São Paulo, Domingo, 11 de Abril de 1999
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Conheça os outros 90 livros mais votados

11º - O Visível e o Invisível (1964) - Maurice Merleau-Ponty (1908-1961). Perspectiva (R$ 17,00).
Nessa obra inacabada e publicada postumamente, o filósofo francês estende suas investigações da "Fenomenologia da Percepção" em direção ontológica, investigando os modos pré-reflexivos de "adesão ao mundo".

12º - Introdução Geral à Psicanálise (1938) - Sigmund Freud (1856-1939).
Fazendo eco às "Conferências Introdutórias" de 1916-1917, esse texto inacabado é uma tentativa de balanço das teorias psicanalíticas sobre os instintos, a sexualidade, a natureza do inconsciente, a interpretação dos sonhos e a técnica psicanalítica.

13º - O Processo Civilizador (1939) - Norbert Elias (1897-1990). Jorge Zahar Editor (R$ 54,00, 2 vols.).
O autor traça uma evolução das regras de conduta (as boas maneiras) com o objetivo de analisar o processo pelo qual os indivíduos apreendem e internalizam essas regras. A esse processo de aprendizado do autocontrole está ligado o processo de formação dos Estados nacionais a partir do feudalismo.

14º - O Declínio da Idade Média (1919) - Johann Huizinga (1872-1945). Ed. Ulisseia (Portugal).
O historiador holandês, uma espécie de homem renascentista em pleno século 20, dedicou sua maior obra às formas de vida e de arte na Flandres e na Burgúndia dos séculos 14 e 15. Ao tratar modos de devoção religiosa, monumentos artísticos e hábitos cotidianos com a mesma atenção e respeito, tornou-se um dos inspiradores da história das mentalidades de Marc Bloch e Lucien Febvre.

15º - História e Consciência de Classe (1923) - Georg Lukács (1885-1971). Ed. Elfos (Portugal).
Principal obra do filósofo húngaro, deu novo impulso à filosofia marxista ao romper com o materialismo mecanicista e reavaliar a contribuição de Hegel à dialética. Nela estão elaboradas sua teoria da consciência de classe enquanto oposta à reificação -a "coisificação" do sujeito.

16º - Crítica da Razão Dialética (1960) - Jean-Paul Sartre (1905-1980). Em francês: "Critique de la Raison Dialectique" (Ed. Gallimard).
Nessa tentativa de formulação de uma teoria materialista do sujeito, Sartre procurou conciliar conceitos oriundos do existencialismo, da psicanálise e do marxismo.

17º - O Narrador (1936) - Walter Benjamin (1892-1940). Ensaio que consta do vol. 1 das "Obras Escolhidas", Ed. Brasiliense (R$ 19,80).
Um dos maiores ensaios da crítica materialista. Benjamin liga a figura tradicional do narrador como contador de histórias e transmissor de tradições a um modo de produção artesanal e relaciona a ascensão do romance ao surgimento da moderna sociedade urbana e burguesa.

18º - O Ser e o Nada (1943) - Jean-Paul Sartre (1905-1980). Vozes (R$ 48,00).
Na esteira de Heidegger, o filósofo e escritor francês, pai do existencialismo, desenvolve uma analítica da existência que visa afirmar a liberdade do "eu" como essência do humano.

19º - Massa e Poder (1960) - Elias Canetti (1905-1980). Companhia das Letras (R$ 29,50).
Romancista, dramaturgo e memorialista, Canetti produziu nesse livro híbrido uma análise ampla do lugar das massas na história humana e especialmente nos totalitarismos modernos.

20º - Os Argonautas do Pacífico Ocidental (1922) - Bronislaw Malinowski (1884-1942). Em inglês, "Argonautas of the Western Pacific" (Waveland Press).
Reconstrução da organização social dos nativos das ilhas Trobriand, na Oceania, a partir do regime de trocas intertribais, o "kula". O autor estabeleceu nesse livro o padrão da pesquisa antropológica moderna a partir da pesquisa de campo.

