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Domingo, 17 de Outubro de 1999


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MULTINACIONAIS
Setor de tecnologia europeu: vibrante mas prejudicado por hábitos e regras

Andrew J. Glass

MUNIQUE, Alemanha - Nos 55 anos desde que bombardeiros aliados e artilharia soviética demoliram suas imensas instalações em Berlim, a Siemens AG emergiu como uma potência na eletrônica mundial, atrás apenas da General Electric e da IBM em receitas totais.

Liderado pela Siemens e pela Nokia da Finlândia, o setor de alta tecnologia da economia européia está demonstrando que já está pronto para competir -e em alguns casos ultrapassar- seus rivais nos Estados Unidos. Mas os analistas dizem que o progresso é restringido por regulamentação excessiva, alto desemprego crônico e pela relutância em abandonar práticas empresariais antiquadas.

Os executivos da Siemens cortejam assiduamente os clientes internacionais, a tal ponto que 70% do faturamento da companhia vem de fora da Alemanha. As ações do grupo duplicaram de valor no ano passado.

"Depois de 152 anos em operação, estamos em meio a mudança drástica de nossa cultura corporativa", disse Karl-Hermann Baumann, presidente do conselho supervisório da Siemens.

"Estamos nos tornando muito menos burocráticos e muito mais empresariais. E concentrando nossos negócios principais cada vez mais na tecnologia de comunicações e informação".

Muitas vezes conectados por meio de terminais telefônicos Siemens, os 320 milhões de habitantes da Europa estão rapidamente se equipando para o próximo milênio. Há quase uma dúzia de empresas instalando redes de fibra óptica do Atlântico aos Montes Urais, a fim de oferecer uma espinha dorsal de comunicação mais ampla à Internet.

Essas novas redes já exercem impacto sobre o mercado europeu. O custo de um contrato de locação de 10 anos para um circuito gigante de transmissão de dados de 155 bits entre Londres e Paris caiu de US$ 12 milhões dois anos atrás para US$ 2 milhões hoje.

A nova onda de competição por sua vez causou uma queda nas tarifas da telefonia internacional. Na Alemanha, os interurbanos caíram para menos de US$ 0,10 o minuto, preço comparável ao vigente nos Estados Unidos. Os consumidores conectados cada vez mais empregam as listas de preços divulgadas via Internet para encontrar os provedores mais baratos. E aparelhos de TV nos quartos de hotel da Alemanha hoje em dia oferecem acesso à Internet pago por tempo de utilização.

"Os norte-americanos estão 10 anos atrás de nós em termos de tecnologia de telefonia móvel", declara Erkki Liikanen, comissário de defesa da competição, inovação e da sociedade da informação na União européia, que tem15 países membros.

No entanto, o finlandês Liikanen reconheceu em entrevista na sede da União européia em Bruxelas que "estamos atrasados em software e na Internet devido ao nosso ambiente empresarial muito mais restrito e à limitação de nossa capacidade de criar empresas".

Tipicamente, diz ele, na Europa demora 11 semanas para que uma empresa iniciante (o setor que em geral responde pelo crescimento em alta tecnologia) abra suas portas, ante 10 dias nos Estados Unidos.

O quadro contraditório revelado pela análise de Liikanen é confirmado por uma recente pesquisa de mercado com mais de duas mil empresas européias importantes e 500 unidades locais de governo, encomendado pela Cisco Systems, a fabricante de equipamento para redes de computador, e pela Oracle Corp. Ambas as companhias norte-americanas estão ansiosas por se expandir na Europa.

Entre as conclusões: - Em contraste com a cena norte-americana, cerca de dois quintos das principais empresas européias não acreditam que será necessário a elas fazer negócios via Internet em prazo de dois anos ou menos.

- cerca de 55% dos principais funcionários dessas companhias não dispõem de acesso a e-mail, e 60% deles não têm acesso à Internet.

- Mais de 30% dos executivos de primeiro escalão jamais receberam um briefing sobre tecnologia em suas empresas, e cerca de 30% dizem que jamais pretendem ter uma experiência do tipo.

Grã-Bretanha e os países escandinavos estão entre os mais avançados na adaptação à Internet, com a Alemanha se saindo relativamente bem, enquanto França, Bélgica e Itália ficaram para trás. As empresas italianas, porém, demonstraram o crescimento mais rápido entre os 10 países pesquisados.

A despeito das vantagens de um mercado unificado -e, para 11 países europeus, da moeda única-, o comércio eletrônico internacional entre os países europeus fica ainda bem atrás do ritmo norte-americano. Um dos motivos para isso que é as que as empresas européias de telecomunicação cobram de seus clientes por minuto de ligação telefônica, o que reduz o incentivo a navegação de lazer na Internet.

"Estamos perdendo uma maravilhosa oportunidade de tornar o mercado unificado uma realidade", diz Diana Wallis, membro do Parlamento Europeu pelo Reino Unido. "As coisas não estão avançando rápido o bastante".

A despeito da proeminência norte-americana em boa parte do mundo da alta tecnologia, a Europa parece preparada para reter sua vantagem em sistemas de telefonia celular por muitos anos.

Um motivo crucial: no começo dos anos 80, a União Européia definiu um padrão comum para todos os seus membros, conhecido como Global System for Mobile Communications (Sistema Global de Comunicações Móveis) ou GSM. Hoje, o GSM é empregado em 118 países, atendendo a mais de 150 milhões de usuários, cerca de 40% do total de usuários de celulares no mundo. Ausentes notáveis no consórcio: Estados Unidos, que continua a empregar quatro padrões diferentes de telefonia celular, entre os quais o GSM, e o Japão.

No ano passado, a Nokia, da Finlândia, ultrapassou a Motorola para surgir como a maior fabricante de telefones celulares do mundo, produzindo 41 milhões dos 163 milhões de aparelhos vendidos no planeta.

Em março, a Finlândia se tornou o primeiro país a licenciar operadores de terceira leva, que oferecem aos assinantes de linhas celulares uma conexão expressa à Internet, bem como linhas digitais de voz com alta segurança. Alemanha, Áustria, Holanda e Reino Unido estão se preparando para conceder licenças semelhantes. Mesmo com seus seus sistemas mais lentos de acesso á Internet, de segunda geração, os europeus hoje transmitem por mês cerca de um bilhão de mensagens curtas contendo dados.

Além do mais, na Europa, diferentemente da América do Norte, todos os telefones celulares têm códigos de área diferentes das linhas terrestres, o que torna mais fácil para as pessoas saber de onde suas chamadas estão sendo roteadas.

"Tudo começa a funcionar", diz Baumann, chairman da Siemens, enquanto guarda seu minúsculo celular e convida os convidados para que o acompanhem no almoço. "E um dos motivos para que funcione é que estamos ao nosso pessoal potencial de emprego para toda a vida, e não um emprego para toda a vida".

Tradução: Paulo Migliacci



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