Reuters
22/11/2002 - 08h49

Político australiano quer proibir roupa de muçulmanas

da Reuters, em Canberra

Um político australiano provocou indignação no seu país ao propor a proibição da tradicional roupa das mulheres muçulmanas, o chador. Seu argumento é que o traje, que cobre da cabeça aos pés, pode ser usado para esconder armas.

Reuters
O reverendo Fred Nile, que quer proibir o traje muçulmano

Ouvintes telefonaram para as rádios e leitores escreveram para os jornais, hoje, acusando de racismo o autor da proposta, o reverendo Fred Nile, um dos conservadores mais polêmicos do país.

A idéia foi lançada na quarta-feira (20), e de início mereceu comentários ambivalentes do primeiro-ministro John Howard, também conservador. Só hoje ele disse a uma rádio de Sydney, com todas as letras, que "uma sociedade democrática não pode aprovar uma lei dizendo como as pessoas devem se vestir".

Nile disse na quarta-feira, na Assembléia Estadual de Nova Gales do Sul, que o chador (tecido usado para cobrir o rosto) é "um disfarce perfeito para terroristas, pois oculta armas e explosivos". Ele usou como exemplo as militantes tchetchenas que, com esse traje, participaram da recente ocupação do teatro de Moscou.

O político democrata-cristão jogou mais lenha na fogueira hoje ao dizer que só extremistas usam essa roupa. "São gente que (Osama) bin Laden está manipulando e usando em seu movimento terrorista", disse ele em entrevista.



A proposta de Nile foi imediatamente rejeitada por líderes religiosos, sindicatos e políticos da Austrália, um país cristão, onde a minoria muçulmana vive acuada desde os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.

Nas seções de cartas dos jornais, a idéia de Nile foi ridicularizada -um leitor chegou a sugerir a proibição do hábito das freiras e do saco do Papai Noel. "Talvez Nile só fique satisfeito quando a gente for ao supermercado pelados", sugeriu John Ramsay, em carta ao jornal "The Australian".

Mas Nile, que já ficou famoso por sua oposição ao Carnaval gay de Sydney, ganhou apoios isolados. Em telefonema a uma rádio na quinta-feira, um ouvinte sugeriu que cada australiano "monitore um muçulmano".

Comentaristas na imprensa pediram aos políticos que não alimentem o sentimento antiislâmico no país, agravado após os atentados do mês passado em Bali, Indonésia, nos quais cerca de 180 pessoas morreram , entre elas 90 turistas australianos.

"Mesmo que o chador não seja uma determinação do Corão, qualquer proposta por sua proibição pode facilmente ser vista como um ataque ao Islã", disse o "Daily Telegraph".

 

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