Brasileiros se atiram em novos negócios em plena recessão
Inflação em alta e real desvalorizado não assustam estreantes, que enxergam oportunidade de crescer
Empreendedores admitem receio em começar, mas preferem assumir risco a abrir mão de projeto pessoal
Perceber uma oportunidade de negócio, conseguir financiamento para bancá-la e planejar-se bem para que o dinheiro não acabe no meio do caminho já não é uma tarefa fácil em tempos de bonança. Em época de crise, o desafio de abrir uma empresa é bem maior.
Mas o cenário desfavorável não tem impedido alguns brasileiros de se arriscarem. Só no primeiro semestre deste ano, 87 redes e 5.600 unidades de novas franquias começaram a operar, segundo a Associação Brasileira de Franchising.
Em alguns casos, em ramos literalmente assustadores: em seis salas diferentes, a Escape 60 organiza jogos em que os participantes tentam fugir do corredor da morte, ou precisam resgatar uma prima que desapareceu durante onda de assassinatos. Com ingressos entre R$ 69 e R$ 79, eles têm uma hora para resolver o mistério fictício com base em pistas do cenário.
Para abrir a primeira unidade, em julho deste ano, os sócios Jeannette Galbinski, 50, Márcio Abraham, 50, José Roberto Szymonowicz, 43, e Karina Papautsky, 43, investiram R$ 1,2 milhão.
A ideia veio de viagens dos casais à França e aos Estados Unidos, em que perceberam que o negócio era uma tendência mundial. "Pensamos 'é agora ou nunca'. Resolvemos fazer no Brasil antes que alguém fizesse", diz Abraham.
Apostar no ineditismo é um dos conselhos do gerente de atendimento do Sebrae, Ênio Pinto, para quem quer empreender na recessão.
Outra dica é oferecer soluções que reduzam custos.
Aproveitando a crise do setor elétrico, Alexandre Marchetti, 37, e seus cinco sócios lançaram a SolarGrid, empresa de geração de energia solar, em janeiro. Um dos diferenciais é a possibilidade de financiar a compra do equipamento, que custa em média R$ 50 mil.
O que devia ser um atrativo acabou virando um problema com o aumento das taxas de juros. A desvalorização do real frente ao dólar foi outro complicador, uma vez que 90% do equipamento é importado, diz Marchetti.
A "sorte" foi que a tarifa de energia elétrica subiu tanto que, mesmo com custos mais altos, a energia solar continuou atrativa. "Para nós, a própria crise se compensou."
O empresário afirma que a SolarGrid conseguiu faturamento de R$ 800 mil em agosto, e pretende fechar negócio com mais 50 franqueados em dezembro.
NOVAS FRONTEIRAS
Depois de frequentar as barbearias vintage, na moda em São Paulo, Zilson Magalhães Jr, 35, decidiu levar o modelo para a zona norte da cidade. Em parceria com a irmã, Virgínia, ele abriu em julho o Barbudos, salão de beleza voltado para homens.
Magalhães conta que pensou "umas dez vezes" antes de começar a empresa, em razão da situação econômica, mas acelerou a decisão quando um ponto bem localizado surgiu na região.
Já Janaína Bento, 32, resolveu explorar um novo ramo. Sócia de uma construtora civil –uma das atividades mais afetadas pela retração– ela resolveu investir em alimentação. Em janeiro, abriu a Upii!, fast-food cujo carro chefe são batatas belgas.
A empresária reconhece que foi um movimento arriscado. Os custos só não foram afetados pela desvalorização do real porque os produtos foram importados em grande volume no início do ano.
Bento diz que o faturamento na unidade de Barueri caiu 50% nos últimos dois meses, mas está otimista para 2016, quando planeja abrir uma nova franquia de fast-food.