Pensata

Gilberto Dimenstein

15/10/2002

Serra quer mesmo debater?

O candidato José Serra quer mostrar que Lula tem medo de ir aos debates, acusando-o de despreparado para assumir a Presidência da República _ esse o principal ponto dos ataques de Serra contra o candidato do PT neste início de segundo turno.

Serra quer tirar o foco governo versus oposição para "preparado versus despreparado". A essa altura das eleições, Lula só perde se os eleitores acreditarem na idéia de que é preferível engolir um candidato do governo que representa a imagem de uma continuidade indesejável do que um candidato que simboliza a mudança desejável, mas não teria competência para operá-la.

Nessa estratégia (sintoma mais de desespero do que escolha entre várias alternativas), é melhor para Serra que Lula continue a bater o pé e recusar os debates. As rígidas regras dificultam que um candidato seja massacrado _ e, para perder mesmo, Lula teria de sair massacrado, desmoralizado.

Para os tucanos é mais eficaz manipular a recusa como sinal de suposta falta de coragem do debate. Seria uma espécie de derrota por ausência.
Talvez ( aliás, provavelmente) essa ofensiva não surta efeito no candidato Lula, mas pode machucar o presidente Lula. Os ataques de Serra vão reforçar a suspeitas, receios e preconceitos de que o candidato do PT ficaria nas mãos dos assessores.

Uma vez eleito, Lula vai passar por momentos difíceis, sem condições de realizar as promessas de mudança e vai depender de sua legitimidade na opinião pública para lidar com o Congresso e com as corporações.
Gilberto Dimenstein, 48, é membro do Conselho Editorial da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha. Escreve para a Folha Online às terças-feiras.

E-mail: palavradoleitor@uol.com.br

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