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26/11/2002 - 18h32

Governo da Nigéria diz que não permitirá execução de jornalista

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da Folha Online

O governo da Nigéria não permitirá que seja aplicada a pena de morte à jornalista que escreveu um artigo sobre o concurso de Miss Mundo considerado uma blasfêmia pelos muçulmanos, informou a "BBC News Africa".

O Estado de Zamfara, no norte da Nigéria, de maioria muçulmana, anunciou hoje um decreto religioso (fatwa) pedindo aos fiéis que matem a jornalista Isioma Daniel.

O ministro da Informação nigeriano Jerry Gana disse que o decreto é "nulo e inválido" e prometeu que não seria aplicado, disse a BBC.

"O governo federal, sob as leis da República Federal da Nigéria não permitirá tal ordem em nenhuma parte [do país], porque a República Federal é governada pelas regras da lei", disse Gana.

"A Constituição da República Federal é a lei suprema do Estado e as leis não prevêem que alguém que tenha feito o que [a jornalista do] "ThisDay" fez seja morto", disse ele.

Pena de morte
"O islamismo prevê a pena de morte contra qualquer pessoa, independentemente de sua fé, que insulte o profeta [...]. Consequentemente, o Estado aceitou esse veredicto que se aplica a Isioma. Essa é nossa posição", disse Umar Dangaladina, assessor de comunicação do Estado de Zamfara.

Daniel escreveu um artigo, publicado no dia 16 de novembro pelo jornal nigeriano "This Day", que sugeria que o profeta Maomé, fundador do islamismo, poderia se casar com uma das concorrentes ao título de Miss Mundo.

O artigo provocou na semana passada uma série de protestos em diversas partes da Nigéria, principalmente na cidade de Kaduna, no norte do país. Os confrontos deixaram mais de 200 mortos e levou os organizadores do concurso de beleza a transferir a final do Miss Mundo para Londres.

Daniel se viu obrigada a apresentar sua demissão depois dos primeiros distúrbios em Kaduna. Segundo um porta-voz do jornal, ela teve de sair com urgência da Nigéria. Há informações de que ela teria embarcado para os EUA.

O "This Day" pediu desculpas a seus leitores no dia seguinte à publicação do artigo e afirmou que um dos editores havia tentado retirar a frase considerada ofensiva antes da publicação do jornal, mas que por razões técnicas o parágrafo saiu impresso.

Segundo Dangaladima, "o governo do Estado de Zamfara não teve a iniciativa de emitir a fatwa. A decisão foi adotada depois de uma reunião entre o governo e 21 organizações islâmicas".

"Como Salman Rushdie"
Ontem à noite, durante discurso pronunciado ante chefes religiosos em Gusau, capital do Estado de Zamfara, e transmitido pela rádio nacional, o vice-governador Mamuda Aliyu Shinkafi declarou que, "como no caso de Salman Rushdie, o sangue de Isioma Daniel pode ser derramado". "É obrigatório para todos os muçulmanos, onde quer que se encontrem, considerar o assassinato da autora do artigo como um dever religioso", afirmou.

O escritor britânico de origem indiana Salman Rushdie tornou-se mundialmente conhecido em 1988, quando o então líder religioso do Irã, o aiatolá Ruhollah Khomeini, decretou uma fatwa (decreto religioso, no caso uma sentença de morte) contra ele.

Rushdie havia publicado o livro "Versos Satânicos", tido por Khomeini como uma blasfêmia contra o profeta Maomé. Desde a sentença, o escritor já teve 30 endereços diferentes.

Zamfara é o primeiro dos 12 Estados muçulmanos do norte da Nigéria a reintroduzir progressivamente a lei islâmica (charia) desde o retorno da democracia no país, em 1999, apesar da oposição do governo federal.

Com agências internacionais

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