21º - A Condição Humana (1953) - Hannah Arendt (1906-1975). Forense Universitária (R$ 33,00).
Um reexame da condição humana em suas três dimensões essenciais -o labor, o trabalho e a ação- a partir das experiências e temores do mundo moderno, dominado pelo conhecimento científico e técnico, que aparta o homem do mundo natural e vincula-o ao mundo dos artefatos humanos.

22º - Minima Moralia (1951) - Theodor Adorno. Ática (R$ 24,50).
Obra-prima de Adorno, em que forma ensaística e conteúdo crítico tornam-se inextricáveis. Ao longo de 153 fragmentos, o autor pratica uma espécie de crônica filosófica da "vida degradada" na sociedade "administrada", no mundo contemporâneo dominado pela razão instrumental.

23º - A Grande Transformação (1944) - Karl Polanyi (1891-1976). Em inglês, "The Great Transformation" (Beacon Press).
Livro dedicado à análise da formação da economia capitalista de mercado. A autonomização de uma esfera econômica, o mercado, contrapõe-se à indistinção existente nas sociedades "primitivas" entre instituições econômicas e sociais.

24º - O Pensamento Selvagem (1962) - Claude Lévi-Strauss. Papirus (R$ 35,00).
Exame de diversos sistemas classificatórios, do totemismo australiano à botânica, com o objetivo de negar o caráter pré-lógico do pensamento selvagem. Tanto o pensamento selvagem quanto a ciência seriam lógicos, diferindo apenas os operadores utilizados: objetos sensíveis e concretos, no primeiro caso, e noções abstratas, no segundo.

25º - Eupalinos ou o Arquiteto (1921) - Paul Valéry (1871-1945). Ed. 34 (R$ 18,00).
Prefácio em forma dialogada: as sombras de Sócrates e Fedro discutem temas estéticos, e o filósofo grego lamenta ter abandonado suas inclinações artísticas em nome da abstração filosófica.

26º - A Vista de Lugar Nenhum (1986) - Thomas Nagel (1937). Em inglês, "The View from Nowhere" (Oxford University Press).
Em sua obra mais ambiciosa, o filósofo americano examina a oposição sujeito-objeto em vários âmbitos -da teoria do conhecimento à ética e à morte.

27º - O Pensamento e o Movente (1934) - Henri Bergson (1859-1941). Em francês, "La Pensée et le Mouvant" (PUF).
Reunião de conferências e ensaios desse que é um dos principais filósofos europeus do século. Entre eles, "Introdução à Metafísica", considerado uma importante síntese de seu pensamento.

28º - Eros e Civilização (1955) - Herbert Marcuse (1898-1979). Ed. LTC (R$ 21,10).
Em sua versão pessoal de um humanismo libidinal, o filósofo alemão, logo adotado pela contracultura dos anos 60, procura refutar as conclusões pessimistas de Freud em "O Mal-Estar na Civilização" sem abandonar as intuições psicanalíticas básicas.

29º - As Origens do Totalitarismo (1951) - Hannah Arendt (1906-1975). Companhia das Letras (R$ 35,50).
Escrito sob o impacto do nazismo e do stalinismo, este ensaio examina a gênese e a particularidade do fenômeno totalitário, nova forma de dominação baseada no terror e na massificação, cujas possibilidades de surgimento foram dadas pelo anti-semitismo e pelo imperialismo.

30º - As Formas Elementares da Vida Religiosa (1912) - Émile Durkheim (1858-1917). Martins Fontes (R$ 24,50), Paulus (R$ 23,70).
Teoria sociológica do fenômeno religioso elaborada a partir da análise de sua forma supostamente mais simples, o totemismo australiano. A essência de todas as religiões não está no conteúdo de suas crenças, mas na dualidade entre profano e sagrado -este último igualmente derivado da sociedade.

31º - A Crise das Ciências Européias e a Fenomenologia Transcendental (1954) - Edmund Husserl (1859-1938). Em inglês, "Crisis of European Sciences" (Northwestern University Press).
Obra publicada postumamente e que ficou inacabada, representa o testamento intelectual de um dos pais da chamada fenomenologia.

