Reuters
11/10/2002 - 09h16

Governistas e muçulmanos lideram eleição no Paquistão

da Reuters, em Islamabad

Um partido politicamente próximo ao presidente Pervez Musharraf liderava hoje os resultados eleitorais do Paquistão, mas os radicais islâmicos tiveram um surpreendente avanço. A eleição, realizada ontem, foi a primeira desde o golpe militar de 1999.

Os partidos religiosos conseguiram bons resultados, especialmente no noroeste do país, mais conservador, graças a seu discurso de oposição à ajuda oferecida por Musharraf aos Estados Unidos em sua "guerra ao terrorismo".

No resto do país, os primeiros resultados indicam a vitória da Liga Islâmica do Paquistão -Qaid-e-Azam, cuja sigla é PML(QA). Às 13h30 (5h30 em Brasília), com 117 das 342 vagas definidas, o PML(QA), simpático a Musharraf, havia eleito 36 deputados, 22 a mais do que o Partido do Povo do Paquistão, da ex-primeira-ministra Benazir Bhutto, que foi proibida de concorrer.



O religioso Mutahidda Majlis-e-Amal (MMA) conseguiu 32 cadeiras no Parlamento e pode ganhar na Província da Fronteira Noroeste. "É um resultado que ninguém esperava", disse Samina Ahmed, da entidade International Crisis Group.

O crescimento dos religiosos não é uma boa notícia para Musharraf. "O problema é que os partidos religiosos têm de satisfazer seus eleitores, agora que estão no Parlamento. Haverá mais confronto (do governo) com o Parlamento em questões de política exterior", disse Ahmed.

Um governo religioso na Província da Fronteira Noroeste, junto ao Afeganistão, também pode atrapalhar os planos militares norte-americanos no combate ao Taleban e à Al Qaeda.

"Isso é uma revolução", disse o vice-presidente do MMA, Qazi Hussein Ahmed, em Peshawar, a capital regional. "Não vamos aceitar as bases dos EUA nem a cultura ocidental."

Divisão
Musharraf, um general que tomou o poder em 1999, promete entregar o governo a um primeiro-ministro civil no começo de novembro, mas, graças a reformas constitucionais já realizadas, ele continuará tendo muita influência como presidente, inclusive com o poder de dissolver o Parlamento.

Ele já conseguiu institucionalizar o papel dos militares na política, criando um Conselho de Segurança Nacional, e proibiu que seus dois principais adversários, Benazir Bhutto e Nawaz Sharif, voltem a ocupar o poder algum dia.

Com o resultado, o PML(QA) deve conseguir formar uma coalizão pró-Musharraf, ainda que ela não necessariamente seja estável, segundo analistas.

Sete pessoas morreram e 50 ficaram feridas em incidentes relacionados à eleição, na quinta-feira. Observadores independentes se disseram satisfeitos com a lisura da votação, embora o PPP e o PML(QA) tenham trocado acusações de irregularidades.

 

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