Reuters
14/10/2002 - 21h09

Chefe paramilitar da Colômbia vive dilema com os EUA

da Reuters, em Bogotá

O chefe máximo dos esquadrões paramilitares de ultradireita da Colômbia, Carlos Castaño, reconheceu em entrevista publicada hoje que enfrenta o dilema de se entregar ou não para a Justiça dos Estados Unidos, que o acusa de narcotráfico.

"A verdade é que estou afundado num dilema. Encontro razões tanto para me entregar quanto para ficar à frente das Autodefesas Unidas da Colômbia [AUC, que abriga vários grupos paramilitares em suas fileiras], que agora insistem e prometem mudar para que eu permaneça aqui", disse Castaño em entrevista publicada pela revista "Semana".

Os Estados Unidos solicitaram em setembro a extradição de Castaño e de Salvatore Mancuso, os maiores chefes das AUC, exército clandestino integrado por 10 mil combatentes.

Os paramilitares são grupos ilegais armados que combatem as guerrilhas de esquerda no conflito de 38 anos. A exemplo dos seus inimigos, os paramilitares são acusados de se financiarem com recursos do narcotráfico.

Em entrevista realizada no começo de setembro, Castaño disse que estava disposto a se entregar para a Justiça dos Estados Unidos para responder a acusações de narcotráfico. Ele ratificou a posição horas depois do pedido oficial de sua extradição.

Agora, o chefe paramilitar de 36 anos, ex-guia do Exército que teve o pai sequestrado e assassinado pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) quando era adolescente, admite que não está seguro do passo que dará no futuro imediato.

Troféu de Guerra
"Por um lado, sinto-me sem autoridade [para comandar as AUC], mas, por outro, a solicitação de extradição de Mancuso e a minha provocou uma união quase total. Além disso, da união saiu uma mudança real, o melhor seria iniciar um processo de negociação", disse Castaño.

O anúncio de entrega de Castaño aos Estados Unidos gerou rumores sobre um suposto acordo com Washington para o chefe paramilitar delatar narcotraficantes, rotas e localização de laboratórios, em troca de liberdade condicional e proteção para sua família.

Também gerou temores de que as AUC se dividissem em exércitos pequenos dedicados ao narcotráfico e às ordens de fazendeiros, o que poderia provocar aumento do conflito armado.

Castaño reconheceu que grande parte do seu dilema originou-se das declarações do presidente norte-americano, George W. Bush, que afirmou que o chefe paramilitar seria julgado como "terrorista".

"Daí nascem minhas dúvidas. Se vão me julgar por terrorismo, morrerei lá. Teria que esperar chegar a uma etapa em que o político permita ver o jurídico, e vice-versa. Em uma negociação final com as Farc deveria haver uma saída para todos", disse o líder paramilitar.

"Não posso terminar sendo um troféu de guerra", acrescentou, ao denunciar um suposto plano dos Estados Unidos e das Farc para tirá-lo do caminho, a fim de facilitar o início de uma negociação de paz entre a guerrilha e o governo colombiano.

As AUC, as Farc (com 17 mil homens) e o Exército de Libertação Nacional (ELN) estão na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado norte-americano.

Castaño reiterou que está disposto a iniciar uma negociação de paz com o governo colombiano se o Estado se comprometer e garantir presença militar, política e social em todas as regiões controladas por seus homens atualmente.

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