32º - Origem do Drama Barroco Alemão (1928) - Walter Benjamin (1892-1940). Em inglês, "The Origin of German Tragic Drama" (Verso Books).
Tese de doutorado do grande crítico e inspirador da Escola de Frankfurt, o livro recupera o drama barroco alemão a partir de preocupações estéticas eminentemente modernas, como a ruína e a alegoria.

33º - Mimesis (1946) - Erich Auerbach (1892-1957). Perspectiva (R$ 40,00).
Escrito no exílio em Istambul (Turquia), esse é provavelmente o maior livro de história literária do século. Auerbach examina a história da literatura ocidental, de Homero a Virginia Woolf, a partir dos conceitos de "mistura de estilos" e "representação séria da vida cotidiana".

34º - Iluminações (1955) - Walter Benjamin. Em inglês, "Iluminations" (Schoken Books).
Coleção de ensaios responsável pela difusão pós-guerra do crítico e filósofo alemão. Reúne os textos de crítica sobre Goethe, Leskov, Proust, Baudelaire e Kraus, o grande ensaio estético sobre "A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica" e seu texto filosófico mais importante: as teses "Sobre o Conceito de História", redigidas pouco antes de sua morte em 1940.

35º - A Invenção da Liberdade (1976) - Jean Starobinski (1920). Ed. da Unesp (R$ 75,00).
Ensaio de reavaliação das artes plásticas no século 18 que procura afastar o preconceito moderno diante do rococó e do classicismo.

36º - Vontade de Potência - Friedrich Nietzsche (1844-1900). Em inglês, "The Will to Power" (Random House).
Conjunto de aforismos e reflexões reunidos e adulterados por Elisabeth Nietzsche após a morte do irmão, visando torná-lo apologista da superioridade germânica sobre a civilização européia decadente; viria a ser aproveitado como peça de propaganda nazista.

37º - Teoria dos Jogos e Comportamento Econômico (1944) - John von Neumann e Oscar Morgenstern. Em inglês, "Theory of Games and Economic Behavior" (Princeton University Press).
Depois de fazer contribuições fundamentais à matemática, à física e à ciência da computação, o húngaro Neumann tenta uma síntese de matemática, teoria dos jogos, cibernética e economia.

38º - Ensaio sobre Algumas Formas Primitivas de Classificação (1901) - Émile Durkheim (1858-1917) e Marcel Mauss (1872-1950). Ensaio que consta do livro "Sociologia e Filosofia", Ed. Ícone (R$ 15,00).
Tio (Durkheim) e sobrinho (Mauss) reúnem forças nesse exame conjunto da organização social e do totemismo australianos, que revela que os sistemas de classificação e entendimento do mundo natural dependem das relações sociais subjacentes -o que vale também para as classificações científicas ocidentais.

39º - Relatividade - As Teorias Restrita e Geral - Albert Einstein (1879-1955). Em inglês, "Relativity: The Special and the General Theory" (Outlet ed.).
O físico expõe em termos científicos e filosóficos suas divergências com o universo mecânico da física newtoniana.

40º - O Homem e o Mundo Natural (1983) - Keith Thomas (1933). Companhia das Letras (R$ 29,00).
Obra historiográfica inovadora quanto ao tema -as mudanças no modo de conceber as relações entre mundo natural e sociedade humana- e quanto ao método -Thomas vai de obras filosóficas a tratados de jardinagem. Obra importante da história das mentalidades.

41º - Fenomenologia da Consciência Interna do Tempo (1928) - Edmund Husserl (1859-1938). Em inglês, "On the Phenomenology of Consciousness of Internal Time" (Kluwer Press).
Husserl examina de um ponto de vista fenomenológico a constituição da identidade subjetiva a partir do fluxo de percepções sensíveis e da experiência interna do tempo.

42º - Verdade e Método (1960) - H. G. Gadamer (1900). Vozes (R$ 59,00).
Discípulo de Heidegger, esse filósofo alemão parte da "analítica do ser" de seu mestre para promover o primado da hermenêutica, da compreensão intersubjetiva sobre o ideal de um método científico puro. Sua influência vai de Jürgen Habermas aos estudos literários.

