Reuters
14/10/2002 - 10h27

Londres volta a impor domínio direto sobre a Irlanda do Norte

da Reuters, em Hillsborough

O governo britânico suspendeu hoje o governo de coalizão da Irlanda do Norte, abalado por um escândalo de espionagem que provocou a pior crise na região desde o acordo de paz de 1998 entre protestantes e católicos.

Ao fazer o anúncio, o secretário do governo britânico para a Irlanda do Norte, John Reid, disse esperar que a medida temporária represente "um fôlego e uma chance no sentido de reunir força e reconquistar a confiança antes que o processo volte a avançar".

Ele disse que Londres mantém seu compromisso com os termos do Acordo da Sexta-Feira Santa, de 1998, e que as eleições parlamentares regionais de maio de 2003 estão mantidas.



É a quarta vez em três anos que o Reino Unido suspende o governo norte-irlandês, mas dessa vez tudo indica que o impasse vai durar mais tempo. Num cenário de bastante tensão política entre católicos e protestantes, a denúncia feita no mês passado de que a guerrilha IRA (Exército Republicano Irlandês, guerrilha católica) teria espionado funcionários do governo foi a gota d'água.

Um dos partidos protestantes [que defendem a manutenção do governo britânico] já deixou o Parlamento local, e outro ameaçava fazer isso até amanhã caso o partido republicano Sinn Fein, próximo ao IRA, não fosse expulso do governo de coalizão. Para evitar o rompimento, Londres preferiu intervir.

Com dois novos vice-ministros, o gabinete de Reid vai tomar conta diretamente dos assuntos cotidianos da administração da província, que tem 1,6 milhão de habitantes. Acostumados a três décadas de violência política, que deixou 3.600 mortos, os norte-irlandeses parecem resignados com a crise, mas não acreditam na volta ao período mais caótico.

"Estamos só levando nossas vidas normais", disse Jane Fizpatrick, enquanto levava seu cão para passear, em Belfast. "Os políticos vão brigar, suponho, mas não podemos voltar para trás." Outros moradores temem que a intervenção tenha efeitos sobre o funcionamento de serviços básicos, como educação e saúde.

A crise política trouxe o foco das atenções novamente para o IRA, guerrilha responsável por metade das mortes na guerra civil, mas que declarou uma trégua em 1997. Aparentemente referindo-se ao grupo, Reid disse que "chegou a hora de as pessoas escolherem entre a violência e a democracia".

Os republicanos negam as acusações de espionagem contra o IRA e acusam os protestantes de terem armado uma cilada política. Quatro pessoas foram judicialmente acusadas de espionar funcionários britânicos na Irlanda do Norte.

Após um período de "rescaldo", Reid e o primeiro-ministro Tony Blair precisarão recriar um mínimo de consenso antes de apresentar propostas concretas -um processo que pode facilmente levar um ano. Até agora, a suspensão mais longa havia sido de três meses.


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