Pensata

Kennedy Alencar

25/10/2002

Serra já sonha com 2006

O tucano José Serra já executa estratégia para disputar a Presidência de novo em 2006. Serra avalia que o governo Lula será de "frustração nacional" e que, marcando-se como anti-PT como tem feito na propaganda de TV, será o beneficiário da decepção e um nome forte para concorrer ao Planalto daqui a quatro anos.

A estratégia de Serra passou a ser posta em prática na semana passada no horário eleitoral gratuito. No último dia 15, uma terça-feira, ele teve reuniões com auxiliares mais próximos e com políticos aliados nas quais concluiu que dificilmente conseguiria virar o jogo.

No entanto, podia tentar pavimentar o caminho para uma nova candidatura adotando um tom mais duro na TV, na linha de quem faz o alerta de que virá uma catástrofe. "O Lula está na quarta candidatura. Eu estou apenas na primeira", disse Serra a um amigo.

É nesse contexto que deve ser entendido o pronunciamento de TV feito por ele nesta semana. Trata-se de uma aposta no futuro.

O tucano crê que se repetirá no Brasil o que aconteceu na Argentina: a oposição vence, não cumpre suas promessas, a população se desencanta, e o derrotado na eleição anterior chega ao poder.

Em 24 de outubro de 1999, o candidato da coalizão oposicionista, Fernando de La Rúa, foi eleito. Depois de adotar medidas tão ortodoxas quanto as da administração anterior, renunciou após enfrentar uma série de protestos, gerando uma crise política, econômica e social sem precedentes no país. Atualmente, o presidente é Eduardo Duhalde, justamente o candidato derrotado por De la Rúa em 1999.

Serra não chega ao ponto de achar que Lula renunciará, mas disse no pronunciamento que a eleição do petista pode se transformar no "maior estelionato eleitoral depois da eleição de Collor" e levar "o Brasil à ruína".

Esse tom duro tem o objetivo de deixar Serra usar um lema na linha: "Eu avisei". O tucano acredita que, se houver a frustração, as pesquisas eleitorais do final de 2003 e de 2004 o colocarão na liderança em termos de intenção de voto.

Guerra no PSDB
O projeto Serra-2006 esbarra, porém, no projeto de outras lideranças tucanas. Exemplos: Aécio Neves, governador eleito de Minas e presidente da Câmara; Tasso Jereissati, senador eleito e ex-governador do Ceará que perdeu a indicação para Serra; Geraldo Alckmin, caso o governador paulista se reeleja, e até mesmo o presidente Fernando Henrique Cardoso, que poderia aos 75 anos ser lembrado para um terceiro mandato.

Dos adversários tucanos de Serra, Aécio é o mais detestado. "Ele pagará por sua dubiedade", diz Serra em conversas reservadas, quando cita os elogios frequente de Aécio a Lula.

A derrota de Serra e de seu grupo deverá gerar um racha no PSDB. De um lado, os serristas buscando a oposição dura a Lula. De outro, Aécio, Tasso e o próprio FHC numa linha de ajudar no Congresso, sem participar do governo.

A eventual reeleição de Alckmin é tida como fundamental para a sobrevivência do tucanato paulista, especialmente do mais ligado a Serra. Alckmin, porém, tem boa relação com Aécio e pode ficar em cima do muro.

PS - Agradeço a todos leitores que enviaram suas críticas e elogios sobre a última coluna, na qual o assunto foi Regina Duarte. A correria da reta final das eleições impede que todos recebam respostas. Todas as mensagens, mais de 170, foram lidas e ajudam a refletir a respeito do difícil ofício de opinar.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

Leia as colunas anteriores

//-->

FolhaShop

Digite produto
ou marca