43º - A Ordem a Partir do Caos (1977) - Ilya Prigogine e Isabelle Stengers. Em inglês, "Order out of Chaos" (Bantham Books).
Prigogine, Nobel de Química em 77, e Stengers examinam os conceitos de caos e tempo à luz de novas descobertas científicas, partindo daí para a rejeição do determinismo de raiz newtoniana.

44º - Mitológicas (1964-1973) - Claude Lévi-Strauss (1908). Em francês, "Mythologiques" (Plon).
Conjunto de quatro volumes dedicados à interpretação da mitologia dos indígenas das Américas do Sul e do Norte de um ponto de vista estruturalista: os mitos não devem ser examinados isoladamente, mas relacionados dentro de um grupo e interpretados a partir de outros mitos e do contexto de origem.

45º - Manuscritos Econômico-Filosóficos (1932) - Karl Marx (1818-1893). Edições 70 (Portugal).
Redigidos por volta de 1844, esses manuscritos inacabados só vieram à luz neste século, quando se tornaram uma das fontes de inspiração para uma leitura humanista do marxismo.

46º - A Genética e a Origem das Espécies (1937) - Theodosius Dobzhansky (1900-1975). Em inglês, "Genetics and the Origin of Species" (Columbia University Press).
Ao lado de Morgan e Fisher, o autor é um dos pais da síntese evolucionista moderna: a arquitetura básica da teoria darwinista é complementada pelas descobertas da genética, capaz de dar conteúdo empírico preciso à idéia de mutação.

47º - A Acumulação do Capital (1913) - Rosa Luxemburgo (1870-1919). Em inglês, "Accumulation of Capital" (Books on Demand).
A acumulação do capital requer o estímulo de uma demanda adicional, representada pelo "mercado externo" em áreas não-capitalistas, ou seja: forja a necessidade de um comércio mundial e estimula a expansão imperialista.

48º - Individualismo e Ordem Econômica (1948) - F.A. Hayek (1899-1992). Em inglês, "Individualism and Economic Order" (University of Chicago Press).
Reunião de ensaios de filosofia moral, teoria econômica e metodologia que convergem para uma só questão: a superioridade do mercado livre em relação ao planejamento a partir da utilização do conhecimento tácito dos indivíduos no aprimoramento da economia. Lança as bases do neoliberalismo.

49º - A Estrutura das Revoluções Científicas (1962) - Thomas Kuhn (1922-1996). Perspectiva (R$ 25,00).
O físico e historiador americano rejeita a noção de progresso linear da ciência e propõe um modelo de história das ciências baseado na sucessão de "paradigmas" não inteiramente comensuráveis.

50º - Estética da Recepção (1964) - Hans Robert Jauss (1921-1997). Em inglês, "Toward an Aesthetic of Reception" (University of Minesota Press).
Jauss e Wolfgang Iser são os dois grandes nomes dessa escola crítico-estética do pós-guerra alemão que desenvolveu uma noção dinâmica do leitor, ouvinte ou espectador como fator essencial à constituição da obra de arte.

51º - A Ciência e a Hipótese (1902) - Jules-Henri Poincaré (1854-1912). Em francês, "La Science et l'Hypothèse" (Flammarion).
O matemático e físico francês expõe sua visão convencionalista da ciência: teorias científicas são modos convencionais de organizar o mundo sensível e devem ser julgadas a partir de critérios de economia e simplicidade -e não de verdade última.

52º - Apresentação de "Parade" (1913) - Guillaume Apollinaire (1880-1918).
Apollinaire é o primeiro grande nome das vanguardas literárias da virada do século; próximo dos cubistas e inspirador do surrealismo, ele faz aqui uma defesa das novas formas de arte, não-representativas e não-lineares.

53º - O Ramo de Ouro (1906-1915) - James George Frazer (1854-1941). Ed. LTC (R$ 40,40).
Clássico da antropologia inglesa, cuja influência chegou à literatura; trata-se de um compêndio de crenças mágicas mundiais. Frazer introduziu as noções de tabu, contágio e magia simpática.

54º - O Segundo Sexo (1949) - Simone de Beauvoir (1908-86). Nova Fronteira (2 vols., R$ 59,00).
Manifesto pioneiro do feminismo, no qual a autora propõe novas bases para o relacionamento entre mulheres e homens, fundadas na "estrutura ontológica comum" a ambos.

