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10/11/2002 - 10h22

Guerra total dá resultados, diz Colômbia

da Folha de S.Paulo

A imagem das estradas colombianas cheias de carros durante o feriado do fim de semana passado foi usada à exaustão pelo governo como prova de que sua política de guerra total contra os grupos armados começa a dar resultados. Essa política tem como base o estado de exceção decretado logo após a posse do presidente Álvaro Uribe, em agosto, e prorrogado por 90 dias anteontem.

Pela interpretação do governo, o aumento de mais de 9% no volume de tráfego em relação ao feriado anterior, em outubro, a ocupação de mais de 90% da capacidade hoteleira nos principais destinos turísticos do país e o aumento de 23,8% no movimento de passageiros nas rodoviárias significam que os colombianos começam a perder o medo de viajar.

De fato, no fim de semana passado, assim como no feriado anterior, não houve registro de nenhum dos graves incidentes com os quais muitos viajantes costumavam se deparar havia anos: bloqueios feitos por grupos armados ilegais, sequestros, carros-bomba atravessados na pista.

Para o governo, isso aconteceu por conta do aumento do efetivo militar de proteção das estradas, a realização de comboios para proteger os turistas e ações preventivas contra guerrilhas de esquerda e paramilitares de direita, que antes marcavam presença constante nas rodovias de todo o país.

O aumento na segurança das estradas veio acompanhado, ainda segundo o governo, de um aumento nas prisões e mortes de guerrilheiros. Os sequestros, fonte de recursos para os grupos armados ilegais e um dos maiores flagelos do país, também estão em queda. Segundo a Fundação País Livre, organização não-governamental de apoio a sequestrados e familiares, em setembro aconteceram no país 172 sequestros, o menor número mensal desde fevereiro de 1998.

Mas a aparente melhora é vista com ceticismo por vários analistas, para os quais ela faria parte da estratégia adotada pelos grupos armados após a posse de Uribe.

Em sua coluna no jornal "El Tiempo", na semana passada, o ex-vice-presidente Carlos Lemos Simmonds levantou a hipótese de que a guerrilha possa estar "preparando uma guerra urbana cruel e prolongada ao estilo de Pablo Escobar". A referência citada por Lemos é a guerra contra o Estado declarada nos anos 80 por Escobar, chefe do cartel de Medellín, para pressionar contra a extradição de narcotraficantes colombianos aos EUA.

Para Otty Patiño, ex-líder do grupo guerrilheiro M-19 que hoje dirige a organização Observatório para a Paz, a redução na atividade da guerrilha pode ser proposital. "As Farc [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, principal grupo guerrilheiro do país] estão escondidas, só observando a movimentação do governo e se preparando para agir", diz.

A pressa em mostrar serviço já provocou pelo menos um revés para a imagem do governo. No mês passado, o jornal "El Tiempo", o principal do país, publicou uma reportagem na qual relacionava uma série de feitos contra os grupos armados ilegais divulgados pelas Forças Armadas e que acabaram não se confirmando.

Para o analista político Alfredo Rangel, ex-consultor do Ministério da Defesa, a divulgação de ações contra a guerrilha que depois foram contestadas é resultado de uma competição dentro das Forças Armadas para apresentar resultados e cumprir as exigências do próprio governo.

"O apoio da população à política de segurança pública do governo continua alto, por volta dos 80%, mas a divulgação de ações não comprovadas depois pode debilitar esse apoio nos prazos médio e longo", disse.

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