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CAIXA DE CAMPANHA
Documentos revelam que partido usou caixa dois na campanha de Cassio Taniguchi à reeleição em Curitiba
PFL omitiu R$ 29,8 mi do TRE do Paraná
FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
Documentos secretos apontam
que o PFL (Partido da Frente Liberal) omitiu da Justiça Eleitoral
do Paraná R$ 29.792.650,44 gastos na campanha de Cassio Taniguchi à Prefeitura de Curitiba no
ano passado. Os valor está em papéis da contabilidade pefelista.
A Folha teve acesso aos dados.
Trata-se do mais amplo material
já divulgado no país sobre como
funciona um caixa dois em uma
campanha política.
Não são fotocópias comuns,
que poderiam ter sido montadas
por algum inimigo político. Os
papéis foram obtidos por pessoas
que participaram da campanha
de Taniguchi em 2000. Há alguns
originais disponíveis. Além disso,
a Folha trabalhou por dez dias para checar a veracidade das informações, tendo conseguido a confirmação de oito empresas sobre
dados contidos no material.
Taniguchi é a segunda estrela do
PFL no Paraná, depois do governador Jaime Lerner, seu mentor
político. É um dos três prefeitos
de capitais do PFL. Foi reeleito no
ano passado numa disputa acirrada contra Ângelo Vanhoni, candidato do PT. O pefelista venceu no
segundo turno por uma diferença
de apenas 26.541 votos -menos
de três pontos percentuais.
No momento, o nome de Taniguchi vem sendo citado dentro do
PFL como possível candidato a
governador no ano que vem. Ou,
eventualmente, até como o escolhido do partido para ocupar a vaga de candidato a vice-presidente
da República numa chapa da
aliança governista.
Gastos oficiais e paralelos
Ao TRE (Tribunal Regional
Eleitoral) do Paraná, a coligação
"PFL- Movimento Curitiba Sempre com Você" declarou ter gasto
na campanha R$ 3,112 milhões
-o resultado da soma de R$
2.887.457,23 arrecadados e mais
R$ 224.844,75 de restos a pagar.
Nos papéis obtidos pela Folha, é
possível verificar que a contabilidade da campanha de Taniguchi é
diferente dos dados que constam
no TRE. O material é composto
por quatro partes:
1) livro-caixa manuscrito - seria
a movimentação diária da campanha de Taniguchi. Redigido à
mão, contém todos os registros de
entradas e saídas de dinheiro. Por
consequência, estão ali todos os
dados informados ao TRE, mas
isso representa apenas uma parcela do total;
2) listagem de computador - depois de lançadas no livro-caixa, as
despesas eram também digitadas
num programa de computador.
O sistema gerava relatórios diários sobre despesas a serem pagas.
É nesses papéis que aparecem a
dívidas ainda não quitadas;
3) recibos e cheques - há dezenas de cópias de cheques, recibos
e bilhetes manipulados pelo comitê financeiro de Taniguchi. A
Folha pode comprovar que alguns desses papéis são fotocópias
obtidas a partir de originais;
4) declaração ao TRE - trata-se
de uma cópia da declaração financeira de Taniguchi entregue
ao TRE-PR. A cópia é idêntica à
que está no TRE no que diz respeito a receitas e despesas. Trata-se de documento importante para
fazer esta reportagem, pois era
necessário comparar os dados
oficiais com o que seria o caixa
dois da campanha.
No Paraná, diferentemente da
maioria dos Estados, a Justiça
Eleitoral tem por norma não permitir ao público nem à imprensa
a retirada de cópias desse tipo de
documento. A Folha tentou, na
semana passada, fazer uma checagem do documento nas dependências do tribunal, mas não foi
possível. A única cópia disponível
havia sido requisitada por um juiz
e não podia ser vista.
O material é todo fotocopiado.
A Folha conhece a identidade de
quem guarda grande parte dos
originais. A reportagem teve acesso a alguns desses originais com a
condição de não revelar a identidade da fonte.
O valor total arrecadado descrito no livro-caixa manuscrito é de
R$ 29.294.865,88. Há mais R$
3.610.086,54 de restos a pagar. Os
dois valores resultam num gasto
total de R$ 32,9 milhões -R$ 29,8
milhões a mais do que o declarado à Justiça Eleitoral. Ou seja, Taniguchi teria declarado ao TRE
menos de 10% do total realmente
consumido em sua campanha.
Grande parte do valor arrecadado tem uma fonte única como origem: é a inscrição "recebido
M.L.F.", responsável por R$
18,639 milhões (63,63% do total
de dinheiro obtido pelo PFL para
reeleger Taniguchi).
Embora o livro-caixa não dê
pistas sobre como esse dinheiro
foi obtido, a sigla "M.L.F." coincide com as iniciais de Mário Lopes
Filho, presidente do comitê financeiro da campanha de Taniguchi.
Segundo a Folha apurou, os valores atribuídos a Mário Lopes seriam trazidos por ele ao comitê,
sempre em dinheiro, dentro de
bolsas ou envelopes. Ele nega essas operações, assim como o prefeito Cassio Taniguchi [leia textos
à pág. A7".
Apesar das negativas de Mário
Lopes e Taniguchi, há evidências
que demonstram que os dados
desse possível caixa dois são verossímeis. Cinco dos fornecedores de material e serviços citados
no livro-caixa (e omitidos no
TRE) confirmam ter participado
da campanha.
O instituto de pesquisas Vox
Populi, de Belo Horizonte, não
consta no TRE-PR como prestador de serviços à campanha de
Taniguchi. O prefeito de Curitiba
declarou gastos espartanos com
pesquisas: apenas R$ 4.540,00.
No livro-caixa secreto, entretanto, o Vox Populi aparece como recebedor de R$ 693,9 mil da campanha. O proprietário da empresa, o cientista político Marcos
Coimbra, foi indagado se teria
realizado pesquisas para o prefeito de Curitiba. Respondeu: "Fizemos, com certeza".
Confrontado com o fato de que
tal despesa não constava na declaração ao TRE, Marcos Coimbra
disse: "Não sei. Posso verificar o
que foi feito".
Coimbra ficou de dar uma resposta na quinta-feira passada,
mas até ontem não havia fornecido nenhuma informação nova.
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