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PARANÁ
Documentos reforçam veracidade do financiamento paralelo da reeleição de Cassio Taniguchi no ano passado
Aparecem originais do caixa dois do PFL
FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
Papéis originais que pertencem
à contabilidade da campanha do
PFL para a Prefeitura de Curitiba
em 2000 reforçam os indícios de
veracidade do livro-caixa secreto
usado pelo partido.
A Folha obteve 28 documentos
que juntos mencionam pagamentos de pelo menos R$ 1.777.784,41.
Há alguns papéis com valores
mais altos, mas não é possível determinar com precisão a que as
anotações se referem.
Do R$ 1,777 milhão mencionado em parte dos 28 documentos,
só R$ 285 mil aparecem descritos
na contabilidade entregue pelo
PFL ao TRE (Tribunal Regional
Eleitoral) do Paraná.
Esses papéis originais contêm
assinaturas que seriam de pessoas
e empresas que participaram da
campanha da reeleição de Cassio
Taniguchi para prefeito de Curitiba no ano passado.
O Ministério Público do Estado
do Paraná convocará nos próximos dias todos os envolvidos. Será realizada perícia para verificar
se as assinaturas são autênticas.
A coligação liderada pelo PFL,
Movimento Curitiba Sempre com
Você, que reelegeu Taniguchi
prefeito, declarou gastos de R$
3,112 milhões em sua campanha
em 2000. No dia 6 do mês passado, a Folha revelou que a despesa
total havia sido de R$ 32,9 milhões, segundo anotações de um
livro-caixa manuscrito. Uma diferença de R$ 29,8 milhões não teria
sido declarada à Justiça Eleitoral.
Ao comentar os novos papéis
originais obtidos pela Folha, o
procurador de Justiça do Estado
do Paraná, Munir Gazal, disse:
"Como aparentemente esses papéis saíram do mesmo lugar de
onde vieram outros poucos documentos originais que temos, é
possível que tudo seja verdadeiro.
Mas só poderemos, entretanto,
afirmar isso com segurança após
a perícia técnica. Se forem mesmo
autênticos, esses documentos serão mais um elemento de prova
importante no caso".
Até o momento havia apenas a
confirmação oficial de quatro bilhetes originais que pertenciam
ao caixa dois do PFL curitibano.
São pequenos papéis nos quais o
presidente do comitê financeiro,
Mário Lopes Filho, dava instruções sobre pagamentos secretos.
Ele negou a autenticidade dos documentos, mas sua versão foi derrubada por uma perícia feita pela
Polícia Civil do Paraná.
Várias operações
A Folha teve acesso aos papéis
que dão sustentação a esta reportagem há uma semana. Depois de
uma checagem inicial, as pessoas
e empresas cujos nomes aparecem nos documentos passaram a
ser contatadas. Muitas se recusaram a falar (leia texto na página
A7). Algumas confirmaram parcialmente o que estava contido na
documentação.
Há várias operações. A mais comum é a do recibo informal para
o partido com o valor total, e, depois, a declaração de um montante menor para o TRE. Seria o caso
da Gráfica Mikito. Na Justiça Eleitoral, consta que essa empresa recebeu R$ 4.831 da campanha de
Cassio Taniguchi. Em um recibo
original secreto aparece, entretanto, o valor de R$ 142 mil.
Há casos em que nada é declarado ao TRE. Essa parece ser a situação de empresas como o instituto
de pesquisas Brasmarket e a Toccafondi Camisetas e de pessoas físicas como Valdo Zanetti e Fernão Accioly. Há um recibo original no qual a Brasmarket aparece
recebendo R$ 20 mil. A Toccafondi Camisetas tem um pagamento
de R$ 14 mil. Valdo Zanetti e Fernão Accioly teriam recebido R$
183.349 e R$ 20 mil, respectivamente. Nenhuma dessas pessoas
e empresas está na lista oficial de
fornecedores da campanha de
Cassio Taniguchi.
Se forem confirmados esses pagamentos, essas empresas e pessoas não terão cometido nenhuma irregularidade se tiverem declarado as operações no Imposto
de Renda. Mas o PFL e o prefeito
Cassio Taniguchi terão cometido
um ato ilegal ao não declararem
as operações ao TRE.
Depósito bancário
Um caso está bem documentado. Trata-se de um recibo emitido
pelo banco HSBC para um depósito, em dinheiro, no valor de R$
80 mil na conta pessoal de um
funcionário da agência de publicidade Lowe Loducca -que fez a
campanha de Taniguchi em 2000
com o nome de Tarso Loducca,
divisão criada com a finalidade de
atender contas políticas.
Pela contabilidade oficial do
PFL, a Tarso Loducca recebeu R$
400 mil. A empresa coligada Loducca Virtual recebeu outros R$
16.180 pela montagem do site de
Taniguchi na internet.
Ocorre que esses valores foram
pagos à Loducca nos meses de
agosto, setembro e outubro de
2000, conforme os documentos
oficiais do PFL. A agência, por intermédio de sua assessoria, confirmou que as datas são essas.
Já o depósito de R$ 80 mil, na
conta de Nelson Soares da Graça,
funcionário do departamento financeiro da Loducca, foi efetuado
às 12h53 de 20 de dezembro de
2000. É, portanto, um pagamento
adicional ao que foi dito ao TRE.
É possível que esse depósito faça
parte do que teria sido o pagamento total do PFL à Loducca pela campanha de Taniguchi. Nos
registros do caixa paralelo que está sendo investigado pelo Ministério Público, aparece um valor de
R$ 1.501.200 pago à agência -R$
1.085.020 a mais do que o declarado ao TRE.
Procurada, a Loducca não comentou o depósito de R$ 80 mil.
Uma explicação que a Folha ouviu da assessoria de imprensa da
Prefeitura de Curitiba é que, por
ter sido em dinheiro, tratou-se de
uma transferência interna na
agência de publicidade.
Essa versão, entretanto, conflita
com o que já existe de evidências
dentro do caixa dois. Além de o
recibo do depósito bancário ter sido encontrado dentro da contabilidade secreta do PFL, há um bilhete manuscrito de Mário Lopes
Filho, presidente do comitê financeiro de Taniguchi, descrevendo a
operação.
Nesse bilhete -original e dado
como verdadeiro pela perícia técnica-, MLF escreveu: "Depósito
HSBC SP R$ 80 M agência 1888 c/
c 0076-15 Tarso Loducca". Logo
abaixo, o próprio Mário Lopes faz
uma retificação de número de
conta bancária: "c/c 0003076 Nelson Soares da Graça".
A Tarso Loducca hoje não existe
mais. Paulo de Tarso, que era um
dos sócios cujo nome figurava no
nome da firma, presta agora serviços para o PSDB e para o presidente Fernando Henrique Cardoso, em Brasília.
Apesar das evidências já encontradas, o Ministério Público considera difícil obter provas para validar todo o caixa paralelo do PFL.
Os papéis originais divulgados
hoje devem se tornar a principal
peça da investigação.
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