Reuters
25/11/2002 - 15h30

Organizadores e misses rejeitam culpa por mortes na Nigéria

da Reuters, em Londres

Os organizadores e as candidatas do concurso Miss Mundo disseram hoje que foram feitos de bodes expiatórios no conflito religioso que deixou pelo menos 200 mortos na Nigéria nos últimos dias.

O concurso foi transferido do país africano para Londres depois que os muçulmanos saíram às ruas protestando contra o que consideravam "um desfile de nudez". Mas também no Reino Unido a recepção foi negativa, pois a imprensa e ativistas de defesa dos direitos humanos acusam o Miss Mundo de ter sangue nas mãos.

A organizadora Julia Morley disse que o incidente não foi culpa do concurso, mas de um artigo de jornal que dizia que o profeta Maomé provavelmente gostaria de se casar com alguma das candidatas, o que irritou os muçulmanos que são maioria no norte da Nigéria.

"Lamento muito os tumultos, mas também lamento muito que tenhamos nos envolvido em algo de que não temos culpa", disse Morley, irritada. "Um jornalista iniciou esse problema e espero que os jornalistas possam resolvê-lo."

Ela disse que não espera retaliações ao concurso no reino Unido nem a ocorrência de ataques. Mas a parlamentar Glenda Jackson, atriz vencedora do Oscar, liderou os protestos para que o concurso fosse suspenso: "A melhor coisa a se fazer depois de um tal fratricídio e de uma tal violência é cancelar toda a competição".

A feminista australiana Germaine Greer disse ser "horrível" a possibilidade de o Miss Mundo acontecer em Londres. A escritora Muriel Gray declarou: "Essas garotas estarão usando biquínis manchados de sangue". Segundo a romancista Kathy Lette, o concurso era como "um carregamento de lixo nuclear recusado por todos".

O governo da Nigéria esperava usar o Miss Mundo para mostrar o país sob uma luz mais favorável e, assim, atrair turistas até ali. Mas o tiro saiu pela culatra desde o início, com algumas candidatas ameaçando boicotar o evento em protesto contra os tribunais islâmicos que condenaram uma mulher adúltera à morte por apedrejamento.

A maioria das 91 candidatas repetiu literalmente o argumento de Morley, dizendo-se usadas como bodes expiatórios de um conflito religioso que já dura vários anos. "Foi só uma desculpa", disse a impassível miss Nigéria, Chinenye Ivy Ochuba.

Só uma das candidatas, a belga Sylvie Doclot, admitiu publicamente estar perturbada com os incidentes. "Decidi ir embora quando as mortes começaram, porque não queria estar ligada a sua motivação. Achei que o povo belga preferiria assim", afirmou Doclot, convocada para o concurso depois que a candidata titular manteve a decisão de boicotar o Miss Mundo.

Morley disse que ainda está calculando o custo da transferência do concurso -ela afirmou que o incidente custará caro, embora "não na casa dos milhões". A final está mantida para 7 de dezembro, embora ainda faltem detalhes da organização.

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