Reuters
16/10/2002 - 12h16

Europa e EUA divergem sobre modo de lidar com padres pedófilos

da Reuters, em Paris

Quando um bispo católico descobre que um de seus padres abusa sexualmente de crianças, ele pode recorrer à polícia, buscar ajuda de um psiquiatra ou empurrar o problema discretamente para debaixo do tapete.

Bispos dos EUA, onde vários escândalos de pedofilia chegaram às primeiras páginas dos jornais e provocaram a expulsão de ao menos 300 padres, encontram-se no Vaticano (em Roma, Itália) nesta semana para discutir o grau de severidade com que devem tratar os clérigos criminosos.

Caso valha a pena dar uma olhada na Europa, berço do catolicismo, a postura da Igreja Católica em relação ao assunto parece muito distante de uma unanimidade teoricamente previsível, em vista da hierarquia centralizada e da estrutura de poder desse corpo religioso.

A postura dura acertada pelos bispos norte-americanos em um encontro realizado em Dallas (EUA) vai muito além de qualquer diretriz adotada na Europa e, provavelmente, não contará com a aprovação do Vaticano. Os norte-americanos decidiram-se pela expulsão imediata e pela denúncia à polícia de padres acusados de abuso sexual.

"Acho que os bispos dos EUA, talvez porque os católicos do país sejam mais exigentes, estão sendo mais francos", disse a jornalista Alison O'Connor, autora de um livro sobre um padre irlandês que se suicidou em 1999 antes de ser julgado por 66 acusações de estupro e molestamento sexual.

As diretrizes acertadas nos EUA mostram-se muito diferentes dos julgamentos secretos para padres pedófilos, prática sugerida pelo Vaticano em um documento publicado em latim em 2001 e que contou com pouca publicidade.

Apesar da pouca divulgação, o problema é grave em vários países da Europa.

Na Irlanda, por séculos um dos países mais devotos do mundo, a liderança católica perdeu muito de seu prestígio devido aos escândalos de pedofilia.

No começo deste ano, a Igreja concordou em pagar US$ 112 milhões em indenização para cerca de 3.000 vítimas de abusos sexuais ocorridos em 18 instituições católicas diferentes.

A Igreja Católica da Inglaterra e de Gales chegou ao ponto de nomear uma mãe solteira e agnóstica para chefiar um novo órgão de proteção das crianças contra abusos sexuais praticados pelos clérigos.

Em contraste, alguns países com marcada herança católica mantêm intactos os velhos hábitos de proteção aos padres.

A Itália não fixou diretrizes para lidar com o problema, apesar de haver sete clérigos no país detidos por pedofilia. O mesmo pode ser dito sobre a Espanha e a Polônia, terra natal do papa João Paulo 2º.

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