pouco tempo desalojados,
deixando muitos mortos e prisioneiros, entre estes alguns oficiais." O Tempo, 10 de
fevereiro de 1894.
"A iminência do ataque decisivo à candilhagem do mar, que desde 6 de setembro
ensangüenta duas cidades, reduz a ruínas a capital do Estado do Rio e infelicita e enxovalha
a pátria, arrastando-a à mais injustificável das guerras civis, não podia deixar de ser ontem a
principal preocupação de todos os espíritos. Diante do aviso prévio, que foi dada a mais laga
publicidade, as famílias moradoras no centro da cidade e nos pontos mais provavelmente
expostos começaram muito cedo a retirada, enchendo literalmente os wagons da Estrada de
Ferro Central do Brasil e os bondes das fiferentes companhias, em demanda dos subúrbios e
dos arrabaldes mais arredados do litoral, onde se acham a abrigo das balas inimigas, que
até há poucos dias tanto sangue generoso e inocente haviam feito derramar." O Tempo, 13
de março de 1894.
A Revolta - Vitória da República:
"Chegamos tarde para dar a notícia que repercutiu já como um hino festivo em toda a
República, desoprimida do ultraje dos bandidos, das desgraças que eles lhe cavaram desde
6 de setembro do ano passado. Está salva a República! (...)" O Tempo, 15 de março de
1894.
"Está salva a República! A República que durante seis meses resistiu ao Aquidaban, Javarí,
Almirante Tamandaré, Trajano, Guanabara e esquadrilhas de torpedeiras, piquetes e
rebocadores, viu a imediata submissão dos revoltosos restauradores, no dia em que se
anunciou a sua anciosamente esperada batalha."
- BOLETIM D'O PAIZ - ÀS TRÊS HORAS DA TARDE -
"Os revoltosos acabam de se render à discrição. Os oficiais refugiaram-se à bordo dos
navios de guerra ingleses, franceses e portugueses, abandonando os enfermos na Ilha das
Enxadas.
Os tiros que estão se ouvindo são para descarga dos canhões. As fortalezas e poucos
fortificados apenas dispararam alguns tiros, que não foram correspondidos.
Honra à República Brasileira. Honra às forças de terra, à grande parte leal da oficialidade da
esquadra!" O Paiz, 14 de março de 1894.
"A cidade do Rio de Janeiro respirou ontem, enfim, desopressa do pesadelo da revolta. As
fisionomias tinham um ar radiante de contentamente e por toda a parte grandes grupos de
populares, entusiasmados, festejavam delirantemente, a vitória da República." O Paiz, 15 de
março de 1894.
"O comandante superior da guarda nacional Dr. Fernando Mendes, acompanhado do seu
estado-maior, comandantes das brigadas, corpos e oficialidades, foi ontem à tarde
cumprimentar os srs. marechal vice presidente da República e ministro da Guerra. Quatro
bandas de música acompanhavam o prestito que depois dos cumprimentos percorreu
diversas ruas da cidade.
No palácio do governo, estando ausente o sr. marechal Floriano, foram os manifestantes
recebidos pelo sr. capitão Antônio José de Siqueira, secretário de s.ex. (...)" Correio da
Tarde, 15 de março de 1894.
"O cruzador Trajano, que foi rebocado para a Gamboa, está completamente perdido e quase
imerso. Ao general Pimentel, comandante da 1a brigada de vigilância no litoral
apresentaram-se 31 soldados das forças legais, prisioneiros dos revoltosos nas ilhas do
Engenho, Mocanguê e Ponta da Armação. (...)
O sr. coronel chefe da polícia desta capital dirigiu aos governantes dos estados o seguinte
telegrama: - Neste momento foi dominada a revolta no porto do Rio de Janeiro. Antes de
terminar o prazo de 48 horas, marcado pelo governo para começar as hostilidades, os
revoltosos entregaram-se à discrição, tendo antes abandonado fortalezas e navios e
refugiando-se na ilha das Enxadas. Saldanha e mais oficiais estão asilados em navios de
guerra estrangeiros. O governo trata de mandar forçar para o Paraná e Santa Catarina onde
se acha o almirante Custódio de mello. Mil parabéns. Viva a República!"
"Hoje às 3 1/2 horas da tarde haverá bondes especiais à disposição daqueles que quiserem
cumprimentar os alunos da Escola Militar. (...)
As repartições públicas, praças ajardinadas e diversas casas particulares iluminaram ontem
à noite as suas fachadas. (...)
Foram removidos para a Ilha das Enxadas os marinheiros presos que se achavam recolhidos
ao 1o e 24o batalhões de infantaria." Correio da Tarde, 16 de março de 1894.