55º - Liberalismo e Democracia - N. Bobbio (1909). Brasiliense (R$ 8,30).
Apanhado das relações históricas entre liberalismo e democracia. O autor ocupa-se sobretudo com as lutas pelo direito ao voto na passagem do Estado liberal censitário às democracias modernas.

56º - Descartes segundo a Ordem das Razões - Martial Guéroult. Em francês, "Descartes selon l'Ordre des Raisons" (Aubien).
Ensaio e manifesto da "explicação de texto" aplicada à filosofia: o professor francês suspende seus juízos próprios para dedicar-se a uma leitura interna e minuciosa das "Meditações Metafísicas" de Descartes.

57º - A Sociedade do Espetáculo (1967) - Guy Debord (1931-1994). Contraponto (R$ 27,00).
Crítica aos rumos da democracia capitalista, convertida em consumo contínuo de imagens, ditado pelo império da mídia, e cujo resultado é a perpetuação do presente e a aniquilação da personalidade individual. Livro característico do movimento de Maio de 1968.

58º - Principia Mathematica (1910-1913) - Bertrand Russell (1872-1970) e Alfred Whitehead (1861-1947). Em inglês, com o mesmo título (Cambridge University Press).
Obra maior do programa logicista, que tentava reduzir os teoremas básicos da matemática a teoremas da lógica; para tanto, os dois autores ingleses desenvolveram boa parte da notação e do instrumental algébrico da lógica moderna.

59º - Os Reis Taumaturgos (1924) - Marc Bloch (1886-1944). Companhia das Letras (R$ 32,00).
Obra fundamental da escola historiográfica francesa reunida em torno da revista "Annales". Bloch esclarece o poder curativo atribuído aos reis franceses e ingleses, recorrendo a diversas fontes e disciplinas, numa abordagem que inspiraria toda a história das mentalidades.
60º - Giordano Bruno e a Tradição Hermética (1964) - Frances Yates. Cultrix (R$ 34,00).
Ensaio clássico de história das idéias; a autora examina as origens intelectuais do herege italiano nas tradições filosóficas e ocultistas do Renascimento.

61º - Estudos de Estilo (1970) - Leo Spitzer. Em francês, "Études de Style" (Gallimard).
Grande nome da estilística, Spitzer quer desvendar a estrutura e o sentido da obra literária a partir do exame minucioso de seu tecido verbal em seus níveis mais básicos. Alguns destes ensaios trazem a marca das leituras freudianas do autor.

62º - Construir, Habitar, Pensar - Martin Heidegger. Em francês, no volume "Essais et Conférences" (Gallimard).
Reunião de ensaios tardios do filósofo, que dão testemunho da radicalização do programa filosófico de "Ser e Tempo" e de seu envolvimento crescente com a poesia lírica, em especial a de Hölderlin.

63º - A Obra de François Rabelais e a Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento (1965) - Mikhail Bakhtin (1895-1975). Ed. da UnB (R$ 35,00).
O crítico russo, autor de ensaios sobre Dostoiévski e a poética do romance, parte da obra de Rabelais para estudar a cultura popular medieval por meio de conceitos como paródia e carnavalização.

64º - Um Universo Pluralístico (1909) - William James (1842-1910). Em inglês, "A Pluralistic Universe" (University of Nebraska Press).
Série de conferências do psicólogo e filósofo pragmatista norte-americano: James sustenta que a variabilidade da experiência humana é irredutível e que, portanto, devemos aprender a viver num universo plural, onde fatos e valores são sempre sujeitos a revisão.

65º - Psicanálise dos Tempos Neuróticos - Sigmund Freud. Edimax.
Coletânea de textos em que Freud analisa o sentido da guerra, como em "Desilusão da Guerra" e "Introdução aos Estudos das Neuroses de Guerra".

66º - O Mediterrâneo (1949) - Fernand Braudel (1902-1985). Ed. Dom Quixote (Portugal).
Mural da Europa mediterrânea durante a segunda metade do século 16, estruturado em três níveis de ritmo histórico: o das relações entre o homem e o meio; o das estruturas sociais; e o nível dos acontecimentos singulares.

