São Paulo, sexta, 1 de janeiro de 1999

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Ano solar foi criado por povos agrícolas

especial para a Folha

Toda a humanidade, hoje, vive anos de 365 dias e, a cada quatro, de 366. Isso ajuda a manter a sociedade em funcionamento, os negócios em pé, as prestações definidas.
Esse calendário é resultado, de fato, de uma história complexa. Talvez o tempo não seja criação do homem, mas o ano, certamente, é.
De todos os fenômenos celestes, o mais visível é o nascer e o pôr do Sol. Assim, o dia é uma unidade definida. Com alguma atenção, nota-se que os dias têm duração diferente e que as diferenças são cíclicas. Esse ciclo é o ano.
Como relógios são criações re-centes, a humanidade lançou mão de outros expedientes para determinar ciclos maiores do que o dia.
O que estava mais à mão era a Lua. Esta passa por quatro fases: de invisível a totalmente visível e, de novo, a caminho da invisibilidade. Esse período dura 29 dias e meio. Como "meios-dias" são difíceis de contar, cria-se a noção de mês: coleção de dias que encerra um
ciclo lunar completo.
Faz-se com que os meses tenham, alternadamente, 29 e 30 dias. A cada dois meses, dois ciclos se completam, conta que caracterizou, por exemplo, calendários gregos, judeus e egípcios.
Tudo bem se o homem não fosse agricultor. Como coletor que era, em tempos pré-históricos, saber o tempo de plantar era um problema que ainda não existia. Mas a agricultura lançou uma exigência sobre os proto-astrônomos. Doze meses lunares somam 354 dias, menos que o período que separa duas épocas de plantar, cerca de 365 dias.
Caso se adote o ano lunar, o ano agrícola começa todo ano 11 dias mais cedo; no fim de pouco tempo, verão e inverno invertem de posição. Para que meses se eles não definem se é primavera ou outono?
Os egípcios adotaram a tática de observar a estrela Sírius (Sótis, para eles). Marcando, num dia, um ponto preciso (o alinhamento entre duas pedras, por exemplo), observa-se a passagem da estrela. No dia se-guinte, ela passa um pouco deslocada -e assim por diante. Depois de um tempo, esse movimento faz um ciclo e volta exatamente ao ponto inicial -esse ciclo marca um ano. E a precisão era fantástica: o ano egípcio tinha 365 dias e seis horas -hoje, considera-se que um ano tem 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos.
Os gregos usaram o Sol e sua sombra, que também muda de um dia para o outro. A estrela era outra, mas a lógica era parecida. O ano grego, assim medido, era praticamente igual ao egípcio.
Com a evolução da técnica, os métodos de observação foram ficando mais precisos, e os dados foram se acumulando. Foi possível calcular com precisão cada vez maior o ano solar, embora, para quase todos os fins práticos, a alternância entre 365 e 366 dias resolva os problemas, exigindo apenas a supressão de três anos bissextos a cada quatro séculos.
Mas o rigor científico pediu medidas mais precisas. Como, na verdade, a Terra não sofre só dois movimentos, translação (em torno do Sol) e rotação (em torno de eixo imaginário que liga os pólos), mas vários outros, sua função como "relógio" fica prejudicada.
O ano "científico" é medido pelas vibrações do átomo de Césio, que oscilam com precisão perfeita. Quanto dura um ano? Um egípcio, há 3.000 anos, diria 365 dias e seis horas. Hoje, um físico dirá: "290.091.200.500.000.000 oscilações do Césio". (JESUS DE PAULAASSIS)



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