São Paulo, domingo, 23 de Maio de 1999
Muhammad Ali / Ayrton Senna / Mark Spitz / Martina Navratilova
Nadia Comaneci / Carl Lewis / Michael Jordan / Pelé / Modalidades Mutantes
12.set.1913
James Cleveland Owens nasce em uma fazenda de Danville, Alabama (EUA), filho de um casal de colhedores de algodão e neto de ex-escravos
1922
Sua família muda para Cleveland. Começa a treinar atletismo corrida, saltos em altura e em distância no colégio
1931
Em sua primeira competição importante, um torneio entre colégios de seu Estado, bate o recorde do evento para o salto em distância, termina em segundo nas 200 jardas (182,22 m) e em quarto nas 100 jardas (91,11 m)
1932
Novamente compete nos jogos colegiais. Corre as 100 jardas em 9s9, igualando o recorde estadual, e ganha as 220 jardas (200,44 m) em 22s6, estabelecendo nova marca do evento
1933
Corre nos jogos nacionais estudantis. Quebra os recordes mundiais da categoria das 100 jardas, 200 jardas e do salto em distância. É convidado para estudar, trabalhar (como ascensorista, das 17h à 0h30) e competir pela Universidade de Ohio
1934
Começa a correr na universidade, sob orientação do treinador Larry Snyder, que lhe ensina técnicas de corrida. Snyder é apontado como responsável por estilo “relaxado” de correr _ “pouco peso nos braços, pouco peso nas pernas”, era seu lema
Jesse Owens
As Marcas

-Quatro medalhas de ouro, nove recordes olímpicos estabelecidos e dois igualados nos Jogos de Berlim-36

-Três recordes mundiais estabelecidos e um igualado num intervalo de 45 minutos, em uma competição nos EUA

"Hitler não quis apertar
minhas mãos."

Após os Jogos de Berlim, sobre o seu
contato com o líder nazista alemão


John Cleveland Owens, James Cleveland Owens ou, como o pai dizia, “apenas J.C. Owens”. Não importa, já que, ao responder a uma chamada no primeiro dia de aula, em uma nova escola, a professora entendeu Jesse Owens.

O nome que, anos mais tarde, entraria para a história do atletismo e da complicada e estreita relação entre esporte e política. Owens, o homem negro que, em 1936, provou ser mais rápido do que todos os atletas da raça ariana, a falácia pseudo-científica patrocinada por Adolf Hitler e seu regime nazista nos anos que prepararam a Segunda Guerra Mundial.

Tamanha proeza já seria suficiente para colocá-lo entre os grandes heróis do esporte. Mas, não bastasse ter ferido o orgulho do “Füeher”, Owens fez o que nenhum outro atleta faria nos 48 anos seguintes: quatro medalhas de ouro no mais nobre dos esportes, com a quebra sucessiva de nove recordes olímpicos. Sua extraordinária capacidade já havia sido provada um ano antes, em Michigan, quando estabeleceu três recordes mundiais e igualou um quarto em uma competição nacional.

E, o mais impressionante, tudo isso em meros 45 minutos. Owens e os outros nove atletas negros dos EUA _“seres não-humanos”, para os nazistas_ recolheram 13 medalhas em Berlim. Mas, de volta ao país, depois do desfile, do assédio da imprensa e dos cumprimentos das autoridades, não escaparam da realidade racista norte-americana. “Apesar de todas as histórias sobre Hitler, continuei sem poder andar nos bancos da frente nos ônibus, tendo que entrar pela porta dos fundos, sem poder morar onde queria.”

Após rebelar-se contra os dirigentes do atletismo norte-americano, que desejavam-no excursionando pelo mundo para angariar fundos, o “homem mais rápido da Terra” resolveu se exibir contra cavalos e cachorros. “Precisava de dinheiro; não podia comer minhas medalhas de ouro.”

Owens nunca foi um ativista. Apenas tentou, nas suas palavras, “tornar as coisas melhores”. Em 1976, recebeu do presidente Gerald Ford a Medalha da Liberdade, a mais alta honraria concedida a um civil nos EUA. Aguardou 40 anos o reconhecimento oficial que só pôde desfrutar durante 4.


1935
Ganha evidência nos EUA em um campeonato universitário. Em um intervalo de 45 minutos, ganha quatro medalhas de ouro. Bate os recordes mundiais do salto em distância (8,13 m), das 220 jardas rasas (20s3) e com barreiras (22s6) e iguala a marca das 100 jardas rasas (9s4). É o primeiro negro a assumir o posto de capitão de um time de atletismo de uma universidade dos EUA
1936
Nos Jogos de Berlim, ganha status de mito ao conquistar quatro medalhas de ouro: 100 m, 200 m, revezamento 4 x 100 m e salto em distância. O feito só foi igualado por Carl Lewis, 48 anos depois, nos Jogos de Los Angeles. Ao longo da Olimpíada, estabelece nove recordes, entre eles nos 200 m (21s7) e no salto em distância (8,05 m, marca que durou 25 anos). Fica na história, porém, a irritação de Adolf Hitler, que pretendia, com os Jogos, “provar a superioridade da raça ariana”. O führer se nega a cumprimentar Owens no pódio. É recebido como herói nos EUA, mas acaba sendo suspenso pela União Atlética Amadora dos EUA, depois que se nega a participar de uma competição na Suécia. É o fim de sua carreira como atleta
Depois que parou...
De 1937 a 1955, trabalha na Comissão Atlética do Estado de Illinois, ganha “trocados” em exibições correndo contra cavalos, cachorros e carros, participa de campanhas políticas e vira vigia em um “playground” de Cleveland Em 1956, contratado pelo Departamento de Estado dos EUA, começa a fazer viagens diplomáticas para países asiáticos Em 1970, escreve um livro, “Pensamento Negro”, em que contesta a militância negra nos EUA Em 1980, fumante, morre de câncer em um asilo em Tucson, no Arizona




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