67º - Homo Hierarquicus (1967) - Louis Dumont. Edusp (R$ 25,00).
A partir do estudo do sistema de castas na Índia antiga, o autor constrói um modelo de hierarquia diverso da idéia de superposição valorativa de ordens: a relação hierárquica entre um conjunto e um de seus elementos é definida como "englobamento do contrário".

68º - Oportunidade, Amor e Lógica (1923) - Charles Sanders Peirce (1839-1914). Em inglês, "Chance, Love and Logic - Philosophical Essays" (University of Nebraska Press).
Antologia de ensaios do filósofo cuja reflexão é uma das mais completas nos Estados Unidos, abarcando diferentes questões que ocuparam o pensamento norte-americano neste século, como o pragmatismo, o empirismo lógico e a filosofia da linguagem.

69º - A Sociedade Aberta e Seus Inimigos (1945) - Karl Popper (1902-1994). Itatiaia (R$ 35,00).
Incursão do filósofo da ciência no terreno político, com uma defesa dos valores liberais, ameaçados pelos teóricos da "sociedade fechada", isto é, do autoritarismo e do totalitarismo, identificados em Platão, Hegel e Marx.

70º - Física Atômica e Conhecimento Humano (1961) - Niels Bohr (1885-1962). Contraponto (R$ 19,00).
Reflexões filosóficas de um dos pais da física quântica: seu caráter estatístico e os paradoxos envolvendo a observação dos fenômenos subatômicos permitem a Bohr desafiar as noções clássicas de determinismo e objetividade.

71º - Teoria do Romance (1916) - Georg Lukács. Em inglês, "Theory of the Novel" (MIT Press).
Nesse marco da crítica literária materialista, o autor húngaro contrapõe o romance à epopéia e vê nele a forma literária por excelência da civilização burguesa. Influenciado por Hegel, Lukács por sua vez influenciaria autores como Adorno, Benjamin e Goldmann.

72º - Os Sertões (1902) - Euclides da Cunha (1866-1909).
Leia resumo na pág. 5-9. O livro foi também escolhido como um dos 30 melhores de não-ficção brasileiros.

73º - Montaillou (1975) - Emmanuel Le Roy Ladurie. Companhia das Letras (R$ 38,50).
A partir da documentação de um processo de heresia em 1320, o historiador francês reconstrói integralmente a vida numa vila do sudoeste francês no começo do século 14. Um marco da história antropológica.

74º - Manifestos do Surrealismo - André Breton (1896-1966). Ed. Salamandra (Portugal).
Nessa série de panfletos programáticos, Breton apresenta as palavras de ordem centrais do movimento, como a noção de escrita automática, a recusa da lírica confessional, o flerte com o "nonsense"; ao mesmo tempo, começa sua reflexão sobre o papel do poeta na política.

75º - Estética (1902) - Benedetto Croce (1866-1952). Em francês, "Essais d'Esthétique" (Gallimard).
O filósofo e homem público italiano inspira-se em Hegel para propor uma doutrina estética em que os conceitos de intuição e expressão têm lugar de honra enquanto "formas não-conceituais" de conhecimento.

76º - Arqueologia do Saber (1969) - Michel Foucault (1926-1984). Forense Universitária (R$ 27,00).
Nesse ensaio de história das ciências e epistemologia, com forte marca nietzschiana, o pensador francês introduz a noção de "formação discursiva" para analisar a imbricação de conhecimento e poder no Ocidente. A obra inspirou todo o pensamento francês da década seguinte.

77º - Vigiar e Punir (1975) - Michel Foucault. Vozes (R$ 20,00).
Análise das origens da prisão moderna e das práticas disciplinares associadas a ela. O interesse do autor é revelar a abrangência e o funcionamento desse poder difuso, diverso em seu "modus operandi" do poder estatal.

78º - Problemas da Poética de Dostoiévski (1963) - Mikhail Bakhtin. Forense Universitária (R$ 27,00).
A fim de capturar os traços distintivos dos grandes romances de Dostoiévski, Bakhtin introduz a noção capital de "romance polifônico" -aquele em que não há narrador ou personagem encarregado de explicitar o sentido ou a "moral" da trama.

