São Paulo, Terça-feira, 23 de Fevereiro de 1999
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O Pentágono diz ter preparado 81% de seus computadores, mas entidades independentes vêem possibilidade de pane em arsenais norte-americanos
EUA dizem que não há risco de colapso nuclear

Associated Press
Sam Loy, engenheiro de informática em Austin, Texas (EUA), estoca suprimentos contra o bug. Na lista estão 150 quilos de grãos, 11.350 litros de água e um grande saco de leite em pó


MARCELO DIEGO
de Nova York

O Pentágono (Comando das Forças Armadas dos EUA) diz já ter conseguido solucionar o problema do bug em 81% de seus computadores, que haverá tempo para resolver o restante e que não há risco de colapso nas armas militares controladas por computador. Entidades independentes discordam.
Desde 1995, o Pentágono está colocando em prática um programa de US$ 2,45 bilhões para resolver os problemas do bug.
O secretário de Defesa dos Estados Unidos, William Cohen, tem vindo a público tranquilizar a população. Afinal, o Departamento de Defesa do país tem 1,5 milhão de computadores.
Todo o arsenal moderno (incluindo mísseis de longa distância e armas nucleares), bem como os sistemas de ataque e defesa, são programados por computadores.
O temor existente é que as máquinas entrem em colapso na passagem para o ano 2000. Uma falha no sistema poderia ativar, por engano, algumas das armas, o que poderia causar um acidente de grandes proporções.
Outra preocupação é que a leitura errada acione os sistemas de alarme, mesmo sem a presença de um inimigo. Ou pior: diante de um ataque inesperado, o sistema de defesa poderia falhar.

Testes
Os EUA têm 2.581 mísseis considerados "críticos", ou seja, suscetíveis de disparos acidentais. Segundo dados do Pentágono de novembro de 1998, 53% dos mísseis já foram checados e não apresentam riscos. Outros 1.014 serão testados nos próximos meses, e centenas serão desativados.
A idéia é que, até o meio do ano, todos os sistemas de defesa do país já estejam com novos componentes de segurança, prontos para serem submetidos a testes.
Em dezembro passado, o Departamento de Comando Aéreo já fez as primeiras simulações com mísseis aéreos. "Tudo funcionou conforme prevíamos", disse John Hemry, representante da Secretaria de Defesa.
O otimismo oficial do governo norte-americano não é compartilhado por organismos independentes. Um dos mais críticos é o Basic (sigla em inglês para Conselho Britânico e Americano de Informações de Segurança).
Em relatório divulgado no ano passado, acreditava-se que somente 40% dos computadores do Pentágono estavam em condições seguras, que o Departamento de Defesa havia fracassado em uma série de testes e que os EUA estavam dando pouca atenção à Rússia.
Segundo o Basic, Moscou tem um dos maiores arsenais nucleares do mundo, e falhas no sistema de segurança de lá poderiam ser tão ou mais perigosos do que as falhas no próprio país.
O Basic diz que a hipótese de um lançamento involuntário de armas nucleares é pequeno, mas que o sistema de defesa americano só teria dez minutos para abortar esse tipo de problema.
Para a Federação dos Cientistas Americanos, o problema é outro: "Se houver uma falha no sistema, as pessoas vão deixar de confiar nas máquinas, e o governo terá um novo problema", afirmou John Pike, analista de segurança.
O Pentágono afasta os riscos, mas já criou um problema interno no ano passado, quando críticas surgiram dentro do meio militar.
Três computadores do DSWA (Agência Especial de Armas de Defesa) falharam em um teste. Um relatório foi encaminhado ao Pentágono, dizendo que, caso o erro fosse repetido em uma situação real, o sistema de defesa do país poderia estar em perigo.
O caso foi tornado público pelos jornais norte-americanos, e o Pentágono tratou de apagar o fogo. "Qualquer falha de computador não coloca em risco o sistema e não tem nada a ver com o controle de armas nucleares", discursou o porta-voz da entidade, coronel Patrick Sivigny. Uma comissão montada na Câmara dos Representantes acompanhará o programa.


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