Reuters
09/10/2002 - 09h49

Blair tenta salvar processo de paz da Irlanda do Norte

da Reuters, em Londres

O premiê britânico Tony Blair tem frenéticas 48 horas para tentar salvar o processo de paz da Irlanda do Norte, abalado por um escândalo de espionagem.

Blair estará conversando com os principais líderes católicos e protestantes hoje, após receber um ultimato do premiê local, David Trimble, para expulsar os ministros republicanos (católicos) do governo regional de coalizão ou deixar toda a arquitetura do plano de paz desabar.

Trimble, chefe do Partido Unionista do Ulster (protestante e monarquista), disse que renunciará se Blair não tomar alguma providência até o começo da semana que vem.



A crise, a mais grave desde o Acordo da Sexta-Feira Santa (1998), começou na última sexta-feira, quando a polícia invadiu um escritório parlamentar do partido republicano Sinn Fein, após receber denúncias de que o grupo havia infiltrado espiões nos escritórios locais do governo britânico.

A ação foi atribuída ao IRA (Exército Republicano Irlandês, guerrilha católica), antigo braço armado do Sinn Fein. Hoje, Trimble disse que a única solução seria "se livrar do exército privado" e desmantelar o IRA.

O Sinn Fein disse que a invasão policial de seus escritórios teve motivação política. As autoridades dizem que ela foi fruto de um ano de investigações. Um ex-contínuo do governo compareceu ontem a um tribunal de Belfast, acusado de possuir informações "que poderiam ser usadas por terroristas".

Para tentar resolver a situação, Blair se reúne hoje com o vice-premiê regional, Mark Durkan, do partido nacionalista moderado SDLP. Em seguida ele conversa com o premiê da República da Irlanda (no sul da ilha), Bertie Ahern. Os principais líderes republicanos, Gerry Adams e Martin McGuinness, embarcam na manhã de quinta-feira para Londres.

O secretário de Blair para a Irlanda do Norte, John Reid, disse que o Reino Unido tem várias opções a seguir. "Acho que seria bem razoável ouvir todas as opiniões antes de decidir", afirmou ele ontem,, ao deixar o gabinete de Blair.

Fotomontagem/ Folha Online
David Trimble (esq.), premiê da Irlanda do Norte, e Tony Blair, premiê do Reino Unido


Mas várias dessas alternativas são amargas. Blair, que investiu todo o seu capital político no acordo de 1998, não quer que Trimble renuncie nem que o Sinn Fein deixe o governo, temendo que isso enterre o processo de paz.

Sobram portanto duas alternativas: a convocação de eleições antecipadas, que pode resultar em um governo ainda mais polarizado, ou a suspensão da autonomia local, que passaria diretamente ao controle britânico.

Isso já aconteceu três vezes desde 1999, sempre por curtos períodos, para dar tempo a negociações entre os políticos norte-irlandeses. Mas desta vez os dois lados parecem divididos demais para conseguir um acordo.

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