79º - Outras Inquisições (1952) - Jorge Luis Borges (1899-1986). Em espanhol, "Otras Inquisiciones" (Alianza Editorial).
Coleção de ensaios que pode ser vista como a contrapartida ensaística dos contos de "Ficções"; ao longo de textos sobre os temas mais díspares, o escritor argentino desenvolve suas idéias sobre o conto, a literatura fantástica, o tempo e os labirintos.

80º - Ritos de Passagem (1909) - Arnold van Gennep (1873-1957). Em inglês, "The Rites of Passage" (University of Chicago Press).
Análise dos ritos que marcam o momento de transição, social e culturalmente definido, de um indivíduo ou grupo de um estado para outro. A elaboração dos ritos varia de acordo com a sociedade, mas sua estrutura envolve sempre três fases: separação, latência e agregação.

81º - Ideologia e Utopia (1929) - Karl Manheim (1893-1947). Guanabara-Koogan (R$ 28,10).
Livro dedicado à sociologia do conhecimento, que propõe critérios próprios para a análise dos discursos utópicos (projeção de um ideal de sociedade) e ideológico (idealização do presente), de modo a fornecer novos valores e interpretações do mundo em momentos de crise.

82º - A Estrutura da Ação Social (1937) - Talcott Parsons (1902-1979). Em inglês, "The Structure of Social Action" (Free Press).
Clássico da teoria sociológica que parte de uma fina análise da obra de Weber, Durkheim, Pareto e Marshall para propor uma "teoria geral da ação", modelo analítico que sintetiza o conhecimento sociológico acumulado sobre o tema.

83º - O Estado da Produção e o Estado das Artes Industriais (1914) - Thorstein Veblen (1857-1929). Em inglês, "The Instinct of Workmanship and the State of the Industrial Arts" (Transaction Pub.).
Depois de sua polêmica "Teoria da Classe Ociosa", o dublê de economista e sociólogo põe-se a refletir sobre o futuro da inovação técnica no capitalismo monopolista.

84º - O Teatro e Seu Duplo (1938) - Antonin Artaud (1896-1948). Martins Fontes (R$ 15,50).
Ensaios de crítica ao "teatro psicológico" tradicional, em nome de um "teatro da crueldade", capaz de lidar com matérias míticas a fim de trazer à tona as forças inconscientes que ligam o homem ao cosmo.

85º - O Existencialismo É um Humanismo (1946) - Jean-Paul Sartre. Em francês, "L'Existencialisme Est un Humanisme" (Gallimard).
Escrito logo após a guerra, esse manifesto procura defender o existencialismo da crítica de anti-humanismo que lhe dirigiam autores cristãos e marxistas. Tornou-se uma espécie de cartilha daquela corrente filosófica.

86º - Linguística e História Literária (1955) - Leo Spitzer (1887-1960). Em espanhol, "Linguistica e Historia Literaria" (Ed. Gredos).
Coleção de ensaios de análise literária em que Spitzer faz a apologia da estilística: a interpretação da obra literária não pode prescindir da análise cuidadosa de suas texturas verbais mais básicas -sob pena de desconsiderar justamente o caráter literário da obra.

87º - Idéias sobre uma Fenomenologia (1913) - Edmund Husserl (1859-1938). Em Portugal, "A Idéia da Fenomenologia" (Ed. 70).
Autocrítica em que o autor alemão procura livrar-se do lastro kantiano: a fenomenologia deve livrar-se da distinção entre fenômeno e coisa-em-si.

88º - A Filosofia das Formas Simbólicas (1923-1929) - Ernst Cassirer (1859-1938). Em francês, "La Philosophie des Formes Symboliques" (Minuit).
Filósofo e historiador da filosofia, Cassirer alarga seu horizonte para propor uma filosofia da cultura humana a partir dos tipos de simbolismo que definem suas três grandes fases: o mito, a linguagem, a ciência matemática.

89º - Palavra e Objeto (1960) - Willard Quine (1908). Em inglês, "Word and Object" (MIT Press).
Fortemente influenciado pelo pragmatismo, o lógico norte-americano propõe uma teoria radical da linguagem e da ciência: negando a "pureza" dos enunciados lógico-matemáticos, Quine sugere que todo o conhecimento humano está sujeito à revisão da experiência.

90º - O Mito de Sísifo (1942) - Albert Camus (1913-1960). Guanabara-Koogan (R$ 16,90).
Ensaio filosófico mais importante do romancista de "O Estrangeiro". A indiferença do mundo aos desejos e aspirações humanas faz nascer a experiência do absurdo, diante da qual a revolta se impõe como único ato genuinamente humano.

91º - O Gene Egoísta (1976) - Richard Dawkins (1941). Itatiaia (R$ 15,80).
O biólogo reformula o darwinismo ao sustentar que não é o indivíduo, mas o gene, como unidade hereditária auto-suficiente e auto-replicativa, que constitui o verdadeiro "alvo" da seleção natural.

92º - Literatura Européia e Idade Média Latina (1948) - Ernst Robert Curtius (1886-1956). Edusp (R$ 60,00).
Nesse ensaio monumental, que suscitou as críticas de Spitzer e Auerbach, Curtius mobiliza enorme quantidade de material para traçar a continuidade da tradição literária européia da Antiguidade ao século 19 por meio do rastreamento de "lugares-comuns" persistentes.

93º - A Sociedade Feudal (1940) - Marc Bloch (1886-1944). Ed. 70 (Portugal).
Última grande obra do historiador francês, que morreria nas mãos dos nazistas em 1944; Bloch analisa a formação da sociedade feudal européia a partir do fim do mundo antigo, num ensaio de história de "longa duração".

94º - Fala, Memória (1951) - Vladimir Nabokov (1899-1977). Em inglês, "Speak, Memory" (Everyman's Library).
Peças autobiográficas soltas em que o escritor rememora sua infância na Rússia imperial e a experiência do exílio, com o lirismo e a verve que se conhece de "Lolita" e "Fogo Fátuo", dois de seus principais romances.

95º - O Ouriço e a Raposa (1953) - Isaiah Berlin (1909-1997). Em inglês, "The Hedgehog and the Fox" (Ivan R. Dee, Inc.).
O ensaísta britânico de origem russa, autor de "Quatro Ensaios sobre a Liberdade", une crítica literária e história das idéias para traçar o perfil dos dois grandes nomes do romance russo oitocentista: Tolstói (a "raposa") e Dostoiévski (o "ouriço").

96º - Mitologias (1959) - Roland Barthes (1915-1980). Bertrand Brasil (R$ 21,50).
Primeira obra de impacto do crítico francês, que reformula a noção de ideologia por um viés semiótico para analisar momentos e imagens da vida cotidiana. Ao longo dos anos 60, com a ascensão do estruturalismo, Barthes viria a se distanciar do estilo e da liberdade desses ensaios.

97º - Metafísica, Materialismo e Evolução da Mente - Charles Darwin (1809-1882). Em inglês, "Metaphysics, Materialism and Evolution of Mind" (Britton Booksellers).
Coletânea de escritos, publicados neste século, do formulador da teoria da evolução das espécies.

98º - Gramática da Política (1925) - Harold Laski (1893-1950). Em inglês, "A Grammar of Politics" (London, Allen and Unwin).
Reunião de ensaios em que, a partir do ideário liberal, propõe-se um programa de reformas políticas e sociais para se chegar a uma sociedade baseada na justiça e no pluralismo.

99º - Estrutura da Lírica Moderna - Hugo Friedrich. Duas Cidades (R$ 18,90).
Outro grande nome dos estudos literários na Alemanha, ao lado de Auerbach, Curtius e Spitzer; o livro oferece um quadro sinóptico das transformações da lírica entre o final do século 19 e a primeira metade do século 20.

100º - Diferença e Repetição (1968) - Gilles Deleuze (1925-1995). Paz e Terra (R$ 32,50).
Representante típico do grupo de pensadores que emerge com Maio de 68, Deleuze inspira-se em Nietzsche para praticar uma espécie de anarquismo filosófico; nesse livro, vale-se da noção de uma "diferença" irredutível para criticar as pretensões.



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